O arroz das cooperativas é diferente

 O arroz das cooperativas é diferente

Processando e comercializando mais de 4,5 milhões de sacos de arroz por ano, a Cooperja, de Jacinto Machado, Santa Catarina, é a maior cooperativa arrozeira do país, congregando mais de dois mil produtores, 900 colaboradores, seis marcas e atuando em diversos agroindustriais, de logística e varejo.

Contabilista e administrador de cooperativas, Vanir Zanatta, 59 anos, é diretor-presidente da Cooperja desde 1990, há 33 anos, e entrevistado desta edição. Fala aqui sobre a realidade do setor e do cooperativismo.

Planeta Arroz – Como a Cooperja tornou-se a maior cooperativa de arroz do Brasil?
Zanatta – “A Cooperja nasceu em 30 de agosto de 1969 por meio de um grupo de 117 agricultores reunidos pelo agrônomo Joaquim Pedro Coelho. Gaúcho, trabalhava em Jacinto Machado pela empresa de extensão que originou a Epagri. Organizados em comissões, os agricultores adquiriram terreno, construíram pavilhão, compraram máquinas e equipamentos e contrataram colaboradores para receberem arroz no ano seguinte. Em seguida, veio o beneficiamento”.

Planeta Arroz – Mas Joaquim faleceu logo depois…
Zanatta – “Sim, infelizmente. Os fundadores não deixaram a ideia sucumbir, tiveram momentos bons, outros não tão favoráveis”.

Planeta Arroz – Como se tornou presidente aos 25 anos?
Zanatta – “Quando cheguei na presidência, havia 200 associados, recebíamos 104 mil sacos de arroz e 20 mil de milho. Havia duas lojas. Me apresentava aos associados, agricultores e entidades. A maioria só sabia ser eu filho de sócio-fundador. Foram muitas reuniões comunitárias. Aprendemos com outras cooperativas e a Ocesc. Fazíamos tudo, todos na cooperativa eram multitarefas. Foi época de conhecimento, desafios e conquistas. Com apoio do associado, a credibilidade aumentou, e, também, o depósito de grãos e venda de insumos”.

Planeta Arroz – Ela cresceu…
Zanatta – “Quando surgiu o plantio de maracujá, a Cooperja foi regionalizada e criamos os supermercados, a produção de sementes de arroz, o combustível, a fábrica de ração. Com isso, conseguimos uma economia circular em torno do associado. Ele encontra o que precisa para a propriedade, e a Cooperja comercializa quase tudo o que ele produz”.

Planeta Arroz – E os investimentos não paravam…
Zanatta – “No Rio Grande do Sul, buscamos escala e acompanhamos o associado que foi plantar lá. Pernambuco, questões tributárias, Bahia, pela comercialização, e o leque de filiais e produtos aumentou, diversificou. Chegaram mais associados, envolvemos a família na cooperativa, trabalhamos forte o lado social. O resultado é confiança, segurança, representatividade e crescimento. Fizemos grandes parcerias, nos associamos à Fecoagro (SC), Fearroz (RS), Abiarroz. A cooperação faz a diferença, juntos somos mais fortes”.

Planeta Arroz – Qual o tamanho da Cooperja?
Zanatta – “Temos 42 filiais entre indústrias, lojas agropecuárias, supermercados, postos de combustíveis, rações, hortifrútis, UBS, CDs. Recebemos, industrializamos e comercializamos média de 4,5 milhões de sacos de arroz, mais de 550 mil sacos de soja e milho, maracujá, pitaia, amora, brócolis, moranga. Temos indústria de arroz parboilizado e branco em Jacinto Machado (SC) e Santo Antônio da Patrulha (RS), de arroz branco em Miranda do Norte (MA) e a unidade em Arcoverde (PE)”.

Planeta Arroz – Como está o plano de expansão da empresa?
Zanatta – “Desacelerado, conjunturas brasileiras e mundiais nos levam a aguardar, deixar o equilíbrio de atos e ações de nossos representantes voltar à normalidade. Temos um plano estratégico e buscaremos atingi-lo”.

Planeta Arroz – Quais, hoje, os gargalos do sistema cooperativo?
Zanatta – “O cooperativismo evoluiu com o Sescoop, nosso sistema ‘S’, e iniciou a capacitação de associados, dirigentes e colaboradores. Com isso, desenvolvemos. Vejo a cooperação como uma forma de crescimento dos agricultores, das indústrias e do comércio. Precisamos dialogar, concorrentes ou não. Pensando juntos, avançaremos”.

