Apertem os cintos, o preço caiu!
Boa safra também afetou o preço no mercado nacional.
No lugar de festejar uma safra recorde de 13.461,4 mil toneladas e a garantia plena de suprimento nacional para o consumo doméstico de 12,8 milhões de toneladas, os arrozeiros da Região Sul estão em pé-de-guerra, mobilizando-se para protestos e em intensas negociações com os governos estaduais e federal. Os produtores querem que seja cumprido pelo governo ao menos o preço mínimo de garantia, de R$ 25,80, referencial para a saca de 50 quilos, em casca, 58×10.
Apesar de colocar mais de R$ 300 milhões para a comercialização da safra entre fevereiro e abril de 2011, por meio de AGFs (Aquisições do Governo Federal) e PEP (Prêmio de Escoamento de Produto), o governo federal não conseguiu garantir os preços mínimos. As cotações caíram a R$ 18,00, em meados de abril. Isso em razão da safra recorde, que aumentou a oferta e pressionou o mercado. “Havia muitos compromissos vencendo, mas como alguma coisa, como EGFs e custeios do Banrisul, foi prorrogada, essa pressão diminuiu”, explica o presidente da Federarroz, Renato da Rocha.
Além disso, a valorização do real perante o dólar abriu as portas para a importação de arroz do Mercosul pelo Brasil entre o final de 2010 e o início de 2011. Isso aumentou os estoques de passagem do país para 2,2 milhões, quase 1 milhão apenas dos produtos de estoques reguladores públicos estocados no Rio Grande do Sul. Além disso, o câmbio também fez com que os produtores tivessem um custo de produção alto para plantar. Com baixos preços ao colher a safra, houve um desequilíbrio no mercado.
No final de abril, o governo federal acenou com a realização de leilões de contratos de opções públicas e privadas, mas os produtores insistiram no direcionamento dos recursos para o preço-meta, mecanismo que estão propondo para compensar as perdas do setor. “Se não sair o preço-meta, que é nossa prioridade, teremos que aceitar os contratos de opção, mas vamos lutar por essa demanda”, avisou Rocha.
A sazonalidade da safra, a política cambial brasileira, a omissão do governo federal na entrada com mecanismos para segurar a queda de preços ainda no final de 2010 e o alto custo de produção, aliados à baixa dos preços internacionais do arroz, são fatores que desencadearam a crise de comercialização em 2010/11 e prometem continuar afetando o mercado brasileiro. Alguma reação nos preços, acreditam os especialistas, só no segundo semestre, mas o teto será a paridade de importação, ou seja, algo na faixa de R$ 21,00 a R$ 23,00 dólares. O que pode mudar isso é a alavancagem das exportações, e logo.
QUESTÃO BÁSICA
Se o governo federal conseguir garantir, por meio dos mecanismos de comercialização, uma alta artificial nos preços domésticos do arroz, abre-se a expectativa de uma enxurrada de importações de arroz do Mercosul. A R$ 25,80, o preço interno da saca de arroz em casca equivaleria a quase 17 dólares, valor altamente convidativo para a entrada de arroz argentino, uruguaio e paraguaio, atualmente cotados entre 10 e 12,50 dólares. O Mercosul tem 1,6 milhão de toneladas para exportar ao Brasil e a terceiros mercados.
Apoio oficial
Se não conseguiu ainda mecanismos que melhorem os preços, o setor produtivo do arroz sensibilizou o Conselho Monetário Nacional (CMN), que prorrogou até 30 de setembro o prazo para que produtores contratem o Programa de Estímulo à Produção Agropecuária Sustentável (Produsa). O Produsa é uma linha especial de financiamento que atenderá aos agricultores afetados por intempéries climáticas na safra 2009/10. Pelo atraso na liberação de licenciamentos ambientais, os arrozeiros estavam ficando de fora dos prazos de acesso ao programa.
O CMN ampliou a prorrogação do saldo devedor das operações de Empréstimo do Governo Federal (EGF) de arroz da safra 2009/10 para até 100%. A medida beneficia especialmente produtores do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em PEP, até o início de maio, o governo federal liberou R$ 73 milhões, com oferta de 1,02 milhão de toneladas para os quatro estados do Sul e comercialização efetiva de 705 mil toneladas.
Os AGFs somaram R$ 200 milhões em linhas de crédito, mas com contratos efetivados de apenas 9,5 mil toneladas entre fevereiro e o finalzinho de abril. O governo gaúcho prorrogou o vencimento do custeio de 2009/10 de abril de 2011 para julho e estuda a desoneração tributária do arroz, entre outras medidas.