Área será maior, mas clima poderá restringir avanço da safra brasileira de grãos

Os preços das principais culturas estão elevados nos mercados externo e doméstico e a forte demanda por sementes, fertilizantes, defensivos e máquinas agrícolas corroboram as previsões.

É consenso entre consultorias e corretoras que acompanham de perto o setor de agronegócios que a área de grãos crescerá significativamente no país na safra 2007/08, que começará a ser plantada nas próximas semanas.

Os preços das principais culturas estão elevados nos mercados externo e doméstico e a forte demanda por sementes, fertilizantes, defensivos e máquinas agrícolas corroboram as previsões.

Isso não significa, porém, que o avanço da colheita estará em linha com a expansão da área plantada. Segundo os especialistas, o risco de que o clima seja menos favorável do que em 2006/07 é palpável, e a estiagem que já atrasa os trabalhos em lavouras de milho de algumas regiões é a maior prova disso.

– A área de grãos vai crescer, principalmente a de soja. Mas, se não tivermos as condições climáticas ideais da safra 2006/07 – e há sinais de que não teremos -, a produtividade será menor – diz José Carlos Hausknecht, diretor da MB Agro, braço da MB Associados.

– Por conta do fenômeno La Niña, temos estiagem no Sul do país, por exemplo. Isso pode atrapalhar o milho e, em algumas áreas, incentivar uma migração para a soja.

Conforme a consultoria, a área de soja deverá aumentar 6% na nova temporada. Em 2006/07, conforme a Conab, foram 20,687 milhões de hectares, 9,1% menos que em 2005/06. Para a produção, a MB estima alta de 1,8%, sendo que a Conab trabalha com 58,392 milhões de toneladas na safra passada, 6,1% acima que na anterior.

É a produtividade que explica a diferença entre os incrementos projetados. Neste caso, não apenas em virtude de possíveis adversidades climáticas, mas também da tendência de “reocupação” de áreas menos propícias às lavouras, especialmente no Centro-Oeste.

Antonio Sartori, da Brasoja, concorda que “a La Niña em formatação” é um risco para o milho e que poderá motivar migrações para a soja no Sul, mas lembra que, de uma forma geral, a área plantada na região, sobretudo no Rio Grande do Sul, costuma apresentar poucas variações. Ele acredita que a área de soja será 4% ou 5% maior no país em 2007/08, mas por causa da expansão no Centro-Oeste.

Paulo Molinari, analista da Safras & Mercado, também vê o fenômeno La Niña como limitador da expansão do milho, mas observa que a disparada dos preços internacionais do grão, que voltou a ganhar força nos últimos dias, é um incentivo e tanto para o plantio.

A última estimativa da Safras para a área plantada em 2007/08, divulgada em julho, sinalizou 5,56 milhões de hectares (27,8 milhões de toneladas) para a safra de verão no centro-sul do país, um pouco abaixo dos 5,58 milhões calculados pela consultoria para a mesma região em 2006/07. Molinari diz que sua próxima estimativa, que sairá na sexta-feira, trará um número maior, impulsionado por avanço no Sul.

– No Centro-Oeste, é a safrinha que deverá crescer.

Em parte em função da disputa entre soja e milho promovida pelo clima, a Céleres reduziu para 2,1% sua projeção de expansão da área de milho no verão da nova safra. Para o total nacional, passou a estimar 9,48 milhões de hectares e 38,43 milhões de toneladas. Também pesou para o ajuste o recente salto das cotações internacionais da soja, que teve influência na citada alta do milho.

No caso do algodão, dissipadas algumas incertezas, os produtores também deverão plantar mais em 2007/08. O último levantamento da Safras&Mercado aponta aumento de 0,4% no país, para 1,124 milhão de hectares. Bahia e Goiás, segundo e terceiro maiores Estados produtores do país, deverão aumentar o plantio em 10,1% e 8%, respectivamente. Para o Mato Grosso, maior produtor, a projeção é de queda de 3,7%, em decorrência do avanço dos grãos.

Segundo Miguel Biagai, da Safras, o incentivo que faltava para os cotonicultores veio com a elevação dos preços internacionais, e a expectativa é que a produção supere 1,5 milhão de toneladas, o que seria um novo recorde. As exportações, em torno de 700 mil toneladas, também podem ser recordes.

Atento aos efeitos do clima sobre a produção, mas considerando que nenhum problema gravíssimo e generalizado será enfrentado, Fabio Silveira, da RC Consultores, prevê crescimento generalizado da área plantada de grãos em 2007/08. Para Silveira, este avanço poderá chegar a 12% – foram 46,157 milhões de hectares no total nacional em 2006/07, de acordo com a Conab, que amanhã divulga sua primeira previsão para o novo ciclo.

Silveira projeta crescimentos para as produções de soja (para 57 milhões de toneladas), milho (51 milhões, incluindo verão e inverno), algodão (3,8 milhões), arroz (11,5 milhões), trigo (2,9 milhões) e feijão (3,5 milhões).

Assim, diz ele, a renda agrícola “da porteira para dentro” dos grãos tende a atingir, em condições normais, R$ 70 bilhões em 2008, ante R$ 47 bilhões no ano passado. Na planilha de Silveira, o recorde histórico dos grãos foi em 2004 (R$ 71 bilhões).

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