Arrozeiro gaúcho agonizando… morte anunciada!

Autoria: Ademar Leomar Kochenborger* – Presidente da União Central de Rizicultores.

 A realidade da tradicional lavoura arrozeira gaúcha é lastimável. Todos que atuam nesta importante cadeia, que gera empregos e divisas, que outrora gerava também renda, sabem enumerar os problemas. Todos nós, arrozeiros, lideranças, políticos, indústrias, técnicos, governos, etc..afirmam e chegam a “dar aula” sobre os problemas do arroz, os políticos, inclusive, ganham votos com discursos inflamados.

As lideranças fazem reuniões todos os meses, inclusive com a participação de autoridades governamentais, e, os relatos da problemática são exaustivos, apontam praticamente todos os entraves e dificuldades do setor. O arrozeiro cansou de ouvir discursos, relatando os problemas, SEM NADA PRÁTICO PARA SOLUCIONAR as questões que estão inviabilizando por completo este negócio, importante para os gaúchos. Neste sentido, a bem da verdade, podemos concluir que a solução não vem, mesmo conhecendo os problemas, porque a mesma é difícil de ser alcançada.

Deveríamos produzir com um custo menor e vender nosso produto com determinada rentabilidade. Esta é a lógica de qualquer atividade ou negócio.

O arrozeiro é, essencialmente, tomador de preços, ou seja, o mercado impõe o preço de todo o seu custo de produção. A única opção seria reduzir a utilização de insumos ou tecnologias, o que, sabidamente, reduziria produtividade. Não é a solução. Quanto ao preço de comercialização, da mesma forma, recebe o que as leis de mercado impõem.

O que poderia explicar que o arrozeiro, cambaleante ou pré-insolvente, consiga ainda continuar nesta insana atividade? Alguns dizem que é uma “cachaça braba”, pois ficam acumulando dívidas e não reduzem a área de plantio. Isto é inexplicável, mesmo numa simples análise preliminar, ou seja, nenhum negócio sobreviveria acumulando prejuízos. Qualquer comércio, indústria, prestação de serviços, com toda certeza, já teriam fechado suas portas, pois, é o retrato frio e cruel dos números, que impõe o fim das atividades.

A FEDERARROZ divulgou e recomendou a redução de área de plantio de arroz para a safra 2017/2018. Num primeiro momento, não seria necessária esta recomendação, pois, o arrozeiro estava ciente das suas dificuldades, vinculadas ao baixo preço de comercialização e alto custo de produção, e, prontamente iria reduzir a sua área de plantio, muito mais em cima do seu endividamento, do que por qualquer outro fator, ou mesmo esta sugestão.

A nossa surpresa com os números divulgados, em relação a intenção de plantio, foi enorme. Num primeiro momento não acreditamos. Como este setor descapitalizado, com pouco recurso oficial, alto endividamento, 70% arrendatários, parque de máquinas sucateado, poderia continuar cultivando, praticamente, a mesma área dos últimos anos.

No RS a redução prevista é de apenas 27.500 hectares. No MERCOSUL, a redução na Argentina (13.000 hectares) é compensada pelo aumento no Paraguai. No Uruguai temos uma redução de 14.000 hectares. Desta forma, a meta de redução de 250.000 hectares no MERCOSUL e RS, atingiu apenas 41.500 hectares, ou seja, 16,6% da meta prevista.

A redução de área, de forma coletiva no MERCOSUL, é uma boa alternativa, para equilibrar a oferta. Proporcionalmente ao que cada país produz, a meta de redução no RS seria de 175.000 hectares. O arrozeiro gaúcho, por vocação, exímio plantador, está acreditando em algum milagre, ou seja, fará uma lavoura barata, o clima vai ajudar e o arroz vai ter um alto preço. Isto não é trabalhar com inteligência e, sim, apostar no improvável.

Muitos arrozeiros, aqui na Depressão Central, estão encerrando suas atividades, por total incapacidade financeira de manter o negócio. Por incrível que pareça, as “piores” áreas da região, inçadas de vermelho e muito baixas, que foram abandonadas, estão sendo arrendadas para pessoas desinformadas, que desconhecem o risco do negócio e que acreditam em “milagres”. A quebradeira destes pseudo-produtores é certa.

