Arroz e óleo mais barato não aliviam o bolso do consumidor
(Por Natália Velosa, O Liberal) Apesar da baixa nos preços de alguns produtos no mercado no mês de julho, consumidores reclamam que não percebem a redução no valor final nos gastos relacionados ao mercado.
A cesta básica estava custando R$ 640,51 em São Paulo no último mês, de acordo com dados da Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). O valor representa uma alta de 2,19% em relação a junho. Em comparação ao mesmo período do ano anterior, em julho de 2020, a cesta básica custava R$ 524,74, o que corresponde um aumento de 22,06%.
No mês passado, o IPS (Índice de Preços dos Supermercados), calculado pela Apas (Associação Paulista de Supermercados), mostrou, por exemplo, que a batata teve redução de 17,32% no valor do quilo em relação a junho, assim como o arroz e o óleo, que tiveram uma deflação de 4,20% e 0,50%, respectivamente.
Os preços do arroz e do óleo já foram alvos de reclamações no final do ano passado, quando valores abusivos foram investigados pelo Procon-SP (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor de São Paulo) na RPT (Região do Polo Têxtil).
A enfermeira Marta Nascimento Silva, de 60 anos, percebe que a redução desses produtos não faz diferença na conta final. “Quando cai um produto, sobem o outro. Todo mês está subindo e muito. É difícil porque eu moro com três netos e eles não aceitam eu deixar de comprar alguns itens porque não entendem”.
Apesar da queda de alguns produtos, outros itens que compõem o cardápio do brasileiro acumulam altas, como a carne bovina, que em julho ficou 1,51% mais cara, mas já subiu 36,78% nos últimos 12 meses.
O café é outro vilão deste mês. Segundo o IPS, além da influência das geadas nas plantações, já era esperada uma redução de 20% na produção neste ano em comparação com 2020, o que incide no preço cobrado ao consumidor.
A auxiliar de cozinha Lígia Monteiro, de 42 anos, conta que deixou de ir ao mercado com mais frequência por conta dessa situação. “Carne vermelha em casa é só de vez em quando, compro ovo ou frango para substituir”, reclama.
A economista do Dieese, Patrícia Costa, explica que um dos problemas de hoje é que existem políticas de estímulo a exportações, principalmente com a carne, o leite, o óleo de soja e o açúcar. “O preço sobe mas não é porque as pessoas estão comendo mais, é porque esses produtos vão para fora e aqui dentro acaba faltando. Como consequência, o preço sobe”.
A economista cita ainda que a ausência de renda do brasileiro agrava essa situação. A população se alimenta cada vez mais com alimentos de baixa qualidade. O salário mínimo necessário para conseguir comprar uma cesta básica mensal, estimado pelo Dieese, deveria ser equivalente a R$ 5.518,79, valor que corresponde a 5,02 vezes o piso nacional vigente, de R$ 1.100,00.
“O Brasil hoje é um Brasil que desenvolve e cresce para poucos, para quem é dono de de terra e está jogando seu produto para fora. Para mim, a imagem limite dessa história e dar a melhor da nossa carne para China enquanto aqui temos filas de pessoas querendo comer osso”, diz Patrícia.
Problema crônico
Em uma pesquisa divulgada na última quinta-feira, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostrou que 72,4% dos brasileiros viviam em famílias com alguma dificuldade para pagar suas despesas mensais em 2017-2018, sendo que 36,7% de domicílios no Brasil – o equivalente a 25,3 milhões de pessoas – já tinham algum grau de insegurança alimentar.
A economista do Dieese explicou que, antes da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), a economia já vinha “patinando”, e que em março de 2020 tudo parou.
“Não tem política, em outros momentos a gente viu a importância de transferir renda para as famílias mais pobres, porque você estimula o consumo, que estimula a produção, o emprego e a renda. Neste momento não temos isso”.