Arroz com trigo

 Arroz com trigo

Não um novo prato, mas uma prática que só faz bem ao Brasil.

O Brasil viu nos últimos meses uma alta inesperada do pão francês e dos demais produtos derivados do trigo, em razão da alta nos preços internacionais e da falta do produto nos tradicionais fornecedores do país, um dos maiores importadores mundiais. Pois, por inusitado que possa parecer, a pesquisadora do Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga) Angélica Magalhães propôs amenizar essa crise com arroz. Isso mesmo, segundo ela, a farinha de arroz pode substituir em até 30% a de trigo em algumas composições de panificação, acrescentar algumas qualidades e ainda aumentar o consumo do arroz brasileiro, que está em queda per capita nos últimos anos. 

Para o presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Arroz, Francisco Lineu Schardong, trata-se de uma proposta muito interessante e que merece a atenção desse fórum do setor há pelo menos um ano. 

“O positivo é que estamos percebendo que outros segmentos estão se interessando, realizando experiências positivas, e uma nova cultura e tecnologias específicas, como receitas, estão sendo desenvolvidas”, frisa. O uso de arroz quebrado para produção de farinha é uma prática crescente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. “O consumo ainda é incipiente, mas há uma tendência de crescimento a partir da adição da farinha de arroz, mesmo que experimentalmente, nas linhas de algumas padarias”, frisa Tiago Sarmento Barata, especialista em consumo. 

“Para o público em geral, pode parecer inusitado o arroz servir de matéria-prima para pães, massas e pizzas, mas os estudos realizados demonstram que essa medida traz muitos benefícios nutricionais”, frisa Angélica Magalhães. Os orizicultores apostam na maior disponibilidade de produto que os triticultores e a alta dos preços de importação. Ao contrário do trigo, há três anos o Brasil era auto-suficiente na produção de arroz, com uma colheita de 13 milhões de toneladas, e mantém estoques de passagem acima do ponto de equilíbrio do mercado nos últimos anos. Para o trigo, o mais perto da auto-suficiência foi em 1988, quando foram produzidas 5,8 milhões de toneladas e importadas apenas 930 mil toneladas. 

Segundo a pesquisadora do Irga, entre as vantagens da farinha de arroz está o uso por quem tem intolerância ao glúten, por exemplo. Esse mercado diferenciado, principalmente para os celíacos – alérgicos ao glúten -, faz com que algumas empresas invistam mais pesadamente na produção de farinha de arroz. A Cooperativa Regional Agropecuária Sul Catarinense Ltda (Coopersulca) fabrica até 400 toneladas mensais de farinha para panificação e composição de rações. 

Na área do trigo, a possibilidade não é vista com a mesma euforia. Considera-se que a adição da farinha de açúcar e outros produtos, como fécula de mandioca, acontecerá muito gradualmente e permanecerá restrita a condições muito específicas, como preço, demanda regional e oferta de matéria-prima, bem como o gosto do consumidor.

Fique de olho
Em média, cerca de 10% da produção de arroz apresenta quebrados. E com o uso diferenciado o produto está se valorizando. Segundo a Safras & Mercado, até o início do segundo semestre o derivado chegou a ser reajustado cinco vezes mais do que o inteiro, na proporção. Além do destino para as indústrias locais, para usos diversos, o Brasil também está exportando o quebrado. Cerca de 85% do volume embarcado de arroz até setembro foi de grão quebrado: 177,8 mil toneladas.

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