A volta do El Niño

 A volta do El Niño

Enchentes: excesso de chuvas pode prejudicar a lavoura do Sul

Fenômeno é sinal de baixa produtividade.

Historicamente, o fenômeno climático El Niño, que provoca um verão mais chuvoso no centro-sul do Brasil, está associado à redução na produtividade e produção de arroz do Rio Grande do Sul. Seu retorno, anunciado para a safra 2006/2007 como de intensidade moderada, no entanto, está sendo comemorado pelo setor produtivo durante o período de plantio.

A razão do entusiasmo são as chuvas acima da média que promovem a recuperação parcial dos mananciais hídricos, afetados por três anos de estiagem. O fenômeno está permitindo ampliar a intenção inicial de plantio no Rio Grande do Sul, que previa em setembro redução de até 20% sobre a safra 2005/2006, mas que deve ficar entre 950 mil hectares e um milhão de hectares, dependendo da fonte da estimativa. Na safra passada, segundo a Conab, foram colhidos 1,018 milhão de hectares.

As chuvas recuperaram significativamente o volume de água nas barragens da fronteira-oeste e da campanha gaúcha, regiões de acentuado déficit hídrico. Em função do clima, o Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga) nem faz questão de dar números finais ao levantamento de intenção de plantio. “A cada chuva, a intenção aumenta alguns milhares de hectare”, reconhece o presidente Maurício Fischer. Em dezembro, por exemplo, o Conselho Permanente de Agrometeorologia do Rio Grande do Sul indica ocorrência de chuvas acima da média histórica no estado.

Se no plantio o El Niño tem ajudado, no futuro poderá trazer problemas para a lavoura. Estudo publicado por cientistas gaúchos indica que o fenômeno está diretamente ligado às mais baixas produtividades e produções da safra de arroz do Rio Grande do Sul.

A principal causa, segundo o agrônomo Luciano Carmona, é a falta de luminosidade nas lavouras. A radiação solar é muito importante para o desenvolvimento da planta de arroz, principalmente na hora do enchimento do grão. O rendimento é seriamente afetado pela falta de sol. O céu nublado atrapalha o desenvolvimento e, associado ao calor (mormaço), favorece o surgimento de doenças fúngicas, como a brusone. O excesso de chuva na hora da colheita traz graves prejuízos à qualidade e ao volume de grãos.

Moacir Berlato, o outro autor do estudo “El Niño e La Niña e o rendimento de arroz irrigado no estado do Rio Grande do Sul”, lembra que em períodos de El Niño há menor número de dias com temperaturas mínimas prejudiciais ao arroz (menos de 15 graus centígrados) nos meses de janeiro e fevereiro do que em anos normais. Ou seja, o risco de aborto da flor com o “frio do Carnaval” é um pouco menor. As últimas incidências do fenômeno climático representaram perda média de rendimento acima de 7%, o que significaria cerca de 460 mil toneladas, levando em conta os volumes da safra passada.

 

Plantio minimiza os efeitos

O coordenador do Projeto 10/ RS, do Instituto Rio-grandense do Arroz, Valmir Gaedke Menezes, destaca que apesar de um histórico de efeitos negativos do El Niño na lavoura gaúcha, nesta safra há um diferencial: “A adoção em larga escala das tecnologias para alta produtividade e o plantio de uma área recorde de lavoura no período mais indicado tendem a minimizar esse efeito”, explica. Segundo Menezes, mais de 600 mil hectares da lavoura gaúcha foram plantados até 10 de novembro, dentro do período recomendado pelos pesquisadores. “E até o dia 15 de novembro a radiação solar mantém-se muito boa, favorecendo a alta qualidade de implantação das lavouras”, frisou.

MATO GROSSO – O fenômeno El Niño pode colaborar com o desenvolvimento da lavoura no Mato Grosso e no Centro-oeste brasileiro, mas afetar bastante a qualidade de grãos pelo excesso de chuvas na hora da colheita, a partir de janeiro. A produção de arroz de terras altas nos estados amazônicos, no entanto, pode ser mais gravemente afetada. O fenômeno climático causa veranicos prolongados e afeta drasticamente a produção.

 

Como ocorre o fenômeno

O El Niño tem como característica o aquecimento anormal das águas do Pacífico Equatorial. Seus impactos afetam a atmosfera globalmente. No Brasil, provoca seca no Nordeste e Norte (leste da Amazônia) e chuvas excessivas no Sul. Dura, em média, um ano. Quando acontece, os ventos quentes alísios que sopram sobre o oceano diminuem de intensidade e trazem as águas quentes do continente australiano para o litoral da América do Sul. As chuvas que caíam perto da costa se deslocam para o interior do Peru e Amazônia.

O ar quente carregado de vapor d’água provoca a formação de nuvens de chuva, que são uma barreira para as massas de ar frio provenientes da Antártida. Assim, as frentes frias ficam estacionadas no sul do continente, provocando chuvas intensas.

O fenômeno costuma se manifestar em intervalos de três a sete anos, mas suas causas ainda são desconhecidas. O último episódio de El Niño aconteceu em 2001 e 2002, mas com intensidade fraca. Em 1997/1998 o mundo sofreu um dos piores efeitos do El Niño. Naquela época, a região Nordeste viveu uma das mais prolongadas secas de sua história e o Sul enfrentou grandes quebras produtivas e enchentes.

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