Arroz e feijão mais baratos afetam pequenos produtores
Com preços do arroz e feijão em queda, agricultores voltados ao mercado interno terão problemas em 2011.
Quem cultiva os itens básicos do prato do brasileiro enfrenta queda de rentabilidade, enquanto observa a valorização das commodities.
Enquanto os preços internacionais dos alimentos atingem recordes históricos, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), produtores alguns dos principais itens do prato do brasileiro sofrem com preços baixos.
"As culturas internas não costumam acompanhar o preço internacional das commodities", diz a economista Amaryllis Romano, especialista em agronegócios da Tendências Consultoria.
A situação divide os produtores brasileiros em dois grupos, que exigem políticas públicas diferentes.
"Os agricultores integrados às cadeias das commodities terão um ano significativamente bom, enquanto muitos voltados apenas ao mercado interno terão problemas para pagar seus financiamentos", afirma o secretário de política agrícola da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Antoninho Rosares. A entidade representa a agricultura familiar.
Assim, preços como os da batata e do feijão apresentam patamares até abaixo do mínimo estabelecido pelo governo. Já a soja, o milho e até a mandioca – cuja fécula compete com o amido de milho – surfam na onda da forte demanda internacional.
Intervenção
A situação considerada mais grave é a do arroz. Começando a colheita de uma safra recorde, o Rio Grande do Sul cobra atualmente em torno de R$ 22 por saca de 50 quilos, bem abaixo do mínimo estabelecido pelo governo, de R$ 25,80.
"O preço atual obriga o governo a realizar fortes intervenções para atingir esse valor", diz o analista Élcio Bento, da consultoria Safras & Mercado.
A discrepância de rentabilidade em relação a outras culturas deve afetar mais a produção de arroz do Centro-Oeste, onde há disputa por terra com milho e algodão, por exemplo.
"O governo pretende melhorar preço mínimo em regiões que tem potencial para crescer em produção , como é o caso do Mato Grosso", diz Regina Celia Gonçalves Santos, analista de mercado da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
"Pará e Maranhão também poderiam entrar na lista, mas não têm a qualidade necessária para comercialização".
Nas várzeas do Rio Grande do Sul, no entanto, não há como outras culturas agrícolas roubarem espaço do arroz. É justamente porque suas terras, em geral alagadas, são menos disputadas que o arroz não disparou como as outras commodities.
Nos últimos 12 meses, a cotação na bolsa de Chicago subiu apenas 7,7%, ante as estrondosas valorizações de 63% no trigo, 54% na soja e 97% no milho.
Dupla tradicional do arroz, o feijão também começa a sofrer por conta dos preços baixos, afirma o presidente do conselho administrativo do Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe), Marcelo Lüders.
"Há um desestímulo à produção de feijão e um forte estímulo ao plantio de outras culturas", diz. "Se não ocorrer um fenômeno climático, teremos redução da área plantada na próxima safra de verão", diz Bento, da Safras & Mercado.
O governo está atuando na comercialização do feijão, como fez na semana passada no arroz, e deve realizar um leilão de escoamento nos próximos dias na tentativa de conter a desvalorização.
No ano passado, o preço médio do feijão carioca tipo 2 subiu 42%, para R$ 109,55. "Para este ano, projetamos uma média de R$ 84,55", diz Amaryllis. No primeiro bimestre, a média foi de R$ 75,50, já aproximando do mínimo de R$ 80.
A mandioca, que também não está ligada diretamente às bolsas de mercadorias, aproveita a disparada das commodities. Mesmo com a produção estável, o preço subiu 50% no ano passado, comercializado, em média, a R$ 256,78 a tonelada.
A demanda da indústria, que pode usar a fécula da mandioca em substituição ao amido de milho, explica o aumento.