Arroz com marreco

 Arroz com marreco

A partir da esquerda: Vicente Oliveira (técnico do Irga) e os produtores Jairo Luiz dos Santos Matos, João Lusarde dos Santos e seu filho, Lusarde Júnior

Sistema de produção com marrecos cresce na lavoura gaúcha .

Os produtores de arroz do litoral norte do Rio Grande do Sul estão apostando no marreco-de-pequim para eliminar plantas invasoras e pragas que atacam a lavoura de arroz irrigado. A técnica que é aplicada há vários anos em muitas lavouras está ganhando novos adeptos a partir de orientações do Irga e da Emater. Na cidade de Torres, onde são cultivados cerca de 3,5 mil hectares de arroz, área totalmente trabalhada com o sistema pré-germinado, o uso dos marrecos foi intensificado nos dois últimos anos. No município de Morrinhos do Sul, cerca de seis mil marrecos fizeram este ano o preparo de aproximadamente 200 hectares de lavoura. O resultado positivo está no aumento da produtividade e redução de custos para o preparo da terra.

Um dos dados mais expressivos está na economia no preparo da área. “Sem os marrecos, os produtores precisavam de nove a 10 horas de trator para preparar cada hectare de terra. Com as aves, os produtores estão fazendo o mesmo trabalho com apenas quatro horas de máquina para cada hectare”, observa o representante do Irga para a região, Vicente Oliveira. O produtor João Lusarde dos Santos, 59 anos, foi um dos primeiros da cidade de Torres a usar os marrecos. Segundo ele, em uma área de três hectares, onde o histórico de produtividade era de 7,5 mil quilos por hectare, na safra 2003/2004 o rendimento subiu para 10.350 quilos por hectare.

O produtor Jairo Luiz dos Santos Matos introduziu os marrecos na sua lavoura este ano. Dos 95 hectares cultivados com arroz, seis tiveram os bichos para fazer o preparo do solo. Os marrecos foram colocados em uma área onde a produtividade nas últimas safras ficou na casa dos dois mil quilos do cereal por hectare. “A área estava infestada com arroz vermelho. Apesar de trabalharmos com o sistema prégerminado, há dificuldade de controle de água”, relata o produtor, justificando o excesso de plantas invasoras. “Com os marrecos, a lavoura precisará de menos produtos químicos. A tendência é eliminar fertilizantes e herbicidas, produzindo futuramente um arroz orgânico, que tem mais valor no mercado”, analisa o arrozeiro. 

Como funciona? 

A utilização do marreco-de-pequim na lavoura é uma técnica simples. A dificuldade maior é a aquisição das aves e o cuidado delas nas primeiras semanas. O produtor precisa se preparar para a colocação das aves cerca de um mês antes da colheita. Ainda filhotes, com poucos dias de vida, elas devem ser alojadas em local seco e limpo. Após a colheita, quando os marrecos estiverem com aproximadamente 15 dias, o produtor deve reduzir a ração para incentivá-los a procurarem alimento na lavoura. Depois de colhida, a área deve ser novamente inundada, pois os marrecos só irão trabalhar onde tiver uma lâmina de água que possibilite a catação de sementes, pragas e plantas invasoras. O produtor deve revolver a resteva após algumas semanas para garantir melhores resultados. O bicho só será retirado da área para o próximo plantio.

Questão básica 

Para usar os marrecos no preparo do solo e a eliminação de pragas e plantas daninhas, o produtor investe em média R$ 5,00 por animal, levando em conta o preço do filhote e ração para as duas ou três primeiras semanas de vida das aves. O número de marreco por hectare depende do grau de infestação da área. Na região de Torres, as propriedades estão trabalhando com uma média de 35 aves para cada hectare, somando um investimento de R$ 175,00 para cada hectare. Os cálculos apontam que sem os animais o custo com herbicidas seria de aproximadamente R$ 300,00. Outras vantagens, como menor uso de maquinário e a venda dos marrecos ao final do ciclo, estão fora da conta superficial e fortalecem o interesse pela técnica.

DITO & FEITO 

“Os produtores chegaram à conclusão que mesmo se fizessem a distribuição das aves gratuitamente, ainda estariam no lucro, pois o ganho ambiental e a economia na lavoura já superam o investimento”.
Vicente Oliveira, técnico do Irga

Pesquisa comprova eficiência das aves no controle de inços e pragas do arroz

O Instituto Rio-grandense do Arroz está desenvolvendo uma pesquisa que comprova a eficiência do marreco-de-pequim no controle de invasoras da lavoura de arroz. Segundo o pesquisador Jaime Vargas, as informações estão sendo coletadas há quatro anos e os primeiros resultados apontam grande eficiência no combate ao caramujo, praga que pode consumir 20% da lavoura. “Caramujo é o alimento preferido dos marrecos”, observa Vargas. Na cidade de Restinga Seca, onde estão os produtores parceiros da pesquisa, foram abatidas algumas aves para analisar o que elas consumiram em 24 horas. Jaime Vargas relata que uma ave pode consumir até 10 caramujos por dia, cerca de 100 larvas de bicheira-da-raiz e até 900 grãos de arroz vermelho.

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