Avanços das práticas de controle de arroz vermelho

O arroz vermelho é a planta daninha de maior importância à cultura do arroz irrigado. Se concentrarmos a atenção nos últimos 20 anos de produção orizícola no Rio Grande do Sul e dividirmos em duas partes, a primeira de 1993 a 2003 e a segunda de 2003 a 2013, teremos momentos distintos relativos a diversos aspectos da lavoura arrozeira, principalmente de manejo de arroz vermelho.

Essas duas décadas corresponderiam, respectivamente, aos 10 anos anteriores e posteriores ao lançamento da tecnologia Clearfield de controle de arroz vermelho. Essa tecnologia foi desenvolvida para o controle seletivo e baseia-se no uso de cultivares tolerantes ao uso de herbicidas do grupo das imidazolinonas para realizar o controle. O primeiro período (1993-2003), poderíamos denominar como a “época da convivência”, quando os produtores usavam, em menor ou maior grau, uma ou um conjunto de práticas de manejo para reduzir a incidência do vermelho em suas áreas, tais como:

1. Rotação de culturas; 2. Pousio do solo; 3. Integração com produção animal; 4. Catação manual de plantas ou panículas de arroz vermelho (rouguing); 5. Uso de barra química com glifosato para controlar o arroz vermelho por diferença de altura de plantas; 6. Semeadura no sistema pré-germinado com lâmina contínua; 7. Capina das plantas na entrelinha da cultura arroz; 8. Cultivo mínimo com semeadura direta, entre outras.

Estas técnicas, quando possíveis de serem empregadas, permitiram aos produtores conviverem com a planta daninha, porém não eram suficientes para evitar os prejuízos em áreas infestadas. Muitas lavouras onde não era possível ou usadas as práticas de manejo integrado acabavam sem semeadura, com arroz por um período variado de tempo.

A segunda década foi a da “salvação da lavoura”, pelo lançamento do sistema Clearfield, tecnologia que os arrozeiros esperavam há muito tempo. Este sistema surgiu em momento crucial e auxiliou na execução de projetos de elevação de produtividade das lavouras gaúchas.

Os ganhos produtivos e tecnológicos da combinação Projeto 10, do Irga, com o sistema Clearfield, por exemplo, foram enormes, com benefícios à lavoura arrozeira como:

1. Possibilidade do controle seletivo do arroz vermelho na cultura do arroz irrigado, com a aplicação de apenas um herbicida; 2. Aumento do rendimento de grãos do arroz irrigado como um parceiro importante ao Projeto 10 do Irga; 3. Retomada do cultivo nas áreas abandonadas por excesso de infestação por arroz daninho; 4. Controle de outras plantas daninhas pelo largo espectro de ação dos herbicidas usados.

Novas tecnologias trazem consigo desafios e aprendizados. Na sua implementação, imprevistos podem acontecer, o que pode, em longo prazo e em certa extensão, comprometer em parte o uso da tecnologia. Com o Clearfield não foi diferente:

1. Sementes tolerantes chegaram ao mercado antes do lançamento oficial da tecnologia, muitas vezes com baixa qualidade e infestadas por de arroz vermelho;
2. Semeadura do sistema Clearfield em áreas sem problemas com a invasora, pela flexibilidade do sistema e a eficiência dos herbicidas;
3. Uso de herbicidas não registrados para a cultura em doses inadequadas ao controle eficiente da planta daninha;
4. Apesar da recomendação do uso da tecnologia por apenas dois anos e a rotação com outro cultivo ou arroz não tolerante, muitos produtores a mantiveram por mais safras, aumentando a pressão seletiva de plantas resistentes e o cruzamento do Clearfield com o daninho;
5. Abandono dos métodos de manejo usados anteriormente.
Apesar desses problemas, para produtores que fizeram um bom uso da tecnologia e para a lavoura arrozeira, o legado da tecnologia foi imenso. Se unirmos o que aprendemos em duas décadas, somando manejo integrado de plantas daninhas e sistema Clearfield, podemos construir uma lavoura sustentável em manejo de arroz vermelho.

Com o aprendizado desses 20 anos e a chegada de uma alternativa economicamente viável de rotação de culturas nas terras baixas do Rio Grande do Sul, que é o caso da soja, se espera que entremos em nova década, a do manejo integrado e o controle seletivo de arroz daninho, garantindo um manejo sustentável de arroz comercial de longo prazo.

Luis Antônio de Avila
Professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)

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