Arroz e feijão entre vilões do prato feito
(Por Tribuna Hoje, Alagoas) Não se pode deixar de comer, e consumir alimentos está cada vez mais difícil no Brasil. A alta generalizada dos preços é uma realidade no país. Itens básicos da mesa do brasileiro, o arroz e o feijão tiveram aumento de cerca de 60% em 12 meses. O levantamento é da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que calculou o crescimento do valor dos dez principais alimentos que compõem o “prato feito” brasileiro em 12 meses.
O economista Victor Hortencio explica que infelizmente o IPCA, índice que mede a inflação, marcou 8,99% nos últimos 12 meses, estando acima da meta de inflação estipulada pelo Banco Central, de 3,75%. “As causas do aumento persistente nos preços dos alimentos estão relacionadas a vários fatores: dólar alto, período de entressafra, recuperação das economias mundiais, principalmente a chinesa”, observa.
“A inflação é o índice específico que mede essa variação dos preços, balizando o aumento ou a perda do poder de compra da população”, emenda.
De acordo com o economista, Victor Hortencio, entre as maneiras de economizar no bolso para a compra dos produtos básicos da alimentação, que estão todos os dias na mesa do brasileiro, é pesquisar, comprar no atacado e evitar o desperdício. Em Maceió, o preço do quilo do feijão pode chegar perto de R$ 9 e do arroz quase R$ 6, dependendo do estabelecimento.
É o que Elaine Cristina tem feito, a palavra de ordem é pesquisar. “Como trabalho com vendas e sempre estou andando para fazer entregas, busco pesquisar em vários lugares, e não faço mais compra de mês em um só lugar”, conta.
Ela revela que também faz substituição, pela correria do dia a dia e às vezes coloca para a família, inhame no almoço com carne e salada, como também cuscuz recheado, mas o tradicional feijão e arroz é prioridade na mesa.
“Infelizmente é lamentável que esses itens estejam tão caros, pois têm pessoas, principalmente as mais idosas, que além de estar no seu costume comer feijão e arroz, elas não se adaptam muito bem a esses almoços da nova geração, que consegue fazer essa substituição”, lembra.
“Então para essas pessoas que são mais idosas e dependem de um salário mínimo para tudo, sei que é bem difícil. Deveria ser proibido os alimentos essenciais da cesta básica ter um aumento tão grande desses”, critica Elaine.
Maria Josefa Hungria também tem visto os preços dos alimentos aumentarem, mas, como feijão e arroz não podem faltar, ela pesquisa. E, mesmo que não leve os produtos de marca conhecida, que geralmente são mais caros, substitui. “Continuamos comendo do mesmo jeito, mas vejo o melhor preço, na feira costuma ser mais em conta, e preparo de uma forma que desce bem gostoso também”, conta.
Afonso Luna disse que na casa dele geralmente sai pesquisando os produtos mais baratos, quando não encontra substitui por macarrão, verduras e outros produtos. “Na feira que fazemos foi reduzida a quantidade de feijão e do arroz”, diz.
ASA diz que preço dos produtos se mantém desde o ano passado
Segundo o presidente da Associação dos Supermercados de Alagoas (ASA), Raimundo Barreto, o preço do arroz e do feijão se mantém desde o ano passado. E que no início da pandemia houve uma alta devido à exportação destes produtos.
“Tanto o feijão quanto o arroz e demais produtos da alimentação diária vêm se mantendo com o mesmo preço. Outros estão até baixando, como a cebola, a batatinha, tomate. Isso é muito sazonal. Apesar do tempo, também tem o aumento do dólar, do combustível, que acaba interferindo no preço dos produtos porque dependemos do transporte para chegar em Alagoas, enfim não há essa disparidade de preços, está se mantendo”, diz.
Para o economista Francisco Rosário, a desorganização interna política que está afetando o dólar hoje faz com que a moeda americana suba, porque os juros continuam diminuindo no Banco Central, ao contrário do dólar que segue subindo.
“Isso é um dos fatores que têm pressionado o preço dos alimentos, além das mudanças climáticas com a quebra de safra e o salário mínimo adaptado, onde muitos trabalhadores podem até ter a carteira assinada, mas que ganham menos do mínimo. Mas vai passar e não é por conta da pandemia, se trata de outro departamento, o de economia e política mesmo”, avalia.
Carboidrato pode ser substituído por outro de custo mais baixo
Para substituir o arroz e manter uma alimentação saudável, a nutricionista Renata Araújo de Faria diz que pode ser substituído pelo macarrão ou angu, que são ricos em carboidratos e pertencem ao mesmo grupo de alimentos, e que têm um custo mais baixo.
Outra dica é trocar o arroz por batata baroa, batata doce, batata inglesa, inhame ou mandioca. “A batata doce rosa, por exemplo, está dentro da safra e o valor de mercado também é mais em conta”, ensina.
“Quem optar por reduzir o consumo de arroz, seja ele branco ou integral, e quiser uma alimentação mais rica em fibras, vitaminas e minerais, ela automaticamente estará ingerindo também os micronutrientes presentes no arroz”, mencionou.
De acordo com Ana Carolina Freitas, nutricionista do grupo Iron, as substituições bem planejadas ajudam a manter o corpo nutrido e com a quantidade de alimento suficiente para desempenhar as tarefas diárias.
“O arroz é mais fácil de substituir por outros alimentos com a mesma capacidade de oferecer energia, o feijão já enfrenta uma barreira a mais: o preço dos outros produtos. O feijão seria facilmente substituído por lentilha, ervilha, grão-de-bico, mas, infelizmente, são produtos mais caros”, pontua.
“Então, sugiro que seja feita uma boa pesquisa de mercado para comparar e tentar encontrar o melhor preço antes de comprar. Normalmente, os supermercados maiores conseguem um preço melhor”, orienta a nutricionista Ana Carolina.
As especialistas recomendam que, neste momento de crise, o brasileiro leve a criatividade para a cozinha e experimente os alimentos que estão na estação.