Big Brother na lavoura
Controle pela população é fundamental
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Nesta safra, mais do que nas anteriores, os produtores devem ficar atentos às altas populações de insetos que vêm causando danos à produtividade das lavouras irrigadas do Rio Grande do Sul. O alerta é do entomologista do Irga, Jaime Vargas de Oliveira, que recomenda o monitoramento e o controle de pragas com produtos registrados de menor impacto ambiental.
O pesquisador informa que a principal praga da cultura do arroz continua sendo a bicheira-da-raiz (Oryzophagus oryzae). A seguir destaca o percevejo-do-colmo (Tibraca libativentris), a lagarta-da-panícula (Pseudaletia adultera), cuja população vem crescendo a cada ano, e a lagarta-da-folha (Spodoptera frugiperda), que ataca a planta desde seu período inicial até próximo à fase de emissão da panícula.
A preocupação em relação à lagarta-da-folha se justifica: uma área expressiva do estado – mais de 150 mil hectares de lavoura – foi atacada só neste ano. “Ocorre que quando o produtor vai fazer o controle através da pulverização, geralmente pela manhã, nas áreas onde não foi irrigado, a lagarta está abrigada embaixo de torrões pelas altas temperaturas. Então, o produto não atinge a lagarta e a eficácia é baixa”, explica.
Hoje a pesquisa recomenda que o produtor faça um manejo adequado dessa lagarta sem o uso intensivo de controle químico. “A pulverização é mais adequada no final da tarde, com a temperatura mais baixa, para que o produto possa atingir a lagarta por contato, mas também para que possa permanecer nessa planta. Assim, a lagarta, ao se alimentar da planta, acaba morrendo. Isso permite que o produtor faça uma única pulverização, reduzindo o custo com defensivos e o impacto ambiental”, destaca Vargas.
BICHEIRA – A bicheira-da-raiz tem se mantido com uma população uniforme nesta safra. “Não foi registrado crescimento na área atacada”, informa. Segundo ele, este inseto pode ser controlado quimicamente através de tratamento das sementes, que é o método mais utilizado. “Também podemos controlar através de pulverizações ou o tratamento curativo quando, aos 20 dias após a irrigação, observamos o surgimento das primeiras larvas”.
Nestes casos, ele recomenda que o produtor faça amostragem adequada, arrancando a planta, colocando-a dentro de um balde e agitando. “As larvas aparecerão na superfície da água. Quando encontrar mais de cinco por amostra, o produtor pode fazer o controle curativo”.
Mas o que tem tirado o sono dos produtores é a lagarta-da-panícula, cuja população vem crescendo significativamente, sobretudo nos últimos cinco anos. “É difícil identificar a lagarta porque durante o dia ela fica abrigada na parte inferior da planta. Ela começa a atingir a lavoura logo após a emissão da panícula. Seu controle requer a coleta de amostras (no mínimo 30, independente do número de hectares plantados ou do tipo de praga) para detectar o nível populacional, explica.
Vargas diz que o monitoramento destas populações é fundamental sob a ótica do manejo integrado. “A partir do momento em que o inseto está na lavoura, mas não causa danos, não há necessidade de controle. A pesquisa dispõe de dados sobre em qual nível populacional o controle deve ser feito”.
Na prática, o produtor que não quiser ser pego de surpresa terá que arregaçar as mangas, entrar na lavoura, sentar na taipa, abrir as plantas, olhar a raiz, agitar a água e identificar o problema. Após a colheita deve voltar para eliminar a resteva e as plantas daninhas locais onde os insetos permanecerão abrigados até a safra seguinte. Vargas explica que essa exposição a condições desfavoráveis reduzirá a população de insetos.