Arroz gaúcho: 50 anos em 25
Planeta Arroz registrou os 25 anos de avanços tecnológicos e de sustentabilidade do setor
Nos últimos 25 anos, desde a circulação da primeira edição da revista Planeta Arroz, em maio de 2000, a produção de arroz no Rio Grande do Sul passou por transformações significativas, impulsionadas por inovações tecnológicas, mudanças nas práticas agrícolas, adaptações às condições climáticas e resiliência diante das oscilações do mercado. Esse período foi marcado por avanços na produtividade, redução das áreas cultivadas, predominância das lavouras irrigadas e uma retomada expressiva das exportações.
Entre 2000 e 2020, por exemplo, o Brasil registrou uma redução de 53% na área plantada com arroz, de 3,677 milhões para 1,720 milhão de hectares. No Rio Grande do Sul, a área cultivada, que chegou a beirar 1,2 milhão de hectares, recuou para 948 mil em 2024, mas com uma significativa elevação da produtividade média, que saltou de 5,5 para 8,5 toneladas por hectare.
Esse aumento na produtividade foi impulsionado a partir de 2005 pelo revolucionário programa Arroz RS, do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), que deu origem ao Projeto 10. Este propunha, por meio de um conjunto de tecnologias que integravam cultivares, defensivos, manejo do solo, irrigação e cultura mais eficientes. A combinação do uso de tecnologias de irrigação mais precisas e a adoção de cultivares de ciclo mais curto permitiu uma utilização mais eficiente dos recursos hídricos, enquanto a redução do volume de sementes (que caiu de até 180 kg por hectare para até 45 kg em algumas áreas) diminuiu o desperdício. A fertilização passou por uma revisão completa e tornou a cultura mais responsiva ao adubo.
Nem todos os produtores chegaram à média de 10 mil quilos por hectare, mas muitos avançaram. Para sanar essa lacuna na produção, surgiu o Projeto 10+, em parceria com o Fundo Latino-Americano de Arroz Irrigado (Flar), que otimizou as práticas do Projeto 10 e enfatizou o modelo de extensão rural focado na eficiência produtiva. As sementes passaram a contar com mais tecnologia embarcada, e as cultivares tornaram-se mais resistentes ao frio do cedo, a doenças, pragas, plantas invasoras e mais tolerantes a defensivos.
O Irga desempenhou um papel crucial na implementação de tecnologias que contribuíram para o aumento da produtividade e da sustentabilidade da cultura. O projeto Soja 6000, por exemplo, introduziu a rotação de culturas com soja e milho, o uso de plantas de cobertura, como o trevo-persa, e a integração com a pecuária, aliada ao plantio direto. Esse sistema permitiu que a produtividade média no estado alcançasse 12 toneladas por hectare, superando a média anterior de 8,5 toneladas em algumas propriedades. Com a aplicação de todas as técnicas e condições climáticas favoráveis, o Irga assegura que vários produtores estejam aptos a alcançar 14 toneladas por hectare.
Uso mais eficiente da água
A gestão eficiente da água tornou-se uma prioridade, especialmente em um estado onde a irrigação é essencial para a produção de arroz. Tecnologias como o uso de pivôs centrais e politubos permitiram economias significativas no consumo hídrico. Por exemplo, a adoção de pivôs centrais resultou em uma economia de até 43% no uso da água, mantendo a produtividade das lavouras na Fronteira Oeste.
Além disso, a cultivar BRS Pampa CL, desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), demonstrou uma redução de 15% na necessidade de irrigação em comparação com cultivares de ciclos mais longos, devido ao seu ciclo mais curto e à resistência a doenças. A Embrapa não apenas avançou na oferta de cultivares irrigadas com alto potencial produtivo, como também atendeu a demandas específicas de cultivares e manejo para lavouras de terras altas, sob pivô, ou nas planícies do Maranhão.
Arroz múltiplo
Nos últimos anos, observou-se uma crescente integração do arroz com outras culturas, como soja, milho e pecuária, especialmente em terras baixas, como forma de gerar sustentabilidade para as áreas produtivas, as propriedades e a sociedade. Os centros de pesquisa têm incentivado essa prática por meio dos programas Pró-Milho/RS, Soja 6000 e ILP, que buscam otimizar o uso da terra e dos recursos hídricos, promovendo sistemas de produção sustentáveis e diversificados — transformando o ambiente de uma safra anual para até três safras por ano.
A mudança contou com inovações, como os politubos, técnicas de drenagem e o sistema de sulco-camalhão, desenvolvido pela Embrapa. Surgiu a lavoura multigrãos, que cicla nutrientes, quebra ciclo de pragas, doenças e invasoras e melhora o solo. Fatores econômicos a recomendam.
Instituições como a Embrapa e o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), além de empresas privadas como a Basf e a RiceTec, têm investido no melhoramento genético do arroz, resultando em cultivares e híbridos que oferecem maior resistência a doenças, melhor desempenho em diferentes condições climáticas e eficiência no uso de recursos. Esses avanços têm contribuído para uma produção mais robusta e adaptada às necessidades do mercado.
A retomada das exportações
A partir de 2006, o Brasil experimentou uma recuperação nas exportações de arroz. A iniciativa associou o Projeto Exportação, do Programa Arroz RS, do governo do Rio Grande do Sul, à ação de alguns transportadores e tradings que passaram a vender os quebrados de arroz excedentes das indústrias do Sul e do Mato Grosso. Essa retomada foi impulsionada pela melhoria na qualidade do produto, pelo aumento da competitividade e pela adoção de práticas agrícolas mais eficientes — mas também por avanços significativos na logística e transporte, além do convênio que originou o programa Brazilian Rice, reunindo a Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) e a Apex-Brasil.
O Rio Grande do Sul, como principal produtor nacional, desempenhou um papel fundamental nesse processo, consolidando o Brasil como um dos maiores exportadores de arroz do mundo — chegando, em um dos exercícios, a superar dois milhões de toneladas despachadas. Nos últimos 25 anos, o país obteve um superávit de quase 16 milhões de toneladas em base casca.