Alfredo Treichel: a despedida do pioneiro
Referência do arroz parboilizado, presidente
de honra da Abiap faleceu em fevereiro, aos 86 anos
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Um dos mais importantes industriais do setor arrozeiro nacional na segunda metade do século passado e referência para o arroz parboilizado no país morreu no último dia 21 de fevereiro, aos 86 anos, o empresário Alfredo Albino Treichel. O empreendedor era proprietário do Engenho Treichel, em Cachoeira do Sul (RS), que já esteve entre os 20 maiores do estado, e presidente de honra e fundador da Associação Brasileira da Indústria do Arroz Parboilizado (Abiap).
Ele também presidiu o Sindicato da Indústria do Arroz do Rio Grande do Sul (Sindarroz-RS) por quase uma década. Na sua administração, o sindicato adquiriu e iniciou a mudança do interior para o prédio em Porto Alegre, sede atual. Foi um dos criadores e incentivadores da Feira Nacional do Arroz (Fenarroz) e ativo na vida social em Cachoeira.
Alfredo Treichel nasceu em Cerro Branco, então município de Cachoeira, e começou a produzir arroz em Restinga Seca, de onde mudou-se para o Passo do São Lourenço, à beira do Rio Jacuí, em Cachoeira. Deste local mudou seus secadores para a sede da empresa, na zona norte da cidade, na década de 60.
Mas o que mudou os rumos de sua empresa foi o seu perfil inquieto de empreendedor. No final da década viajou à Europa para participar de uma conferência da Agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), onde tomou os primeiros contatos com um novo sistema de processamento: a parboilização. Visitou indústrias italianas e espanholas, encomendou máquinas e apoiou estudos de cientistas brasileiros na Europa para dar suporte ao seu empreendimento. Por isso é considerado pioneiro na produção de arroz parboilizado no Brasil.
“Até então existia a malequização, que deixava o arroz escuro, amarelão, por isso a parboilização não era vista com bons olhos pelos consumidores. Mas na Europa percebi que o processo e a qualidade eram outros e havia futuro, até pelo maior valor nutricional, as vantagens da gelatinização, entre outros fatores. Hoje o parboilizado representa entre 25% e 30% do mercado do branco no Brasil e não para de crescer”, disse Treichel em uma entrevista em 2013 para Planeta Arroz.
ESCOLA
Na década de 80, com a instalação do novo complexo de parboilização, sua empresa foi reconhecida como “engenho-escola” por organizações públicas e privadas e passou a receber semanalmente dezenas de empresários, técnicos e estudantes da área industrial e ligados ao segmento arrozeiro. “Nunca escondemos nada, sempre recebemos a todos de portas abertas e oferecemos todo o acesso possível à tecnologia e ao conhecimento”, orgulhava-se Treichel.
Por sua iniciativa foi criada a Abiap e, visando conferir regras de qualidade, o selo de qualidade Abiap para o arroz parboilizado. O selo é conferido mediante rigorosa auditoria de qualidade na indústria e no produto final. Hoje, além das marcas próprias, o Engenho Treichel processa marcas de terceiras indústrias.
Ademais de industrial, Treichel era produtor de arroz e pecuarista. Deixou a esposa Marisa e os filhos Vera, Sérgio, Paulo, Rosane e Tiago. Seu falecimento foi lamentado por diversas entidades, instituições e lideranças do setor. Alfredo Albino Treichel voou alto, mas jamais perdeu a sua essência de “colono”, como ele se autointitulava.