Baixa demanda e exportações limitadas restringem produção de arroz no Brasil
*Lucílio Alves
Professor da Esalq/USP
Pesquisador responsável pelas equipes de Grãos, Fibras e Tubérculos do Cepea
*Geraldo Barros
Coordenador científico do Cepea
cepea@usp.br
O arroz ocupa o terceiro lugar em termos de área com grãos e cereais no mundo, atrás do trigo e do milho. O arroz é cultivado em cerca de 120 países, sendo os asiáticos os principais produtores e consumidores. As proporções de produção e consumo são semelhantes para cada país, com o comércio internacional respondendo por pouco mais de 10% do fornecimento global. Uma das razões que explicam a relativa autossuficiência no mercado de arroz é o fato de que há diferentes preferências por tipos do cereal entre os países, com o consumo focado no tipo produzido localmente.
O consumo global de arroz continua aumentando, mas em taxas modestas. No sudeste e sul da Ásia, onde o consumo per capita é alto, a diversificação das dietas reduziu a demanda, com o arroz sendo substituído por subprodutos do trigo. Em muitos países africanos, o consumo do cereal vem aumentando, especialmente em áreas urbanas.
Nesse contexto, países que conseguem gerar excedente de oferta têm dificuldades com exportações para ganhar escala e competitividade. O desempenho de cada país depende majoritariamente do mercado interno, ou seja, do crescimento populacional e da renda per capita. No Brasil, em média, a demanda interna por arroz caiu 0,57% ao ano desde 2001/02; desde 2010/11, a queda foi de 1,2% a.a.
Limitações no consumo e na exportação levaram a uma forte redução na área destinada ao arroz no Brasil. Comparando as três últimas safras (2022 a 2024) com o período entre 2001 e 2005, a redução foi de 54,5%. Ainda assim, a produção apresentou tendência crescente até pelo menos a safra 2010/11. Nos anos seguintes, apesar das oscilações, houve tendência de queda na oferta, embora não na mesma intensidade da redução da área. Houve aumento significativo da produtividade ao longo do século XXI, com o uso de cultivares com maiores rendimentos e ajustes no manejo da lavoura.
A oferta brasileira de arroz se concentra no Sul, especialmente no estado do Rio Grande do Sul, o que também aumenta os problemas de logística para atender a demanda em diferentes regiões. O Brasil costuma ter pequeno superávit no comércio internacional de arroz, mas também tem importações frequentes do Paraguai, Argentina e Uruguai. Em geral, os volumes importados e exportados são muito próximos, com importações ocorrendo em anos de menor produção e exportações aumentando em anos de superávit.
Do início dos anos 2000 até 2009/10, o Brasil era tipicamente um pequeno importador líquido, tornando-se um pequeno exportador líquido desde então. De 2001 a 2024, o Brasil foi um exportador líquido em 12 anos e um importador líquido em 11. Nesses 23 anos, tanto as exportações quanto as importações de arroz corresponderam, em média, a 9% da produção nacional.
Em relação aos preços no mercado interno, os valores costumam seguir as cotações internacionais – Paridade Internacional de Preços (IPP) –, mesmo que a participação efetiva do Brasil no mercado internacional de arroz não seja significativa. Considerando como referências o Índice de Preços do Arroz Indica, calculado pela FAO para o mercado internacional, e o Índice de Preços do Arroz CEPEA/IRGA-RS (Estado do Rio Grande do Sul), o valor no Brasil segue uma tendência próxima ao Indica internalizado. Nos últimos 23 anos, os preços internos foram 8,8% maiores que o Índice FAO internalizado, em média.
De 2005 a 2024, o valor real do arroz no Brasil, em média, permaneceu o mesmo, com uma taxa de aumento de 0,12% ao ano.
Em geral, a produção brasileira de arroz tem se mantido relativamente estável nos últimos 20 anos, assim como os preços reais. O aumento significativo da produtividade tem mantido a oferta interna no nível da demanda efetiva (que caiu cerca de 10% de 2000 a 2023), compensando a redução da área. Definitivamente não há necessidade de mais intervenção, uma vez que tem funcionado de forma eficiente, promovendo exportações e importações de acordo com as condições de mercado.