Ano perdido
Com base nos levantamentos feitos pelo Irga em toda a Fronteira Oeste gaúcha, o diretor-secretário da Cooperativa Agrícola Uruguaiana, Ariosto Pons Neto, estima a perda de 4% da área plantada com arroz na região. “Levando em conta área total cultivada entre 100 mil e 105 mil hectares, calculamos em torno de 3.400 hectares a 4 mil hectares perdidos”, avalia.
Segundo o dirigente, cerca de 40% das lavouras foram plantadas fora da época recomendada e podem apresentar queda produtiva, mas isso vai depender do clima daqui para frente. “Nas lavouras semeadas na época certa os tratos culturais não funcionaram e tivemos que fazer tudo por avião, o que encareceu ainda mais”, lamenta.
O produtor Alfredo Martini, de Uruguaiana, que planta em média 2.500 hectares de arroz, relata que teve perdas em três lavouras: duas por conta da enchente no Rio Uruguai e uma devido às cheias do Rio Quaraí. “No meu caso, as perdas correspondem a uma área de 500 hectares. Em uma das propriedades que fica às margens do Rio Uruguai foram 220 hectares. Na outra, junto ao Quaraí, mais de 200 hectares perdidos com as cheias”, aponta.
Conforme Martini, as precipitações superaram a marca de 400 milímetros entre os dias 22 e 25 de dezembro. “A gente sabia que haveria problemas e que os meses de setembro e outubro seriam piores, então retardamos a semeadura. Nas primeiras cotas plantadas, algo em torno de 1.800 hectares, não pegamos enchente, mas a semeadura feita em dezembro foi totalmente perdida”, compara.
O produtor acredita que a produtividade dificilmente chegará às 170 sacas por hectare que colhe anualmente. “Ficamos mais de 60 dias sem insolação, quando sabemos que o arroz está enquadrado na categoria das plantas C4, ou seja, só atinge as taxas máximas de fotossíntese sob elevadas intensidades de radiação solar. Já em relação à colheita, tudo vai depender do mercado, se os preços chegarem a R$ 45,00 ainda poderemos ficar no zero a zero”, calcula Martini.
Sob pressão
A situação também é bastante delicada para os produtores de arroz de Rio Pardo, especialmente para aqueles que plantam às margens dos rios Pardinho e Jacuí. As perdas estimadas pela Cooperativa Agroindustrial Rio Pardo (Coparroz) podem chegar a 25%. “Além das enchentes, a falta de luminosidade também acarretou prejuízos. Em algumas áreas, lavouras foram totalmente perdidas 12 dias após o plantio”, informa o presidente da entidade, Antonio Barbosa Netto Junior.
Barbosa ressalta que dos 540 agricultores associados à cooperativa, 450 são ativos. “Em sua maioria são pequenos e médios produtores que conduzem suas lavouras em áreas arrendadas. No total, são cultivados 8,5 mil hectares em Rio Pardo e aproximadamente 10 mil hectares em Pantano Grande. O problema é que mais de 90% dos contratos de arrendamento são fixos. O valor do arrendamento, na média da região, corresponde a 25 e 27 sacos por hectare, colhendo ou não. Aí, se o produtor planta 100 hectares e perde tudo acaba não tendo como pagar”, conclui o dirigente.