Arroz dourado: o OGM milagroso que não cumpriu a promessa

 Arroz dourado: o OGM milagroso que não cumpriu a promessa

Glenn Stone, principal autor do estudo, com um agente de campo agrícola nas Filipinas

Novo artigo mostra que o Arroz Dourado, o cultivo OGM que deveria salvar milhões de vidas, foi fadado a desempenhar mal desde o começo.

Fonte: the journal Agriculture and Human Values, the Golden Rice Project and the International Rice Research Institute

Desde a sua criação na década de 1990, o arroz-dourado – uma combinação de genes que pode desbloquear a capacidade de espécies de arroz para produzir o beta-caroteno, que o corpo transforma em vitamina A – tem sido apontado como a "cultura" que iria salvar as vidas de milhões de crianças por aliviar a deficiência de vitamina A e mudar para sempre a percepção que as pessoas têm sobre os organismos geneticamente modificados (OGMs).

Mais de 20 anos depois, a cultura milagrosa ainda não chegou ao mercado e não entregou os resultados prometidos. Um novo estudo publicado na revista Agriculture and Human Values ("Agricultura e Valores Humanos") sugere que a ascensão do arroz-dourado foi condenada a um desempenho inferior porque ele fez grandes promessas, apesar das inúmeras incertezas do projeto, provavelmente em uma tentativa de obter mais recursos.

Os genes do arroz-dourado foram transplantados com sucesso primeiro no arroz Japonica, uma variedade que é, infelizmente, raramente cultivada em regiões que sofrem com a deficiência de vitamina A. No entanto, os cientistas asseguraram ao mundo que eles seriam capazes de alcançar os mesmos resultados em outras variedades de arroz mais relevantes.

Os ensaios de campo nas Filipinas, um dos principais locais de teste para esta tecnologia OGM, mostraram que, enquanto os genes foram transplantados com sucesso nas variedades Indica locais, as modificações no DNA impactaram os rendimentos negativamente. Mesmo se a produtividade for aumentada, porém, não há garantia de que o consumo deste arroz vai realmente aliviar a deficiência de vitamina A.

Todos os atuais testes do arroz-dourado em humanos foram realizados em indivíduos bem nutridos, mas os subnutridos, alvo da tecnologia demográfica, são propensos a sofrer com parasitas e doenças intestinais que podem impedir a absorção do beta-caroteno e sua transformação em vitamina A.

Além disso, os carotenoides podem degradar com a exposição à luz, ao oxigênio e a altas temperaturas. Isso significa que a quantidade de beta-caroteno contida em variedades arroz-dourado pode diminuir com a armazenagem prolongada e com o cozimento, reduzindo ainda mais a sua eficácia no alívio da deficiência de vitamina A.

Há até mesmo o argumento de que, no momento em que as variedades do arroz-dourado forem submetidas às autoridades competentes e aprovadas, não haverá mais necessidade delas, já que os governos estão tomando outras abordagens para diminuir a prevalência da deficiência de vitamina A. Por exemplo, as Filipinas conseguiram reduzir a proporção de crianças com deficiência de vitamina A de 40 para 15 por cento em apenas seis anos através de políticas como a fortificação de alimentos obrigatória.

No final, o arroz-dourado não só não conseguiu mudar a percepção das pessoas sobre os OGMs, mas talvez tenha danificado ainda mais a reputação da tecnologia por meio de sua incapacidade de cumprir as grandes promessas que fez mais de duas décadas atrás.

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