Abaixo do mínimo

 Abaixo do mínimo

Horizonte da comercialização: dias melhores só no segundo semestre de 2006

Oferta e a demora do Governo põem mercado em baixa
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O mercado brasileiro de arroz em casca entrou em novembro de 2005 no quinto mês de cotações abaixo do preço mínimo. R$ 20,00 é a referência de valor para o saco de 50 quilos. A safra recorde de 13,2 milhões de toneladas – a segunda maior do que o consumo interno em dois anos – no Brasil e o ingresso, no mesmo período, de mais de 1,5 milhão de toneladas de arroz excedente do Mercosul, foram decisivos para esta situação. Oferta maior do que a demanda deprimiu preços. 

A cadeia produtiva do arroz alertou ao Governo Federal, que tem o dever legal, moral e social de assegurar preços mínimos aos produtos agrícolas. “O caso do arroz é de segurança alimentar”, diz o presidente do Irga, Pery Sperotto Coelho. A safra 2004/05 entrou com o maior estoque de passagem da década. E todo ele no mercado. No Mato Grosso, o arroz Cirad teve safra recorde e não obteve classificação de longo fino. As cotações da variedade caíram para R$ 12,00 a R$ 14,00, pressionando o mercado. O Cirad é usado na mistura com o arroz do Sul e para a parboilização. 

O excesso de arroz e a pressão das cotações no Mato Grosso mexeram negativamente no mercado. A partir de junho, a queda chegou a um patamar inferior ao preço mínimo, alcançando R$ 16,00 (FOB) em todo o Brasil. Nos supermercados havia promoções de uma semana inteira de cinco quilos de arroz beneficiado, tipo 1, por até R$ 2,99. O Governo Federal reagia à pressão dos produtores com promessas de recursos abundantes para AGFs e contratos de opção, mas os liberava a conta-gotas. 

GOTA D’ÁGUA – A morosidade governamental foi a gota d’água para que os preços descambassem para patamares ridículos. “A ação do Governo seria decisiva. Fomos surpreendidos com a falta de recursos e a demora de meses para a tomada de decisões sobre as dívidas e mecanismos de comercialização eficientes”, frisa Pery Sperotto Coelho. Ele acredita que com agilidade nas decisões e antecipação para junho da liberação dos recursos anunciados em novembro, provavelmente as cotações se mantivessem acima de R$ 20,00. “O Governo não percebeu ou não quis ver a gravidade da crise”, completa Valter Pötter, presidente da Federarroz.

Questão básica
Como o mercado vai se comportar a partir de novembro?
O Brasil entra no pico de entressafra até fevereiro, mas devido ao elevado estoque de passagem, dólar em baixa e o grande potencial exportável dos EUA – que dita o preço nas Américas, o consultor da Safras & Mercado, Aldo Lobo, acredita que os preços internos devem oscilar pouco nos próximos meses. A expectativa de Lobo e de outros consultores é de que os preços do arroz comecem a reagir apenas a partir da metade do ano que vem. Isso vai depender do tamanho da safra brasileira, que ainda pode sofrer alterações por fatores como o clima. 

FIQUE DE OLHO
A Conab vai usar até dezembro R$ 290 milhões dos R$ 554 milhões liberados pelo Governo para a comercialização das 3,2 milhões de toneladas da atual safra.R$ 140 milhões são para compra de 258 mil toneladas do arroz gaúcho, 180 mil toneladas do Mato Grosso e menor volume de outros estados. Os R$ 260 milhões restantes serão usados no incentivo ao escoamento de produtos de estoques públicos e privados para regiões necessitadas. 

Frases
“Em 2003, quando tomei posse, o saquinho de arroz Tio João, de cinco quilos, custava R$ 11,00 e hoje pagamos R$ 4,90 ou R$ 5,00”.
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva

E sabe quem paga a diferença? Os produtores”.
Valter José Pötter, presidente da Federarroz

 

Principais razões da crise 

1. Brasil colheu duas safras recordes – quase 26 milhões de toneladas e recebeu quase dois milhões de excedentes do Mercosul. Consumo ficou em 25,8 milhões de toneladas.
2. A safra 2005 chegou com um estoque de passagem alto e disponível ao mercado – 1,5 milhão de toneladas. 1,1 milhão importado.
3. Falta de recursos e morosidade do Governo para pôr em prática mecanismos de comercialização.
4. Excedentes e competitividade do Mercosul.
5. Câmbio desfavorável para exportar.
6. Alto custo de produção na safra 2005/06 – R$ 30,00 no RS e em SC contra R$ 16,00 a R$ 18,00 do Mercosul. 

 

O que quer a cadeia produtiva

1. Liberação integral dos recursos prometidos em julho/05
2. Garantia de preço mínimo
3. Planejamento para intervir no mercado abaixo do mínimo de R$ 22,00
4. Estabelecimento de regras claras e volume (cotas) de importação do Mercosul, rigor na fiscalização das fronteiras e/ou medidas de compensação
5. Credenciamento de armazéns de pessoa física pela Conab
6. Apoio às exportações, com redução da burocracia e dos encargos (custo Brasil)
7. TEC de 35% para terceiros países
8. Liberdade para importação de insumos mais baratos
9. Reforma fiscal com redução da carga tributária sobre a produção
10. Apoio ou iniciativa de ação contra os subsídios norte-americanos ao arroz

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