Arroz: um grande investimento
A Capital do Arroz busca na tecnologia dias melhores.
A orizicultura é uma das principais engrenagens que move a economia do município de Cachoeira do Sul (RS), a Capital Nacional do Arroz. O secretário municipal de Agricultura e Pecuária, Antônio Wilson Correa da Silva, destaca a importância do agronegócio do arroz para o município, debate o momento de crise e vê dias melhores no futuro.
Entrevista: Antônio Wilson Correa da Silva, secretário de Agricultura de Cachoeira do Sul
Planeta Arroz – Qual a importância do arroz na economia de Cachoeira do Sul?
Antônio Wilson – O montante de recursos investidos na lavoura orizícola de Cachoeira do Sul é muito expressivo, considerando-se o conjunto de variáveis econômicas. A estimativa da área de plantio do arroz é superior a 40 mil hectares/ano. Se considerar-mos o montante dos custos fixos e variáveis por hectare, que são de R$ 3.423,00 (dados fornecidos pelo Irga – fev/2005), teremos um investimento anual nas lavouras do município em torno de R$ 137 milhões. Este volume de recursos representa 25,85% do produto interno bruto (PIB) de nosso município.
Planeta – De que forma a Prefeitura incentiva o desenvolvimento da cadeia produtiva do arroz?
AW – A Secretaria Municipal de Agricultura e Pecuária (Smap) está ciente da grande importância da atividade orizícola para o desenvolvimento do município. Com este enfoque principal, se encontram em fase de estudos projetos que visam capacitar e aprimorar técnicos e produtores, mediante a utilização de tecnologias de produção e comercialização que possam trazer redução de custos e melhor lucratividade. A sistematização do solo, a rizipiscicultura, a pré-germinação são processos inovadores, os quais diversificam e minimizam os custos da propriedade. A Secretaria Municipal de Indústria e Comércio mantém, também, contato próximo das indústrias do setor, como forma de oferecer apoio naquilo que o Município puder. Cachoeira do Sul tem programas importantes de incentivos à atividade industrial, e o fato de estar na metade sul do estado abre linhas de financiamento prioritárias no âmbito estadual.
Planeta – O que o senhor destacaria como fundamental neste momento?
AW– Cachoeira do Sul ainda permite, pela conjuntura, a saída de 70 mil toneladas de arroz em casca do município. Precisaríamos beneficiar um volume maior e atrair a produção de um volume mais significativo da Depressão Central. Esse é um assunto que merece melhor avaliação. Na atual conjuntura econômica do setor primário, é indispensável a agregação de valores aos bens e serviços produzidos. É hora de substituirmos o processo de comercializá-los na forma in natura, como o fazemos até o presente momento, com grande parte da produção. A Secretaria Municipal de Agricultura e Pecuária está elaborando projetos de industrialização por meio da implantação de um Centro Tecnológico de Treinamento e Pesquisas, em convênio com a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) e a Emater/RS, com recursos federais.
Planeta – Atualmente, onde é rentável investir no setor orizícola?
AW – A rentabilidade do setor está comprometida em todo o território nacional, tendo em vista os altos custos sociais e fiscais impostos à cadeia produtiva. Compete à sociedade politicamente organizada gestionar a redução do chamado “custo Brasil” que afeta todos os segmentos produtivos. O produtor precisa de recursos para melhorar a infra-estrutura da lavoura e aplicar tecnologias que lhe permitam reduzir custos e aumentar a produtividade. A indústria também precisa investir para se modernizar e atender as demandas do mercado com menor custo. E o setor busca a geração de novos produtos a partir de seus derivados – da energia elétrica até farinhas especiais e a exportação – como forma de incentivar o aumento de consumo interno.
Planeta – Quais as suas perspectivas para o futuro da lavoura de arroz em Cachoeira do Sul?
AW – Historicamente podemos concluir que estas crises são cíclicas, por isso acreditamos que a cadeia produtiva do arroz, mesmo com as dificuldades deste cenário, irá superar mais esta crise. A curto prazo, no entanto, permanecendo inalteráveis todas as variáveis anteriormente citadas, teremos o seguinte cenário para a cadeia produtiva de arroz: redução da área plantada e na aplicação de insumos, com evidente impacto na produtividade e na produção total do município. O ideal, num momento crítico como este, é que o produtor não abra mão da tecnologia. Ele deve, sim, abrir mão de plantar em áreas mais comprometidas por inços, que exijam maior investimento, com dois ou três levantes de água. É preciso racionalizar e planejar a lavoura para evitar aumento de custo e baixa produtividade.
Planeta – Como o senhor vê este esforço da indústria de arroz para abrir mercado internacional?
AW – Considerando-se que o Brasil faz parte de uma economia aberta com o resto do mundo e que a maioria dos países pratica o preço de 9,60 dólares por saco de 60 quilos e a taxa nominal de câmbio é atualmente de R$ 2,26 para um dólar, teremos o preço de R$ 21,59 para sacos de 60 quilos no mercado nacional. Logo, a taxa real do câmbio para exportação não deverá ultrapassar estes valores, tendo em vista que os preços internacionais são estáveis. Ocorrendo elevação da taxa nominal de câmbio, os preços internos sofrerão reajustes na mesma proporção. Entretanto, o país perde competitividade no mercado internacional. A solução para o problema deverá ser encontrada dentro de nossas fronteiras. A redução da carga tributária, redução dos custos dos insumos e redução da carga dos custos sociais são medidas que se impõem para que sejamos competitivos no mercado interno e externo.