Ajustar para não quebrar

 Ajustar para não quebrar

Lavoura catarinense já foi quase toda comercializada a preços baixos

Excesso de oferta e
preços achatados preocupam produtores
de Santa Catarina.

Estimada inicialmente pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em 1,56 milhão de toneladas, a safra de arroz no estado de Santa Catarina acabou registrando um recuo de 5,7% e fechou em 996,4 mil toneladas.  Este desempenho, aquém do esperado pelo setor produtivo, que projetava uma colheita histórica na faixa de 1,4 milhão de toneladas, deveu-se, sobretudo, a problemas climáticos registrados na região sul do estado, onde está concentrado o maior volume da produção do cereal.

Apesar da redução apontada pela Conab, o vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), Enori Barbieri, estima que a produção de arroz no estado chegue a 1,2 milhão de toneladas. A diferença, segundo ele, está na metodologia adotada pelas entidades ligadas ao setor e que também leva em consideração o volume colhido pelos produtores catarinenses em áreas arrendadas no Rio Grande do Sul. “Este arroz, mesmo sendo cultivado fora do nosso estado, acaba entrando no mercado catarinense, somando-se ao que é produzido aqui”, explica.

O problema, na avaliação de Barbieri, é que este excelente desempenho coloca os agricultores do estado em situação muito semelhante a dos produtores gaúchos: excesso de oferta e preços achatados, que não cobrem os custos de produção. “Vamos precisar fazer ajustes para a próxima safra, repensar o volume a ser produzido e, se for o caso, até reduzir a produção”, observa.

MEDIDAS E APOIO

Para o presidente da Faesc, José Zeferino Pedrozo, as medidas de apoio anunciadas pelo governo não neutralizarão os prejuízos contabilizados em decorrência dos preços defasados. O dirigente observa que a maior parte da safra foi comercializada a preços baixos e as medidas beneficiarão menos de 1/5 dos rizicultores. Um dos motivos, segundo ele, foi a falta de armazéns credenciados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), fazendo com que as aquisições diretas do governo federal (AGF) ficassem em menos de 25% dos contratos previstos.

Pedrozo lembra que a crise do setor é crônica. Em março de 2010 a saca de 50 quilos de arroz era vendida a R$ 29,20 e atualmente é comercializada a R$ 19,36, bem abaixo do preço mínimo. Os agricultores reclamam que essa queda resultou da falta de apoio do governo na última safra. “O mercado do arroz vive uma crise decorrente também do excesso de oferta no mercado interno e das importações de países do Mercosul. Esse quadro provocou queda de 33,8% nos preços do arroz em Santa Catarina e na Região Sul”, aponta.

Safra passada a limpo

Em junho deste ano, a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), através das gerências regionais de Araranguá, Criciúma e Tubarão, com apoio da equipe de pesquisa do arroz da Estação Experimental de Itajaí e do SC Rural, realizaram uma reunião no Centro de Treinamento de Araranguá para avaliar a safra de arroz no estado. O evento teve como foco o desempenho das lavouras da região sul, que representa mais de 60% da área da produção catarinense de arroz e abrange desde o município de Paulo Lopes até a divisa com o Rio Grande do Sul.

Esta área abrange cerca de 90 mil hectares utilizados na produção de grãos para o consumo e mais 3,6 mil hectares para a produção de sementes, de um total de cerca de 150 mil hectares cultivados no estado. “O objetivo do encontro foi apresentar os resultados da colheita de arroz da safra 2011, que já foi concluída, e discutir os problemas e encaminhamentos que visem melhoria para o setor”, informou o engenheiro agrônomo da Epagri de Araranguá, Reginaldo Ghellere.

Segundo a Epagri, os resultados apontam que este é o segundo ano consecutivo em que a produção sofre declínio. Os principais fatores da queda na produção foram os eventos climáticos. No geral, o percentual não é assustador, mas em locais específicos as quedas podem ter grande significado. Exemplo disso são as áreas atingidas por granizo nos municípios de Turvo e Meleiro e as enchentes ocorridas em Maracajá, Araranguá, Imarui e Sangão, em que vários produtores obtiveram produtividade de apenas 30 a 40 sacos por hectare.

QUEDA NA PRODUÇÃO

As regiões de Araranguá, Criciúma e Tubarão sofreram uma queda na produção em 2011 de 7% em relação a 2010. Assim, a produção total destas regiões caiu de 622.931 toneladas para 579.143 toneladas. Este montante – 43.788 toneladas – representa um valor menor de recursos de cerca de R$ 20 milhões apenas na parte de produtor.

O engenheiro agrônomo da Epagri de Araranguá, Rene Kleveston, salienta que estes são apenas os resultados gerais, mas que o evento disponibilizou uma série de outros dados oriundos dos levantamentos executados em cada um dos municípios pelos escritórios municipais da Epagri, cooperativas, empresas de planejamento agrícola, agropecuárias e certificadores de sementes (Acapsa).

Os pesquisadores da Epagri de Itajaí também apresentaram vários trabalhos de pesquisa que irão contribuir para a orientação do setor para as próximas safras.

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