A salvação da lavoura
Autoria: Cleiton Evandro dos Santos – Jornalista especializado em Agronegócios.
Num cenário perfeito, os arrozeiros deveriam estar comercializando a safra passada, com renda, neste final de inverno. Custeio contratado, solo preparado e equipes e máquinas prontas, programadas para o plantio. Mas, neste final de inverno a vida real está longe da perfeição. Quase 80% dos agricultores já venderam o que colheram. Perto de 40% não têm acesso ao crédito oficial.
Outros 30%, pelo menos, tentam reunir cargas de documentos para convencerem aos bancos de que perderam parte ou toda a safra, precisam parcelar as dívidas no máximo de tempo possível e dependem de mais crédito para voltarem a plantar. Num volume nunca antes visto, o custeio “paralelo” de indústrias e fornecedores, com o dobro e até o triplo do custo do financiamento oficial, será a salvação da lavoura. Literalmente. Não é um favor, é um negócio, mas, observe que indústria e os fornecedores já estão colecionando CPRs das safras passadas.
O esforço das lideranças e do governo pelo alongamento dos vencimentos de acordo com o Manual de Crédito Rural – em cinco parcelas – foi perdido entre risos afáveis, penduricalhos e burocracias nos corredores dos bancos.
Talvez para validar o que disse o produtor Gilberto Scopel de Morais em audiência pública do Congresso Nacional na Fenarroz, em maio, em Cachoeira do Sul, minutos antes do ministro Blairo Maggi entrar no ginásio: “os funcionários dos bancos são nossos amigos, mas o dono não é! Os políticos que são nossos amigos têm boa vontade, mas não mandam nada”. Até prova em contrário, está coberto de razão.
O crédito contratado entre março e julho caiu 25% em valores nominais, comparativamente a 2014 (em 2015 não teve pré-custeio, o que gera uma ‘sensação’ de aumento). Atualizados os valores, a queda é de 40%. E isso refletirá na safra. Em quantidade e em qualidade!
Que Deus nos proteja!
2 Comentários
Perfeito. É bem isso. Sem retoque. Haverá grande redução de área por falta de custeio e crédito.
É isso aí amigo Cleiton, falastes a verdade, os acessos aos créditos oficiais são testemunhas do que nós estamos alertando e ainda tem analista, que não conhece o campo, falando em aumento de área, ainda faltou salientar, que quem ainda tem crédito para financiar não consegue por falta de uma tal ”licença ambiental” (rampa de lavagem, rampa para abastecer pulverizador, depósitos de veneno e etc, etc, etc…), mesmo diante de tantos problemas pendentes tratam isso como a solução da lavoura arrozeira, isso me indigna pois quando vou pra cidade em quase todas esquinas vejo uma lavagem de carro a céu aberto, sem uma rampa, sem um decantador, com os dejetos correndo rua a fora rumo as mananciais, como isso pode??? Neste mesmo dia Scopel de Moraes também disse que está na hora de o produtor se unir e parar de plantar, para colocar fogo no ”rabo” dos políticos, porque daí vai deixar de existir o alimento nobre, o arroz, mas pelo que vejo isto se dará ao natural porque não terá 8 mil reais para fazer produzir arroz a cada um hectare. Está na hora das nossas lideranças representativas ”acordarem”, governo do estado (Secretária de Agricultura) porque no estado são 140 municípios que tem seu pilar econômico sustentado no arroz (os 8000 reais gastos por hectare são gastos no município, gerando renda para todo segmento do agronegócio), se os arrozeiros não tiverem um olhar especial e imediato do governo, vai ser um caos muito grande no RS, principalmente na metade Sul, e no futuro toda população pagará por essa falta de política agrícola que vem se ”arrastando” a anos.