Às portas de modificações estruturais na lavoura de arroz

Há, no mínimo, duas principais vias para você prover capital para desenvolvimento de suas atividades produtivas: capital próprio ou de terceiros. É preciso considerar que, mesmo quando capitalizada, a maioria dos produtores faz uso da segunda opção tendo em vista maior segurança relativa do capital empreendido.

Vamos ver como. Se o financiamento foi por intermédio de banco, com recursos oriundos de programas governamentais, além de custo relativamente baixo, sempre haverá a possibilidade de uma prorrogação de vencimento, além do seguro institucional, em caso de insucesso na atividade.

O problema é que nem todos os produtores são contemplados por esse tipo de financiamento, o que leva uma parte expressiva a fazer uso de recursos privados puramente comerciais (de indústrias ou fornecedores de insumos) ou mistos.

Embora com custo bastante superior, nestes casos ainda persiste possibilidade de negociação. Com a utilização de recursos próprios, em caso de qualquer malogro, a perda do capital aplicado é inevitável, não há possibilidade de recuperação.

Como resultado dessa complexa equação resulta que o capital do produtor, quando existente, é reservado para casos de real catástrofe, como meio de sobrevivência e recuperação.

David J. Rockfeller dizia que mesmo todo bom e seguro negócio devia ser financiado com recursos bancários, de terceiros. Ele era banqueiro e não sei se também se referia à agricultura como bom negócio.

O fato é que a atividade agrícola é de alto risco e, mesmo com a possibilidade de prorrogações e seguros, os frequentes prejuízos nunca são completamente cobertos e resultam em acumulação de passivo, fato que parece estar ocorrendo agora.

No caso de financiamentos puramente comerciais, o caso é sempre pior. Também não podemos nos esquecer das dificuldades de acesso a financiamentos bancários por motivos cadastrais.
Talvez o maior problema da lavoura de arroz não seja a origem e o custo dos recursos. Quase não se fala sobre a importância do problema fundiário…

Tenho observado um cíclico endividamento de parte do setor. De tempos em tempos surgem movimentos em busca de soluções efetivas que só podem resultar dos próprios produtores uma vez que, em muitas das vezes, o endividamento é consequência da gestão da atividade e da escolha de opções.

O alto custo de produção tem sido a queixa mais veemente de produtores. Não podemos nos esquecer de que o mercado não está preocupado com nosso custo de produção, que não pode ser repassado aos consumidores.

O tempo da fórmula “custo de produção mais lucro igual a preço” passou. Atualmente é “preço de mercado menos custo de produção igual a lucro”. Hoje em dia, até produzir com baixos custos de produção já não é suficiente para assegurar a sobrevivência do negócio.

Cada vez mais há que submeter a produção a exigentes normas trabalhistas, barreiras técnicas e alta exigência de qualidade, isto sem contar com os aspectos políticos, imposição de métodos científicos de controle de qualidade e segurança alimentar e do trabalhador tanto na lavoura quanto na indústria.

Como se não bastasse, o custo de produção local está submetido ao preço internacional. Cada um é livre para adquirir o produto nas condições pretendidas, na quantidade desejada e pelo preço que lhe for conveniente. Fatores externos influenciam o custo de produção, mas uma boa gestão pode ajudar a reduzir sua influência.

O uso indiscriminado da tecnologia, por exemplo. Até que ponto sua utilização proporciona boa relação de custo-benefício? Usar terras fora do zoneamento indicado? Plantar a qualquer custo de arrendamento? Produzir está cada vez mais difícil e isto, forçosamente, submeterá a atividade a condições de exigências que só a concentração de lavouras permitirá suportar.
Estamos às portas de substanciais modificações estruturais na lavoura de arroz.

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