Com o custo de produção do arroz ao redor de R$ 7.000,00 por hectare (dizem que é mais) e com o preço de venda de R$ 38,00 por saco (hoje é menor que isso), é necessário colher “apenas” 184,21 sacos por hectare, quando a média normal alcança 150 sacos por hectare.

Analisando estes dados, podemos afirmar que a probabilidade de aumento nos custos de produção é elevadíssima e que a probabilidade de redução no preço de comercialização também é elevadíssima, concluindo que é inviável produzir arroz. Não é possível conceber que não ocorra uma brutal redução de área de plantio na próxima safra. É PURA INSANIDADE.

Clamo aos colegas que reduzam suas áreas de plantio. Ainda podemos salvar este negócio. A sugestão é abandonar as áreas menos produtivas, com mais invasoras, com mais levantes, com arrendamentos mais caros, etc.. Atualmente, as lavouras que adotam sistema de dois cortes deveriam passar para três cortes.

Sabemos que somente a redução de área pode ser insuficiente. Perderíamos mercado, por isso a redução tem que ser coletiva no MERCOSUL. Os nossos parceiros castelhanos tem um custo muito menor que o nosso, e, sendo assim, não irão reduzir área, especialmente o Paraguaí, que abastece o centro do nosso país, com alguma rentabilidade. Importa destacar, que a redução da área de plantio de trigo, não resolveu a problemática do preço, eis que mesmo com grande redução de área, o preço é baixíssimo,inviabilizando esta atividade no RS.

Não temos nada contra o Paraguai e demais países vizinhos, só queremos
igualdade de condições.

O arroz do MERCOSUL entra livremente no Brasil e porque os insumos, sabidamente, mais baratos, não podem entrar no Brasil. A solução seria taxar as importações.

Outra alternativa seria a redução da carga tributária incidente sobre a produção, que gira em torno de 30% da porteira para dentro, inviabilizando o negócio. A pergunta que não quer calar: haveria interesse do governo “quebrado” abrir mão de impostos? A decisão deveria ser técnica, econômica, política e social, contemplando e balançando todos os interesses envolvidos. A redução do custo de produção, através da redução da carga tributária é medida urgente e imprescindível. Com a palavra as nossas lideranças e classe política.

A lavoura arrozeira segue destino semelhante à lavoura de trigo, que praticamente inexiste, como alternativa econômica. Infelizmente a classe é muito desunida, altamente individualista, sem participação nas entidades de classe e, especialmente, nas associações de arrozeiros. Reclamamos de tudo, mas não estamos fazendo a nossa parte. Não há política agrícola, não há entidades e lideranças fortes na defesa do setor, não enxergamos políticos sérios e comprometidos com a categoria. Na realidade não temos nada, apenas vontade de plantar de forma desorganizada não leva a nada.

Na verdade está levando para um triste fim, desta anunciada morte.

Cachoeira do Sul (RS), 31 de agosto de 2017.

3 Comentários

  • Complicada a situação.A redução da área plantada pode ser a solução. Em 2017 juntamente com safra cheia ocorreu uma forte retração no consumo do arroz. Bom….aí é um Deus nos acuda. O GRANDE problema é O QUE FAZER COM AS DÍVIDAS?

  • Acho uma vergonha essa situação. Com todo esse dinheiro roubado de lava jato, nossos produtores com dificuldades para produzir alimento aonde existem pessoas morrendo de fome.

  • uma atividade economica aonde não temos o dominio da ponta torna-se praticamente inviavel a não ser que se trabalhe com recursos proprios tornando o negocio algo parecido com jogo de roleta onde se casa os recursos e se perde perde-se o que é seu mas qdo se perde o dinheiro dos outros(bancos,fornecedores, instituições de credito,etc..),vira um Deus nos acuda por que ninguem pode abrir mão de nada.Infelizmente o produtor terá que fazer sua lavoura do tamanho do seu bolso e não do seu crédito,pois assim qdo se colhe à safra ainda é sua e não mais dos outros.

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