Arroz com futuro
Estudo indica cenários
para a produção e o
consumo brasileiro
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Mais de 90% do arroz produzido no Brasil é consumido internamente, com uma demanda per capita de 55,8 quilos em base casca. Apesar disso, estatísticas oficiais têm indicado uma redução no consumo. Essa tendência brasileira não reflete o comportamento no contexto mundial, tanto que a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estima que para atender o consumo global de arroz será necessário aumentar em 40% a produção nas próximas três décadas. Uma das razões é o aumento populacional, sobretudo no continente africano.
Apesar destas expectativas no panorama internacional, no Brasil tem havido redução da área plantada com arroz de sequeiro, que apresenta característica de baixa produtividade (próxima a 100 sacas de 50 quilos por hectare) em relação ao arroz irrigado. Seguindo essa tendência, há perspectivas de que em 10 anos o grão seja cultivado apenas em sistema irrigado de terras baixas no Brasil, aumentando a produtividade média da cultura.
Com base nesse cenário, a estudante de Agronomia da UFSM Isabela Bulegon Pilecco, orientada pelos professores Alencar Zanon e Nereu Streck, do departamento de fitotecnia da universidade e da equipe SimulArroz, montou projeções de produção e consumo para o grão no mercado brasileiro. O estudo leva em conta o aumento da área e/ou o aumento da produtividade com vistas a planejar ações que garantam a segurança alimentar e nutricional da população mundial e renda ao rizicultor.
Desta forma, foram projetados os seguintes cenários para o arroz irrigado: 1) Aumento da produtividade de acordo com a taxa histórica (1980-2017); 2) Produtividade das lavouras gaúchas atingindo 80% do potencial produtivo, que representa o máximo rendimento econômico ao produtor. Os cenários de consumo doméstico de arroz para 2026, sem levar em consideração a exportação, foram: (a) 12,3 milhões de toneladas, de acordo com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp); (b) 11,5 milhões (Mapa, 2016), demonstrando a estabilização da projeção do consumo para 2026.
De acordo com as estimativas da equipe SimulArroz, o maior volume, conforme a taxa histórica, levará a um aumento de 97,7 quilos por hectare por ano (Cenário 1 – S1). Desta maneira, será necessário aumentar a produção em 3% para atender a alta demanda.
Entretanto, em um panorama de baixa demanda, a área de cultivo poderá ser reduzida em 4% até 2026. No quadro futuro projetado, no qual a produtividade atinge 80% do potencial produtivo até 2026 (Cenário 2 – S2), será possível reduzir a área colhida com arroz no Brasil de 20% a 25%, considerando um cenário de alta ou baixa demanda, respectivamente.
FIQUE DE OLHO
Isabela Bulegon Pilecco projeta que 75% dos cenários avaliados mostram que haverá menor consumo de arroz do que o total produzido. O excedente, porém, poderá se transformar em oportunidade e consolidar uma posição brasileira para atender parte da demanda global, já que em alguns cenários o excedente chegará a até 4 milhões de toneladas em 2026. A equipe SimulArroz destaca que nos próximos anos será muito importante unir esforços entre pesquisa, extensão e rizicultores com o intuito de atingir os 80% do potencial produtivo das cultivares e alcançar avanço considerável também em renda para o agricultor. Destaca a importância de haver políticas públicas que fomentem o consumo de arroz no Brasil e/ou estimulem as exportações. “Em qualquer cenário, é importante buscar alternativas para agregar renda à produção do arroz irrigado e gerar competitividade ao rizicultor e à indústria brasileira”, resume a autora.