Baixa renda sofre mais com alta do preço do arroz, diz Embrapa
Famílias com renda de até cinco salários mínimos estão consumindo mais arroz. Nas famílias que ganham mais de 15 salários, produto é substituído por outros alimentos.
Baixa renda sofre mais com alta do preço do arroz, diz Embrapa
A escalada nos preços do arroz, produto que já subiu 15% nos últimos 30 dias em São Paulo por conta das notícias de escassez no mercado mundial, vai prejudicar principalmente as famílias de baixa renda, que ganham até seis salários mínimos, de acordo com a chefe-geral da unidade de arroz e feijão da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Beatriz da Silveira Pinheiro.
Segundo um estudo da Embrapa feito a partir da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), isso ocorre porque, à medida que passam a receber mais, as famílias de baixa renda passam a consumir mais arroz e feijão. Para quem ganha acima disso, acontece a substituição deste produto por outros alimentos.
Renda e consumo
Na comparação das pesquisas feitas em 1995-1996 e em 2002-2003, o consumo de arroz na baixa renda cresceu de 20 para 38 quilos anuais. Já nas famílias com renda superior a 15 salários mínimos, o consumo individual de arroz caiu de 25 para 20 quilos em igual período. A nova POF completa está sendo realizada pelo IBGE, e o período de coleta vai até setembro de 2008.
Apesar de o estudo ser relativamente antigo, a pesquisadora diz que o público beneficiado por programas sociais como o Bolsa-Família desde 2003 – ano de início do governo Lula – pode ser considerado como exemplo do público que passou a consumir mais arroz graças ao aumento da renda. Esse público, segundo Beatriz, é “ávido por arroz e feijão”.
Como existem duas tendências em relação ao consumo, a demanda interna por arroz cresce a patamares relativamente baixos. Desde 1999, o consumo brasileiro cresceu de 11,85 milhões para 13,1 milhões de toneladas anuais – uma alta de 10,5%. Nos últimos três anos, como mostram os números da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o consumo acompanhou a produção, mantendo-se praticamente estável.
Oferta e demanda
O reajuste dos preços do arroz, considerado o abastecimento brasileiro, não tem razão de ser, segundo especialistas ouvidos pelo G1. De acordo com a Conab, entre produção local, importação já contratada e estoques – descontada da exportação ainda incipiente -, o Brasil terá uma “sobra” de 1,2 milhão de toneladas ao fim do ciclo 2007-2008, previsto para maio.
– Está sobrando um pouco. Não veria preocupações para o abastecimento interno – ressalta a pesquisadora, lembrando que houve alta da produtividade nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que são responsáveis por quase 70% da produção nacional.
Além disso, há espaço para crescimento para a cultura em Mato Grosso, Pará, Maranhão e Piauí.
– Com planejamento, podemos pensar até em abastecer o mercado externo – ressalta Beatriz.
Depois de atingir 13,5 milhões de toneladas de arroz no ciclo 2004/2005, a produção brasileira estacionou abaixo dos 12 milhões de toneladas nos últimos anos. De acordo com a analista da MB Agro, Ana Laura Menegatti, a produção brasileira caiu porque os preços praticados nos últimos anos não incentivavam a opção pela cultura.
Preço e mercado
Entretanto, como o mercado é determinado pela oferta e demanda, Ana Laura diz que há um incentivo à produção de arroz na próxima safra.
– A tendência é que oferta e preço se normalizem, provavelmente num nível de preço mais elevado. Se o incentivo de preço superar a alta dos custos, haverá expansão da produção, como está acontecendo com o trigo. Este ano, a produção brasileira de trigo deve aumentar até 20% – compara.
A previsão de Ana Laura é confirmada pelo presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc), Neivor Canton. Segundo ele, o preço mais alto para o produtor – a saca, nos últimos meses, passou de R$ 19 para mais de R$ 30 – pode servir de incentivo para o ingresso de novos agricultores no cultivo do arroz.
“(O produtor) vai fazer sua parte, vai plantar”, ressalta Canton, lembrando que os valores podem incentivar também a busca de mercados alternativos para exportação. As vendas externas de arroz ainda são pequenas, mas vêm crescendo rapidamente: passaram de 21 mil toneladas, no ciclo 1999-2000, para 400 mil toneladas na atual safra.
Brasil e exterior
Para Sílvia Helena de Miranda, pesquisadora do Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP), o Brasil tem mais flexibilidade para evitar uma real “crise do arroz” do que os países asiáticos – isso porque a demanda está sob controle e há espaço para o aumento da produção.
– O Brasil tem uma situação relativamente privilegiada. Nós temos flexibilidade para aumentar a produção. Temos mais água e terras disponíveis do que outros países. A nossa flexibilidade para responder à crise é maior. E nosso consumo de arroz está relativamente estabilizado. Aqui não houve, como na Ásia, um crescimento tão explosivo do consumo – ressalta a pesquisadora