Ano termina sombrio para o mercado do arroz
O ano de 2004 se iniciou com preços superaquecidos para o arroz, com preço médio de R$ 39,73. A partir de março, entretanto, a situação começou a mudar.
O cenário no início do ano era este: expectativa de safra recorde no Brasil – 12,3 milhões de toneladas – safra cheia no Mercosul e, conseqüentemente, grandes excedentes exportáveis na Argentina e no Uruguai. Os produtores brasileiros, deslumbrados com os preços de novembro de 2003 a fevereiro de 2004, seguravam a oferta no período de colheita, a fim de conseguir preços ainda melhores.
Isto fez com que as indústrias beneficiadoras do cereal fossem buscar matéria-prima importada dos países vizinhos. “Como o custo de produção na Argentina e Uruguai é mais baixo, os produtores de lá conseguiam vender o arroz em casca e beneficiado a preços mais atrativos, obrigando os brasileiros a baixarem seu preço de venda”, lembra o analista de Safras & Mercado, Aldo Lobo.
Para piorar a situação, o governo retirou o PIS e Cofins sobre a importação do arroz beneficiado e esbramado, fazendo com que o produto importado chegasse ainda mais barato ao Brasil e forçando mais os preços internos. “Por último, tivemos a valorização do real frente ao dólar, que barateou as importações e novamente fez com que os produtores brasileiros tivessem que reduzir seu preço de venda.”
O resultado de tudo isso foi importações volumosas neste ano, apesar da safra recorde. E os preços internos pressionados, sobretudo no segundo semestre, com estoque de passagem alto e produtores descontentes. Não é para menos. O preço médio da saca de 50 quilos em Alegrete despencou para R$ 23,79 em dezembro. Cenário impensável no início do ano.
Para 2005, a expectativa é de que o mercado de arroz permaneça fraco, pelo menos no primeiro semestre, pois a área plantada aumentou na safra 2004/2005 e é bem provável que o Brasil tenha um novo recorde de produção. A expectativa inicial é de que a safra brasileira atinja cerca de 12,8 milhões de toneladas e um estoque de passagem superior a um milhão de toneladas. “Lembrando que o consumo está estimado em 12,7 milhões de toneladas no máximo.”
Até agora, a tendência é de pequeno aumento de área na Argentina e de manutenção da área no Uruguai, “ou seja, no ano que vem teremos mais ou menos 1,5 milhão de toneladas de excedente exportável nos dois países”, prevê Lobo. “Por estes motivos, é provável que os preços sejam pouco rentáveis novamente no ano que vem, a não ser que consigamos exportar alguns bons volumes no período que se estende entre março e junho”, acredita. “Neste período estaremos no ápice da colheita (preços internos mais baixos) e os Estados Unidos, principal exportador de arroz em casca, estará em época de entressafra.”
Por enquanto, o cenário esperado é este. “Claro que, se houver quebra de safra no Brasil, Uruguai, Argentina, Estados Unidos ou algum país asiático ou se a China resolver importar umas oito milhões de toneladas para repor os estoques, vai haver alteração no quadro.”