Alternativas de consumo
Além de ser um caso de saúde pública, o baixo consumo do cereal por parte dos brasileiros também tem implicações econômicas no campo do agronegócio, A produção nacional de arroz em 2011, de acordo com a Conab, deverá ficar em 12.628.200 toneladas, tendo um incremento ao redor de 967,3 mil toneladas (8,3%) em relação à safra 2009/2010, que foi de 11.660.900 toneladas.
A situação ganha contornos ainda mais agravantes em função da expectativa de um grande excedente de arroz do Mercosul até 2020. Os dados divulgados pela pesquisa do IBGE, somados ao impacto do aumento produtivo, levaram a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) a estudar novas alternativas de consumo para o produto, como o direcionamento de parte da produção para ração animal e a fabricação de biocombustíveis. Este, aliás, é um dos itens da pauta de demandas do setor arrozeiro encaminhada ao governo federal, através do governador do RS Tarso Genro, pela Federarroz.
O presidente da Federarroz, Renato Rocha, explica que um projeto nesse sentido está sendo desenvolvido pelo engenheiro Wilson Neumann Machado no município de Cristal (RS). “A planta da Usina Cristal, bem como os detalhes do projeto, formatado inicialmente para produzir etanol e ração animal a partir do sorgo e de outras matérias-primas vegetais, mas que pode muito bem ser adaptado para o arroz, será apresentada na 21ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, em Camaquã”, anuncia Rocha.
Embora a legislação brasileira não permita a produção de combustíveis a partir de alimentos, a perspectiva, na análise de Rocha, é interessante, inclusive do ponto de vista econômico, e pode ser uma saída para o excedente de arroz no mercado. Wilson Machado, por sua vez, lembra que o Japão já enfrentou problemas semelhantes ao RS. “O Japão, que tinha uma produção de 12 milhões de toneladas, conseguiu reduzir este volume em 40%, além de taxar em 740%, em média, o arroz estrangeiro que entra de outros países”, informa.
O presidente do Irga, Cláudio Pereira, no entanto, discorda desse raciocínio: “Eu pessoalmente sou contra transformar alimento em combustível. Acho que o mundo passa fome e temos que ser solidários primeiro com aqueles brasileiros que ainda vivem na pobreza. Cabe lembrar que uma das metas da presidenta Dilma Rousseff é erradicar a miséria e a fome no Brasil. Já tivemos grandes avanços no governo Lula, mas pelo volume de demanda ainda precisamos de muita coisa”, ressalta.
Pereira argumenta que existem outras alternativas para aumentar o consumo brasileiro de arroz. “Se direcionarmos os estoques da Conab, por exemplo, para o Programa de Distribuição Direta de Alimentos e para o Programa Nacional da Merenda Escolar vamos criar o hábito de consumo por parte das crianças e ao mesmo tempo puxar o arroz que está em estoque com o governo federal”, sugere.
Outra opção, segundo o presidente do Irga, é conseguir autorização do governo federal para ampliar o volume de arroz nas ajudas humanitárias do Brasil, que hoje participa com 100 mil toneladas do cereal. “Temos condições de participar até com 500 mil toneladas. Esta é também uma questão estratégica. Se criarmos o costume naquelas populações que hoje são pobres da África de consumir o arroz agulhinha, daqui a pouco estaremos abrindo um enorme mercado para o arroz gaúcho. Acho que antes de tudo temos que pensar no ser humano e temos alternativas. O que falta são políticas para este arroz chegar às pessoas que não estão tendo acesso”, avalia.