Alta dos fertilizantes preocupa setor produtivo
Outra justificativa seria o aumento do valor da matéria-prima, já que o Estado depende integralmente da sua importação para produção de adubos.
A alta de até 45% nos preços dos fertilizantes tem causado preocupação entre os produtores rurais gaúchos. Representantes de diversos setores do agronegócio afirmam não entender o motivo do reajuste, que vem sendo observado desde meados de 2006. Conforme o presidente do Sindicato das Indústrias de Adubos do Rio Grande do Sul (Siargs), Torvaldo Marzolla Filho, a explicação é simples.
– Os países em desenvolvimento, como a China, estão consumindo mais alimentos, fazendo com que a demanda por commodities e conseqüentemente, por fertilizantes, também aumentem, o que impulsiona os preços.
Outra justificativa seria o aumento do valor da matéria-prima, já que o Estado depende integralmente da sua importação para produção de adubos.
– No caso do potássio, por exemplo, produzimos no Brasil menos de 10% do que consumimos.
Outro agravante seria o fechamento de minas de cloreto de potássio na Rússia e nos Estados Unidos, em função de inundações causadas por problemas geológicos, que interromperam a produção. No caso da Rússia, cuja mina produzia 4,5 milhões de toneladas de cloreto de potássio por ano, o fechamento foi completo. Já a americana, que produzia 1,5 milhão de toneladas anuais, foi parcialmente fechada. Somadas, as duas representam 6 milhões de toneladas, o equivalente à demanda brasileira.
O presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro), Rui Polidoro, questionou a situação da moeda americana que costumava balizar os preços dos insumos.
– Não consigo entender, pois com o dólar na faixa de R$ 2,00, não há motivo para elevação dos custos com importação de matéria-prima.
Segundo Marzolla, a alta ocorre a despeito do câmbio, pois o aumento da matéria-prima no mercado internacional tem sido de 20% a 50%, e 80% da composição do insumo vêm da matéria-prima importada.
– Isso é um reflexo da economia global – considerou.
Um setor que também tem sentido o impacto da alta do preço dos fertilizantes é o arrozeiro.
– Estamos perplexos não só com a elevação dos preços dos fertilizantes, mas também dos defensivos.
O presidente da Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Valter Pötter anunciou que vai buscar, junto com outras federações, uma solução do problema.
Nem que seja por meios judiciais – declarou.
Entre os pequenos produtores, o sentimento de insatisfação é o mesmo. O assessor de política agrícola da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado (Fetag), Airton José Hochscheid, afirma que se os preços continuarem elevados, será muito difícil para os produtores ampliarem a área plantada no Rio Grande do Sul.
– A previsão é de um aumento entre 30% a 40% da área do trigo. Mas, em função da conjuntura, muitos produtores podem desistir do plantio.
Ele também comentou a questão do dólar.
– Ainda quando convivíamos com a alta da moeda americana, e os preços eram balizados pelo dólar, o aumento era explicável – protestou.
Para alguns setores, a expectativa é bastante negativa, indicando a possibilidade de continuidade no aumento dos preços. O presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Fumo, Romeu Schneider, diz que como não há previsão sobre regularização no fornecimento das matérias- primas, os preços tendem a crescer ainda mais.
Segundo ele, o Brasil não tem política de subsídio para evitar o impacto dessa oscilação.
– Esperamos que o governo mantenha zerado a alíquota de importação, o que hoje só é garantido no âmbito do Mercosul – frisou.