A raiz do problema
O ambiente radicular
define o futuro da
soja em terras de arroz.
O cultivo de soja em terras baixas é uma realidade nas áreas arrozeiras gaúchas e uma das poucas alternativas que se mostram eficientes para controlar pragas e plantas daninhas, quebrar ciclos de doenças, melhorar condições químicas e físicas do solo e, com boas produtividades, agregar renda à propriedade orizícola ao ampliar o portfólio de produtos e comercialização. Além disso, em áreas que alcançam sucesso no sistema de rotação, ao retornar com o arroz, os produtores têm alcançado médias produtivas em torno de 10% superiores ao histórico anterior à soja, ou seja de 700 a 800 quilos a mais por hectare.
A missão de manejar um novo cultivo, e num ambiente adverso, não é das mais fáceis e os arrozeiros estão aprendendo isso, muitas vezes, da pior forma possível: com perdas no novo – e alto – investimento e sem agregar os fatores positivos da rotação por falhas no manejo que afetam não só a produtividade, mas também permitem o escape de invasoras e o aumento do banco de sementes. Mas o grande limitante da inclusão da soja em terras arrozeiras, até o momento, tem sido o estresse hídrico, por falta ou excesso, mas principalmente por excesso.
Há quase 15 anos, o professor Enio Marchesan, doutor em fitotecnia e coordenador do grupo de pesquisas em arroz irrigado da Universidade Federal de Santa Maria (Gpai/UFSM), começou a pesquisar o manejo da soja em ambiente de terras baixas e acompanhar o desenvolvimento das lavouras. Ele formou parceria com produtores e instituições de pesquisas e reuniu experiências que o tornaram uma das grandes referências no assunto no Rio Grande do Sul.
Em 26 de janeiro, Marchesan e equipe, numa parceria da UFSM com a Coordenadoria Regional do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) na Região Central gaúcha, realizaram um dia de campo para 1.200 produtores, técnicos e estudantes. No evento, as mais importantes conclusões destes 15 anos de estudos sobre o melhor manejo para obter maior produtividade na sojicultura em várzea foram reveladas.
A principal conclusão, até o momento, é de que por até 70% do ciclo as plantas de soja estão sob estresse e seu maior limitante é a água, por excesso ou falta. Em geral, pouco abaixo de uma primeira camada de solo fértil, que pode variar de 10 a 25 centímetros dependendo da região, há outra compactada que impede o desenvolvimento de raízes e a penetração dos nutrientes, eleva o lençol freático e impede a chegada de oxigênio e o escoamento da água do ambiente radicular. Por ser rasa, a camada fértil também pode ser afetada por uma estiagem de 10 dias a duas semanas, mas em geral o manejo de irrigação é muito eficiente em áreas arrozeiras. “Com dois terços da vida produtiva sob estresse, a soja não vai produzir mais que 30 a 40 sacas por hectare. E isso pode não pagar a conta da lavoura”, assegura.