A integração lavoura–pecuária na “carona” do avanço da soja nas terras baixas
O cultivo de soja em rotação com o arroz irrigado é uma realidade consolidada no Rio Grande do Sul devido ao domínio cada vez maior, pelos produtores rurais, das melhores práticas de manejo dessa oleaginosa no ambiente de terras baixas. Nesse contexto, a inserção da soja no sistema de produção, e todos os ajustes de infraestrutura e melhorias do solo que essa rotação traz consigo, tem beneficiado também uma expansão significativa da integração lavoura-pçecuária (ILP) em toda a metade sul gaúcha.
Esse crescimento resulta da percepção pelo produtor de que a melhor gestão da água no terreno, no que tange ao dimensionamento de macro e microdrenagem das áreas, assim como a calagem e a fertilização fosfatada mais generosa para o cultivo da soja, favorecem a implantação e a maior produtividade de pastagens de inverno.
Afora as excepcionais vantagens no controle de plantas daninhas, diversificação de renda e estabilidade do negócio pela adoção da ILP, ocorrem também melhorias importantes da fertilidade do solo. E isso é consequência do baixo acúmulo de
nutrientes na carcaça dos animais, sendo que boa parte do que é ingerido volta ao solo na forma de urina e fezes. Essa mínima exportação de nutrientes faz com que, a partir do uso de pastagens bem adubadas, rapidamente se aumente a fertilidade química do solo, garantindo-se altos teores de nutrientes disponíveis, alavancando a produtividade dos cultivos agrícolas cultivados em sequência.
NOVAS (OU NEM TANTO) PRÁTICAS DE MANEJO PARA INTENSIFICAR A PRODUÇÃO DE CARNE E GRÃOS EM ILP
Para os produtores avançados na prática da ILP, esses conceitos estão consolidados. E os desafios passam a ser outros, como, por exemplo, o máximo aproveitamento da fase pastoril, sem prejuízo das produtividades de grãos cultivados em sequência. Normalmente, a dessecação das pastagens é feita entre 30 e 60 dias antes da semeadura de arroz e soja, em uma época que coincide com o maior potencial dos pastos, que pode resultar facilmente na produção de 3 kg/ha/dia de peso vivo (figura 1).
Para não desperdiçar essa oportunidade de renda, produtores têm partido para o sistema planta-desseca, retirando os animais das áreas poucos dias antes (ou até após) a semeadura da lavoura (figura 2). É o caso, por exemplo, da propriedade La Botella Agropecuária, de Santa Vitória do Palmar, dedicada ao cultivo de arroz e soja e cria de gado angus.
A prática desses conceitos de intensificação sustentável na propriedade resultaram não apenas na melhoria dos índices zootécnicos da pecuária, mas, também, em incrementos médios da produtividade de arroz e soja de 6% e 32%, respectivamente, nos últimos três anos.
Em um ano de El Niño, a presença de pastagens pode atrasar a semeadura da lavoura?
Trata-se de mais um paradigma que normalmente vem associado a práticas equivocadas de manejo. Desde que conduzida em uma altura próxima de 15 cm ao longo de todo o ciclo pastoril, a pastagem interferirá muito pouco sobre a plantabilidade da área. Além disso, a consolidação da ILP e do plantio direto ao longo do tempo melhora consideravelmente a estrutura física do solo, o que se traduz em maior condutividade hidráulica, em anos excessivamente chuvosos, e maior retenção de água, em anos de estiagem.
Esses temas serão amplamente abordados no dia de campo de verão da Integrar – Gestão e Inovação Agropecuária, que será realizado em Capivari do Sul, no dia 27 de fevereiro de 2024.
ENG. AGR. DR. FELIPE DE CAMPOS CARMONA
PESQUISADOR, INTEGRAR – GESTÃO E INOVAÇÃO
AGROPECUÁRIA
WWW.INTEGRARCAMPO.COM.BR