Arroz e política
Autoria: Ana Amélia Lemos
Jornalista RBS em Brasília.
"O Governo se mostra disposto a importar arroz, o que é um desastre"
A colheita do arroz em Dom Pedrito, na safra 2005, foi do ponto de vista político um divisor de águas nesse importante setor da economia gaúcha e nacional. A presença de dois ministros de Estado, como Roberto Rodrigues, da Agricultura, e Aldo Rebelo, da Articulação Política, bem como do deputado Severino Cavalcanti, do governador Germano Rigotto e uma penca de deputados de vários partidos, todos envolvidos com a causa, sinalizou um novo momento para o setor.
Setor este que, vencendo barreiras e dificuldades, pode mostrar que tem vitalidade para continuar trabalhando em busca de eficiência, produtividade e qualidade e, ao mesmo tempo, se organizando para que a cadeia produtiva seja instrumento de luta política e não de divergência interna. O aumento da produtividade na lavoura de arroz do Rio Grande do Sul e do país, é preciso reconhecer e ressaltar, deve-se ao incansável trabalho dos técnicos, pesquisadores e cientistas do Irga e da Embrapa, que a cada ano apresentam notáveis trabalhos no campo genético.
A agenda da orizicultura continua focada nos problemas já conhecidos. A problemática concorrência dos parceiros do Mercosul, a falta de recursos à comercialização, os entraves na logística (armazenagem, estradas) e a elevada carga tributária que retira competitividade, comparado com os níveis de custos de nossos concorrentes uruguaios e argentinos.
Nesta virada de safra, o setor, como as demais lavouras (soja, milho, trigo), enfrentou uma combinação explosiva de custos elevados porque a lavoura foi feita com o dólar em alta, frente ao real, e a colheita e comercialização com o dólar em baixa e agravada pela queda dos preços das commodities agrícolas no mercado internacional.
Mesmo que exista estoque e produção para atender a demanda interna, o Governo se mostra disposto a importar arroz, o que é um desastre. Em vez de proteger os produtores nacionais, premia os nossos concorrentes. As medidas compensatórias anunciadas pelo Governo ainda não saíram do papel. É sobre elas que os deputados gaúchos familiarizados com a causa da orizicultura se ocupam em Brasília.
Vale ressaltar que a Federarroz e seu presidente Valter José Pötter deram um up grade ao diálogo político, muito necessário nesse processo. O prestigiamento das autoridades à 15ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz da safra 2004/2005, em Dom Pedrito, teve muito a ver com o respeito que Valter Pötter desfruta em todos os centros decisórios, não apenas no Rio Grande do Sul, mas também em Brasília. É preciso levar em conta esse detalhe.