Arroz faz história em Camboriú

 Arroz faz história em Camboriú

As decisões do III Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado e XXV Reunião da Cultura do Arroz Irrigado .

A sociedade científica está interessada nos resultados que os laboratórios estão proporcionando na cultura do arroz, principalmente a diminuição do impacto ambiental produzido pela orizicultura. Esta foi a principal conclusão do III Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado e XXV Reunião da Cultura do Arroz Irrigado, realizado de 5 a 8 de agosto em Balneário Camboriú, numa promoção da Sociedade Sul-brasileira de Arroz Irrigado (Sosbai) e com a realização do Governo do Estado, Secretaria da Agricultura e Política Rural e da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri).

O evento foi marcado pela presença significativa de pesquisadores, técnicos, produtores, empresários e estudantes, além de palestras e discussões relevantes para o atual contexto da cadeia produtiva do arroz no sul do Brasil. O presidente da comissão organizadora do evento, Richard Bacha, que também dirige o Programa Arroz em Santa Catarina, comemorou os resultados alcançados.

Segundo ele, dois aspectos da cultura do arroz chamaram atenção especial no evento: o interesse da sociedade científica pela realização de pesquisas voltadas ao monitoramento e redução do impacto ambiental da orizicultura e melhor aproveitamento dos recursos ambientais, bem como a demanda por estudos científicos para agregar valores nutricionais ao grão. “Essas duas linhas se destacaram muito no congresso, com a busca de muitas informações por parte dos congressistas e a realização de interessantes debates”, frisa.

O presidente da Sosbai, que deixou o cargo durante o evento, Moacir Schiocchet, destacou a participação de congressistas de todo o Brasil e até mesmo internacionais. Para Schiocchet, um marco no evento foi a presença de delegações estrangeiras e de autoridades internacionais entre os alestrantes. “Alguns dos principais nomes da pesquisa em arroz do mundo estiveram presentes no evento, compartilhando o conhecimento, o resultado e os rumos das pesquisas que desenvolvem”, destacou.

Segundo ele, este é o objetivo maior do congresso, disseminar o conhecimento e promover a troca de experiências entre os cientistas, produtores e demais interessados. O presidente da Epagri, Athos de Almeida Lopes, também fez um balanço muito positivo do evento. “Além de todo o conhecimento aqui transmitido, pudemos demonstrar que nossa instituição e o Brasil desenvolvem pesquisas que não perdem em nada para as potenciais do mundo”, frisou.

ANOTE AÍ

O IV Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado acontecerá no início de agosto de 2005 na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. A promoção acontecerá conjuntamente com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), de onde é o novo presidente da Sociedade Sul-brasileira de Arroz Irrigado (Sosbai), Ênio Marchezan. Os preparativos já começaram, segundo o presidente e professor do Centro de Ciências Rurais da UFSM. Marchezan busca, agora, o apoio do Estado do Rio Grande do Sul, da Prefeitura de Santa Maria e demais entidades para viabilizar economicamente o evento. “Nossa idéia é reunir mais de mil técnicos e garantir uma presença mais expressiva de produtores no evento, como forma de integrar ainda mais pesquisa e produção”, explica.

BALANÇO

Temas do congresso

1. Perspectivas de aumento no potencial de produtividade em arroz irrigado 

2. Metodologia e resultados obtidos no programa do Flar de resistência ao frio 

3. Testes de toxicidade e análise de risco de agroquímicos 

4. Tratado internacional de recursos fitogenéticos 

5. Manejo integrado da cultura para otimizar a produtividade do arroz irrigado 

6. Além de genes e genomas: do modelo genético ao prato do dia 

7. Sistema clearfield de produção de arroz 

8. Estratégias para a produção de sementes de alta qualidade 

9. Situação atual e perspectivas do mercado de arroz 

10. Tipos especiais de arroz 

11. Pulverização eletrostática para reduzir impacto ambiental de agroquímicos

Fonte: programa do congresso

 

Arroz: alimento funcional

Uma das palestras que mais chamou atenção dos congressistas presentes ao III Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado, em Balneário Camboriú, foi a de abertura do evento: “O uso do arroz como alimento funcional”, ministrada pela doutora Ursula Maria Lanfer Marquez, da Universidade de São Paulo. Ela destacou que o arroz é alimento predominante em pelo menos 33 países em desenvolvimento e que somente nos últimos 25 anos verificou-se importante relação entre a dieta e as doenças crônicas.

Ursula enfatizou que com o avanço do conhecimento científico, descobriu-se que a ingestão de arroz pode, além da sua função primordial de suprir o organismo com calorias e nutrientes e promover a saciedade, também apresentar benefícios para a saúde. “Os alimentos funcionais situam-se numa categoria entre os alimentos convencionais e os medicamentos, devendo ser entendidos como coadjuvantes na prevenção de doenças, tais como obesidade, doenças cardiovasculares, alergias, diabetes, osteoporose e câncer”, relatou.

Ursula Marquez, no entanto, lembrou que não se pode atribuir a cura de uma doença, ou outro efeito benéfico durante o tratamento de uma disfunção orgânica já em curso, aos alimentos funcionais, à semelhança com os medicamentos. O impacto dos alimentos funcionais como agentes preventivos de doenças é muito relevante se forem levados em conta os custos acarretados pelas patologias descritas na palestra.

Assim, os recentes avanços científicos nesta área serão primordiais para redefinir o valor do arroz sob a ótica de potenciais benefícios para a saúde, exploração de suas excelentes propriedades físico-químicas, aplicações em novos produtos e estratégias de comercialização. Por estes fatores, lembra Ursula Marquez, pela primeira vez na história há enorme estímulo em promover o desenvolvimento da qualidade nutricional do arroz.
Exemplos disso são os usos da farinha de arroz, que absorve menos gordura em frituras do que outras fórmulas tradicionais, do óleo extraído do farelo de arroz que apresenta substâncias capazes de prevenir doenças crônicas cardíacas e câncer e das chamadas bebidas saudáveis ou suplementos dietéticos extraídos do extrato do farelo de arroz.

Ursula lembrou também da importância do melhoramento das cultivares de arroz, com a meta de acrescentar-lhes maior qualidade nutri-cional. É o caso do Golden Rice, com gene que incorpora a pró-vitamina A, ou o incremento em até 10 vezes, por via biossintética, da vitamina E no arroz. Segundo ela, no entanto, muitos destes trabalhos ainda não são conclusivos e demandam de tempo para alcançarem os resultados desejados. “O importante é que o arroz vai continuar, mais do que nunca, a receber atenção não apenas como alimento básico, mas como matéria-prima para o desenvolvimento de novos produtos, visando a saúde e o bem-estar da população”.

Ursula Maria Lanfer Marquez

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