Arroz está em crise

Produtor está perdendo R$ 8,00 por saca.

O preço da saca de arroz para a comercialização no Rio Grande do Sul está abaixo dos R$ 37,00, um quadro negativo que tem razões bem conhecidas, como afirma Cleiton Evandro dos Santos, jornalista e analista de mercado de grãos da AgroDados e Planeta Arroz e também colunista do Jornal do Povo no suplemento JP Rural. Segundo ele, a grande safra colhida no Brasil nesta temporada, acima de 12,3 milhões de toneladas, já jogaria pressão sobre os preços no início do ano, mas a situação é mais crítica.

“O problema é que houve uma grande safra no Mercosul também e os países vizinhos têm custos menores que os nossos e entraram a safra, em março, exportando muito para o Brasil Central. Em São Paulo uma saca de arroz em casca de 50 quilos do Paraguai, com a mesma qualidade do irrigado nacional, chega – considerando o frete – até dois dólares abaixo do valor da saca gaúcha”, revela ele.

CUSTO DE R$ 45,00

“Já temos um déficit de 500 mil toneladas na balança comercial este ano. Isso porque o câmbio é favorável para eles e porque o custo de produção no RS gira em torno de R$ 45,00. Fora isso, há o custo do crédito privado, por baixo acesso ao oficial, vencimentos de parcelas do custeio 2015/16 para quem perdeu lavouras pelo El Niño e mais os juros da prorrogação do custeio atual, empurrado até o final do ano”, analisa Cleiton Santos.

QUATRO PERGUNTAS PARA

Cleiton Evandro dos Santos, jornalista e analista de mercado de grãos da AgroDados e Planeta Arroz.

PELOS TEUS CÁLCULOS, O PRODUTOR ESTÁ PERDENDO R$ 8,00 POR SACA QUE VENDE. É ISTO MESMO?

“Neste momento, baseado nestes preços e neste custo de produção, sim. Talvez mais, porque há o custo de carregamento (secagem, armazenagem, transporte). É importante frisar que a crise do arroz não é de preço, mas de custo. Hoje, em média, o valor pago pela saca de arroz em casca ao rizicultor gaúcho é de 12 dólares. Isso é um preço muito bom em qualquer lugar do mundo, principalmente para os paraguaios, que têm custo de sete a oito dólares, para os uruguaios, que pagam nove dólares por saca, para os argentinos, que estão operando preços na base de nove a 10 dólares. Mas no Rio Grande do Sul o custo desta saca foi de quase 15 dólares na safra passada. Daí não se paga em nenhum lugar do planeta”

E QUAL SERÁ A SOLUÇÃO?

“Não há uma receita de bolo. A intervenção do governo acontecerá se os preços chegarem a R$ 34,97, que é a referência para disparar o gatilho da Política de Garantia de Preços Mínimos. Anunciou R$ 100 milhões para arroz e trigo, mas já se sabe que vai comprar ou ‘carregar’ não mais do que 300 mil toneladas. É pouco. Hoje, para os preços reagirem, o Brasil precisaria exportar nos seis meses restante do ano comercial pelo menos 500 mil toneladas e importar no máximo 200 mil. Ainda assim, se os preços subirem aqui, mantido o câmbio abaixo dos R$ 3,20 por dólar, todo o Mercosul plantará para jogar o produto no mercado brasileiro, que é o maior fora da Ásia e consome quase 12 milhões de toneladas de arroz por ano”

O GOVERNO PODE ATUAR DE ALGUMA MANEIRA?

“Sem dúvida a ação do governo é importante, mas prorrogações têm custo, transferir produto para o governo significa que ele vai voltar em algum momento ao mercado. Hoje, ao agricultor, resta reduzir o plantio em áreas que não tenham grande retorno ou produtividade, de maior custo, com muitos levantes de água, por exemplo, e contar cada centavo investido na lavoura, o que poucos fazem”

O QUE O PRODUTOR TEM DE FAZER?

“Quem puder escapar do cheque especial do crédito privado deve fazê-lo. A gestão do lado de dentro da porteira não é a solução para tudo, pois muitos problemas são de macroeconomia, mas a tomada de decisões depende do alto nível de controle de cada operação. Aquele produtor que tiver capital e condições agronômicas e estruturais para estabelecer rotação com soja na várzea, e pecuária, deve estudar a possibilidade, tomando cuidado com os muitos riscos que agregar esta atividade traz. Não pode contar apenas com a esperança de dar certo. Nas atuais circunstâncias, todo e qualquer investimento precisa dar certo”.

 

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