A zona sul no topo
Há razões de sobra para a zona sul receber a 29ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz. A região tem a maior produtividade média do Rio Grande do Sul, melhores cotações, o maior parque industrial das Américas, um porto marítimo que concentra mais de 95% das exportações brasileiras, um grande centro de pesquisas, uma faculdade de Agronomia tradicional no setor e realiza a cada dois anos a Expoarroz, feira de negócios voltada à indústria e à exportação. Além disso, existe uma Subestação Experimental do Arroz do Irga em Santa Vitória do Palmar com importante papel no melhoramento de cultivares adaptadas à oscilação de temperaturas e ao frio.
A zona sul se tornou um caso de sucesso na orizicultura que os produtores das demais regiões querem conhecer de perto, mas nem sempre foi assim. Até o início dos anos 2000, apesar da história orizícola, a região onde estão Pelotas, Rio Grande, Santa Vitória do Palmar, Arroio Grande, Capão do Leão e Jaguarão constava com uma das mais baixas produtividades do estado, com histórico de perdas, preços baixos e atraso no plantio. Em uma década a região se transformou e tornou-se referência de qualidade, produtividade e preços.
Maurício Fischer, diretor técnico do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), destaca que a conversão tem ao menos quatro motivos: profissionalização dos produtores e qualificação do manejo com a entrada da soja em terras baixas, consolidação das exportações que gerou maior demanda no Porto de Rio Grande, concentração do maior parque industrial arrozeiro das Américas em Pelotas e em Camaquã e novas cultivares.
A zona sul tem características peculiares, como baixas temperaturas noturnas na época do plantio, áreas irrigadas por lagoas com risco de salinidade, topografia alagável e de difícil drenagem. Foi preciso investir pesado em estrutura de lavoura para superar, entre outras coisas, o clima. A região adotou a rotação com soja em maior escala, o que trouxe avanços no controle de ervas daninhas, qualidade do solo, agregação de nutrientes, produtividade, geração de renda e também favoreceu o preparo do terreno no cedo e permitiu o plantio de boa parte da superfície anual na época recomendada.
Jorge de Barros Iglesias, engenheiro agrônomo que coordena a Granja 4 Irmãos, em Rio Grande (RS), destaca o avanço no manejo a partir das técnicas preconizadas no Projeto 10 e Soja 6000, integração com pastagens/pecuária, entre fatores técnicos que motivaram o salto produtivo regional. Isso, exigiu investimentos em tecnologias e estrutura. “Agregar soja e pastagens requer não apenas o aprendizado de novas práticas agronômicas e pecuárias, mas também diferentes insumos e equipamentos que exigem muito dinheiro e segurança no que se está fazendo”, acrescenta Fischer.
Demanda determina o maior preço
A concentração do maior polo industrial do arroz na América Latina e o advento das exportações de arroz em casca foram fundamentais para estabelecer novo patamar de preços regionais na zona sul gaúcha. Em alguns momentos do ano as cotações na região chegaram a superar em R$ 6,00 as do sul de Santa Catarina e em até R$ 5,00 os preços do arroz de mesmo padrão na fronteira oeste gaúcha, valores que, de acordo com o câmbio, variaram de US$ 1,20 a US$ 1,80 por saca.
Com uma demanda industrial e para exportações acima de três milhões de toneladas e produzindo um terço disso, a região e zonas adjacentes passaram a gozar das vantagens de uma procura mais forte do que a oferta. Além disso, sem precisar pagar R$ 5,00 de frete desde a fronteira oeste aos produtores da zona sul, as indústrias e tradings podem pagar um pouco mais pela matéria-prima disputada na zona sul.
Além disso, com uma parte substancial dos arrozeiros plantando soja, de alta liquidez no mercado, eles passaram a ter condições de diluir a oferta do cereal, evitando a venda nos períodos de grande oferta e preços menores.
Razões de sobra para aguçar o interesse dos produtores e empresários de outras regiões sobre o fenômeno dos preços e da produtividade da zona sul.