Aracnídeo minúsculo, prejuízos gigantes
Pesquisa antecipa caracterização de plantas sob estresses ambientais
e de nova praga:
o ácaro do arroz
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Uma nova praga capaz de gerar danos à lavoura de arroz chegou ao Brasil e está preocupando o mundo científico: o ácaro do arroz (Schizotetranychus oryzae). O aracnídeo é originário da Ásia e alcança nível de dano produtivo e prejuízo econômico na América Central e países da América Latina, como Venezuela, Colômbia e Guiana, desde 2005. Foi nesta época que surgiram os primeiros alertas dos entomologistas para o risco de avanço do ácaro para o Brasil. Além de atacar as folhas das plantas e reduzir a produtividade, o ácaro fitófago gera o aumento do custo de produção da lavoura pela necessidade de buscar tratamento de controle com a aplicação de acaricidas. Ainda não existe um cálculo que aponte o quanto isso representa no custo médio de produção.
Em 2016, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) incluiu o Schizotetranychus oryzae no seu manual de pragas do arroz, reconhecendo que o ácaro representa risco às lavouras brasileiras, inclusive no Rio Grande do Sul. Para antecipar-se à ocorrência de eventuais danos, o ambiente científico vem se mobilizando e desenvolvendo estudos sobre o comportamento da praga e as formas de manejo que levem a um controle eficiente.
Uma das referências nesta área é a pesquisa “Caracterização fisiológica e molecular de plantas sob estresses ambientais e em associação com microrganismos”, coordenada pelo doutor em biologia celular e molecular Raul Antônio Sperotto, do programa de pós-graduação em biotecnologia (PPGBiotec) do Centro Universitário Univates, de Lajeado (RS), que é bolsista de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) na área de botânica com projeto na área de arroz e ácaros.
Segundo Sperotto, são realizadas duas abordagens diferentes para ampliar a gama de alcance do estudo. “No primeiro momento analisamos cultivares de arroz plantadas no Rio Grande do Sul e verificamos se há resistência. Por meio de técnicas fisiológicas e de proteômica tentamos entender os mecanismos envolvidos com a resistência e sensibilidade ao ácaro. A outra estratégia é verificar se há resistência natural em espécies selvagens de arroz, ou seja, aquelas que geraram as cultivares atuais”, explica. Identificada a resistência, seria possível detectar o gene (ou genes) responsável pela característica dessa resistência e conferir às novas variedades esta característica, eliminando a necessidade do uso de defensivos químicos.
Ácaro: sob investigação
Danos podem chegar a 60%
Ainda não existe um estudo que tenha mensurado a percentagem de perdas em um ataque dos ácaros na área de lavouras, mas experimentos conduzidos pela equipe do doutor Raul Antônio Sperotto, da Univates, em casas de vegetação mostraram perdas de até 60% na produção de grãos da variedade Puitá Inta CL e de 13% com a Irga 424. Sperotto, que tem pós-doutorado em botânica, trabalha com pesquisa em ácaros há cinco anos e orienta atualmente uma doutoranda e uma mestranda em biotecnologia baseada na caracterização da praga e sua relação com o cultivo do arroz.
O arroz é uma planta que foi domesticada pelo homem, por isso o interesse em buscar a resistência ao ácaro nas variedades selvagens e descobrir qual a razão deste comportamento. “Talvez a resistência seja causada por apenas um gene, e esse gene que não está presente no arroz cultivado atualmente pode ser inserido nas variedades por métodos de biotecnologia ou por meio do melhoramento genético tradicional. Há muita diversidade nessas espécies selvagens que foram perdidas no processo de domesticação – então estamos tentando fazer o caminho inverso”, revela.
No estudo foi verificado o que o ácaro causa nas plantas de arroz quando elas estão com baixo nível de infestação, ou seja, quando há poucos ácaros nas folhas. “Foram identificadas diversas proteínas que podem ser usadas como uma forma de fazer o arroz ser resistente a essa praga. Esta é uma área que pretendemos explorar mais a fundo, verificando o que acontece com as plantas quando essas proteínas são produzidas em grande quantidade”, acrescenta Raul Antônio Sperotto.
Numa segunda etapa, a pesquisa buscou saber como a planta responde a altas infestações do ácaro. “Talvez a gente consiga identificar marcadores moleculares ou proteínas que possam ser alteradas ou modificadas para que a população de ácaros não aumente nessas folhas”, argumenta ele.
Essa pesquisa conta com a colaboração dos professores Walter Beys da Silva e Lucélia Santi, do PPGBiotec da Univates, Joséli Schwambach, da Universidade de Caxias do Sul, Felipe Ricachenevsky, da Universidade Federal de Santa Maria, Janete Adamski, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mara Lopes, do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Markus Berger, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Vanildo Silveira, da Universidade Estadual do Norte Fluminense, e dos pesquisadores internacionais John Yates e Mathieu Lavallèe Adam, da The Scripps Research Institute, dos Estados Unidos.
Inscrições abertas
O programa de pós-graduação em biotecnologia da Univates (PPGBiotec) está com inscrições abertas para os cursos de mestrado e doutorado. A seleção para o mestrado receberá inscrições para até 16 vagas e para o doutorado são até quatro vagas. O início das aulas está previsto para 12 de agosto, ocorrendo nas sextas-feiras à noite e aos sábados pela manhã. Mais informações podem ser obtidas em www.univates.br/ppgbiotec, pelo e-mail ppgbiotec@univates.br ou pelo telefone (51) 3714-7037.