A terra que mais dá arroz

 A terra que mais dá arroz

Clóvis Giuliani, de Agudo, é exemplo de produtividade na Quarta Colônia

A realidade orizícola da região central do Rio Grande do Sul

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A zona de concentração de pequenos municípios da Depressão Central do Rio Grande do Sul, conhecida por razões históricas como Quarta Colônia, é a região de maior produtividade regional e nacional de arroz. Os municípios de Agudo e Dona Francisca lideram a disputa principal pela maior produção de grãos por hectare, uma competitividade que inclui os demais municípios, levando a região a bater ano a ano recordes de produtividade.

O engenheiro agrônomo do Irga na região, Roberto Bento da Silva, tem uma tese para explicar o desempenho positivo crescente. Trata-se de um conjunto de fatores: as lavouras são pequenas, a mão-de-obra é, quase sempre, familiar, os produtores dominam com perfeição alguns sistemas de cultivo e a lavoura de arroz faz parte da vida e da bagagem cultural dos produtores. O solo, a abundância em água, a qualidade das sementes empregadas, obediência às recomendações da pesquisa e a alta tecnologia aplicada também são pontos básicos para fazer da região uma recordista em produtividade. 

Um dos exemplos é a lavoura do produtor Clóvis Giuliani. Ele planta 52 hectares pelo sistema de plantio convencional (em linha), em área sistematizada, repete a área há 15 anos e obteve 9,1 mil quilos de produtividade média por hectare na última safra. "Em 15 anos que eu planto nesta área nunca baixamos da média de 7,5 mil kg/ha", afirma Giuliani com orgulho.

Com a cultivar BR Irga 414, Giuliani alcançou uma produtividade de 10,5 mil kg/ha. Com o Irga 417 chegou a 9,5 mil kg/ha e com uma variedade Epagri, de ciclo mais longo, alcançou 11,35 mil kg/ha. "Claro que em algumas áreas a gente produz abaixo disso por problemas com invasoras, pragas e até de manejo, mas, mesmo assim, a média acima de nove mil quilos é muito boa", explicou o produtor. O lucro médio dos últimos anos na lavoura do Cerro Chato é de R$ 1 mil por hectare.

A estrutura de Giuliani é invejável. A propriedade é tocada com mais dois funcionários. Sazonalmente são contratados mais quatro diaristas. A propriedade tem armazém e secador próprio e a mão-de-obra no secador é trocada por produto com dois vizinhos. Giuliani tem certeza de estar no rumo certo. Nos últimos 15 anos ele passou de proprietário de uma área de 5,5 hectares para uma área de 46 hectares. Além disso, arrenda mais sete hectares para as lavouras que estão divididas em duas áreas: uma de 34 hectares e outra de 18.

Os campeões

Agudo e Dona Francisca são municípios que ficam na região colonial da Depressão Central gaúcha e se destacam pelos altos índices de produtividade de suas lavouras.

Produtividade média da microrregião – 6,5 mil quilos por hectare
Média regional em anos de colheita cheia – 5,6 mil kg/ha
Média gaúcha – 5,3 mil kg/ha

 

O grito do produtor

Custeio não é problema, hoje, para Clóvis Giuliani. Tem crédito em Agudo e banca, do próprio bolso, 34 dos 52 hectares de lavoura. Os 18 hectares restantes são financiados pelo Banco Sicredi (Cooperativa de Crédito). Esta situação, no entanto, foi forçada porque Giuliani se rebelou contra os "acessórios" que o Banco do Brasil lhe impôs para seguir lhe financiando.

"Além dos 8,75% previstos para o contrato eu teria que fazer um monte de seguros, Brasilprev, poupança-ouro e outros penduricalhos que elevariam o custo para algo entre 15% e 18% e não aceitei as condições. Com isso, não tive a liberação da parcela de custeio e resolvi fazer um esforço e custear parte da lavoura e mudar de banco. Me sinto melhor, agora", explicou. Giuliani frisou que, se fosse financiar sua lavoura pelo Banco do Brasil de Agudo, levaria apenas 82% a 85% do valor contratado.

Falou & disse 

"Nesta região o pessoal olha para a produtividade e não economiza nas práticas que lhes dão resultado. Às vezes o custo é um pouco maior do que em outras áreas, mas o resultado compensa"

Roberto Bento da Silva, engenheiro agrônomo do Irga em Agudo

 

Pequena lavoura também sofre

Nem só de bons resultados vive a lavoura de Clóvis Giuliani. Exímio conhecedor do sistema de cultivo convencional, o produtor resolveu adotar a técnica de plantio e cultivo de arroz pré-germinado na safra 97/98. O El Niño acabou provocando três enchentes no Rio Jacuí que deixaram boa parte de sua lavoura embaixo d’água. "Perdi todo aquele trabalho", lembrou Giuliani. "A água esteve a 20 centímetros de entrar no meu armazém e tapou toda esta várzea", acrescentou.

Além disso, Giuliani não obedeceu a algumas regras básicas do manejo, como a inundação por 20 dias da área a ser plantada, como forma de eliminar o oxigênio do solo e evitar o surgimento de invasoras. "Os vizinhos estavam plantando, aproveitando os poucos dias bons, e eu, atrasado. Aí comecei a plantar também", recorda. O produtor enfatiza que o maior problema, no entanto, foi não dominar o sistema. "A gente precisa formar uma lavoura bem pequena e ir, aos poucos, descobrindo como funciona o novo sistema. Formar uma lavoura maior, às vezes dá errado exatamente porque não dominamos o novo sistema", revelou. Com esta frustração, Clóvis Giuliani resolveu voltar para o sistema de plantio convencional em linha, em área sistematizada, que ele "conhece de cor e salteado".

 

O artesanato do arroz

O segredo da produtividade de Agudo e Dona Francisca é a própria característica do povo da região. Segundo o engenheiro agrônomo do Irga em Agudo, Roberto Bento da Silva, os descendentes dos imigrantes alemães impuseram um ritmo que hoje é seguido por todos os produtores destes municípios, "um enorme capricho em lavouras pequenas, com acompanhamento quase artesanal, dia a dia, que permite um resultado mais eficiente nas práticas".

"O domínio da tecnologia é uma questão cultural. O produtor nasce convivendo com a lavoura de arroz à beira da casa, no pátio e sabendo que o seu sustento vem da prática. Desde criança começa a acompanhar até chegar ao ponto de conhecer, quase que pelo nome, cada pé de arroz da lavoura", completa o agrônomo. Mas há mais fatores:

1. A maior parte dos produtores destas áreas planta suas próprias sementes ou compra na cooperativa com conhecimento da origem.

2. Há um alto nível de aplicação de tecnologia e tecnificação. Quando há problemas, vão atrás do Irga e na estação experimental ver o que há de solução.

3. O pequeno se obriga a produzir bastante para não ser excluído, pois movimenta volumes menores.

4. As características do solo, a abundância em água para irrigação e a estrutura fundiária, além da cultura, ajudam muito.

Algo mais

A catação manual do arroz vermelho é uma característica da região colonial (com predominância alemã e italiana) da Depressão Central. Os Giuliani também fazem esta catação para reduzir o efeito das invasoras e diminuir o banco de sementes de arroz vermelho na área. "A situação, no entanto, está ficando mais difícil, pois o vermelho está adotando, pelo cruzamento, características do agulhinha e, a olho, não se consegue mais distinguir".

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