Planeta Arroz – E desafio?
Zanatta – “Preparar a nova geração, fazer sucessores, modificar, se necessário, a cooperativa, voltar-se à moderna agricultura, quebrar tabus, pensar além do cotidiano”.

Planeta Arroz – Quais os gargalos de uma cooperativa arrozeira?
Zanatta – “Há quem veja as cooperativas como barateiras de preço, na matéria-prima e no beneficiado, mas não é verdade. Não há o que nos diferencie de uma indústria qualquer em tributos, taxas e exigências do trabalho seguro. Além disso, nosso associado quer o melhor preço na venda do arroz, na compra de insumos e espera resultado positivo ao final do exercício. Os dirigentes equilibram esses fundamentos, o que não está fácil. Sofremos pressões de fornecedores e clientes feito qualquer indústria. E temos que dar resultado”.

Planeta Arroz – E exportações?
Zanatta – “No Brasil, somos exportadores de oportunidade, não conseguimos ainda fazer do exterior um cliente fixo. Dependemos de câmbio, custos de produção, valorização no mercado interno, razões para esse vai e volta nas exportações”.

Planeta Arroz – Potencialidades e o papel do cooperativismo do arroz?
Zanatta – “Cooperativas são vistas, em especial pelos agricultores, como parâmetro ao negociar nas demais indústrias. É preciso ficar claro que, para nós, o arroz é diferente. O relacionamento social, cultural e econômico com as famílias e as comunidades é forte. Temos compromissos diretos com o progresso do associado e da comunidade, o 7º princípio do cooperativismo. Capacitamos associados e colaboradores, investimos em campos demonstrativos para apresentar o que há de melhor em tecnologias, equipamentos, variedades de culturas, enfim, mostramos na prática as possibilidades. E atuamos diretamente nas obras sociais”.

Planeta Arroz – Como a carga tributária impacta as cooperativas?
Zanatta – “Com carga tributária acima de 40% sobre o que produz, toda empresa sofre. Sofre o agricultor, que recebe menos pela matéria-prima, e o cliente, ao pagar mais, em boa parte, pela carga tributária. Os governos precisam diminuir o tamanho, usar tecnologia, menos burocracias, aumentar a produtividade e esquecer a politicagem. Assim podemos pensar em menos impostos”.

Planeta Arroz – O que difere arrozeiro cooperado e não cooperado?
Zanatta – “Os associados contam com profissionais a campo, temos equipe de técnicos consultores, agrônomos e veterinários que orientam e ajudam por maior rentabilidade em suas propriedades. Garantia na armazenagem e comercialização de seu produto, não se desconta secagem, ajuda no frete, cashback a insumos mediante depósito, informação segura de mercado, participação em decisões e resultados. Há vantagens”.

Planeta Arroz – Cooperativa oferece algo além de outros segmentos?
Zanatta – “Garantimos armazenagem e comercialização dos produtos e dividimos os resultados. Pagamos preços justos. Comercializamos apenas produtos de qualidade garantida e empresas confiáveis. A cooperativa apresenta resultados, números, informações publicamente. A decisão é conjunta, quando e como investir, e a direção pede autorização. São produtores cuidando de produtores”.

Planeta Arroz – Quais os planos?
Zanatta – “Crescer com segurança, atender a todos da melhor forma. Temos planejamento a seguir, submetido e revisado pelos associados e assembleia. Vamos avançar. Quem estaciona, fica para trás”.

Planeta Arroz – Como está o projeto RiceBrazil?
Zanatta – “O projeto tornou mais próximas as cinco coirmãs, houve evolução, não na dimensão que queríamos. Conversamos mensalmente, compramos embalagens juntos, o que traz economia, vendemos um volume de arroz Coração Brasileiro e o objetivo segue sendo buscado”.

Planeta Arroz – Qual a expectativa para o mercado do arroz?
Zanatta – “Pelas informações de estoque bem ajustado, produção nacional abaixo da média, mercados mundiais dificultando a exportação, a expectativa é o aumento nos preços do grão até a próxima colheita. Para a próxima safra, precisamos esperar o plantio. Uma coisa boa que podemos comemorar são os custos de produção, que voltaram aos níveis anteriores à safra 2022/23”.

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