África luta para se livrar do arroz indiano

 África luta para se livrar do arroz indiano

Produtora senegalesa busca produzir arroz para autossuficiência

(Por David Sadler) A crise global de alimentos e a inflação estão levando os países da África Ocidental a buscar a autossuficiência e reduzir a dependência da importação de arroz da Índia, que impôs restrições às exportações em setembro passado. O arroz é um alimento básico e importante no continente africano.

Ao redor da aldeia de Dak, no centro do Senegal, mulheres cortam arroz com facões e facas enquanto cantam e dançam. Neste país da África Ocidental que é um grande consumidor de grãos, a safra em curso não vai suprir todas as necessidades.

“Esta produção é para autoconsumo”, diz Dietio Diouf, de uma associação de mulheres, no meio de um arrozal. Não queremos mais comprar caro arroz importado”, argumenta.

O arroz, alimento básico da dieta africana, é afetado pelo anúncio da Índia, segundo maior produtor mundial, de impor restrições às suas exportações em setembro. Isso levantou temores de escassez na África, onde mais de 280 milhões de pessoas já estavam subnutridas em 2020, segundo as Nações Unidas.

O gigante asiático proibiu a exportação de arroz quebrado (grãos de arroz de baixo preço quebrados no campo, durante a secagem, durante o transporte ou processo industrial) e impôs uma taxa de 20% sobre as exportações de arroz de alta qualidade, para melhorar o abastecimento interno após uma grande seca nas principais áreas produtoras.

Para combater a especulação, o Senegal fixou recentemente em 325 francos CFA (0,5 euros) o quilo do arroz partido indiano, um dos produtos menos caros e mais consumidos e quase o único importado para o país, segundo o coordenador do Programa Nacional de Autossuficiência em Arroz, Wali Diouf.

PÂNICO E ESTRESSE

A África responde por 23% das importações globais de arroz para cerca de 13% da população mundial, de acordo com o Africa Rice, uma organização em Abidjan que inclui 28 países.

O centro africano observa que “a produção doméstica de arroz cobre apenas 60% da demanda atual na África subsaariana”.

Assim, a decisão da Índia de limitar suas exportações causou pânico em muitos países africanos onde o arroz é um produto básico. Nas Comores, arquipélago de 890 mil habitantes, onde mais de um quarto da população vive com menos de 2 euros por dia, a alta do preço do arroz provocou confrontos no final de setembro.

Na Libéria, filas se formaram em frente às lojas dos atacadistas em meio a rumores de escassez da substância. Os preços atingiram o equivalente a 23 euros por saco contendo 25 quilos, contra cerca de 13 euros normalmente.

Diouf diz que “a ameaça de escassez é real no Senegal” quando a Índia diz que não vai mais exportar a substância. Em 2008, o país assistiu a “distúrbios alimentares” face à forte subida dos preços dos alimentos básicos. Nos últimos dois anos, “o Senegal produziu anualmente cerca de 840 mil toneladas de arroz, o que é suficiente para nove meses de consumo, o que é uma quantidade crescente”, de acordo com Diouf.

Explica que o país “importa em média 900 mil toneladas de arroz por ano. Isso supera as necessidades, mas a importação permite (garantir) a disponibilidade do produto e evitar a especulação.

PRODUÇÃO LOCAL

O objetivo é reduzir essa dependência. “Em 2030, esperamos que o consumo no Senegal atinja 1,5 milhão de toneladas de arroz anualmente”, diz Diouf. Temos trabalhado em uma estratégia para caminhar rumo à autossuficiência. O esforço financeiro necessário para atingir a autossuficiência está estimado em 2 milhões de euros.

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