Bom futuro
Fundamentos indicam cenário positivo nos preços para 2023/24
O ano de 2022 encerrou marcado pela trajetória de valorização de 46% nos preços do arroz em casca no sul do Brasil em reais, e, em dólar, 54%. No primeiro semestre, alguns meses chegaram a registrar pequena queda, mas no cenário em que o Brasil não conseguia exportar e houve pressão de oferta. A partir da isenção para o arroz brasileiro na América Central e México, os embarques destravaram e a disputa pela matéria-prima entre a indústria e tradings permitiu melhor a gestão da oferta pelos rizicultores, em busca de melhores preços.
O varejo, finalmente, começou a assimilar melhor a mudança de tabelas do arroz branco, embora tenha passado praticamente todo o ano testando o consumidor com aumentos quase semanais de alguns centavos. Tiago Barata, diretor do Sindarroz/RS, entende que não se tratou de uma valorização especulativa, mas, sim, de concretos fundamentos desse mercado. “Entramos o ano com estoques menores pelas boas exportações de 2021, oferta restrita, produtores sem grandes necessidades de liquidação e com o portfólio de produtos aumentado por soja, por exemplo, tivemos uma safra enxuta e, com isso, a cadeia produtiva teve uma melhor capacidade de gestão da oferta”, resumiu.
Por outro lado, ele lembra que a demanda, que iniciou o ano morna, aqueceu com a queda de barreiras em mercados como o México por causa da disparada na inflação dos alimentos e a quebra significativa – e elevação recorde de preços – no arroz dos Estados Unidos. Para 2023, Barata entende que a expectativa é de uma oferta ainda mais enxuta, safra e estoques ainda menores e continuidade das importações pelos clientes de 2022.
Mas ressalva: “embora trabalhemos com a expectativa de preços sustentados, existem fatores como o comportamento do câmbio e a própria safra dos Estados Unidos, em agosto, que podem interferir no mercado no decorrer do ano e reduzir esse fluxo de vendas externas. Isso pode deixar pouco espaço para o arroz subir de forma importante acima dos preços já praticados esse ano”. A questão é que o custo da safra 2022/23 para o vice-presidente da Federarroz, Robertito Fagundes Ghigino, pode não ser comportado nos valores ora praticados. “Esses preços cobriram os custos da safra 2012/22, mas nem todo o ano foi assim. E não vão cobrir o de 2022/23, que tiveram elevação importante”, reconheceu.
Cenário mundial em alta
Refletindo o período inflacionário global, com retração das vendas indianas de quebrados e taxas para outros tipos, o fortalecimento cambial de algumas moedas e a demanda Chinesa, o mercado do arroz impactou também os Estados Unidos e o Mercosul. Os preços futuros do arroz em casca da Bolsa de Chicago (Cbot) se mantiveram altos em 2022 e devem seguir assim ao menos até agosto de 2023.
Custos elevados, insumos caros, crise logística, baixa oferta pela menor safra em 30 anos mantiveram preços altos e negócios mais fracos. Clientes fiéis do arroz branco dos EUA, feito Iraque e Haiti, em crise, buscaram grão mais barato na Tailândia e Vietnã. O México e a América Central, por sua vez, pressionados pela inflação, isentaram de taxas o arroz da Argentina, Brasil e Paraguai. O Brasil aproveitou e remeteu 450 mil t de arroz em casca.
A menor safra dos últimos 30 anos e a demanda fraca pelos de seus clientes elevaram muito os preços nos Estados Unidos e os tiraram do mercado. Um quintal curto (45,36kg) para liquidação em março de 2023 na Cbot foi cotado em 2 de fevereiro a US$ 17.845 (US$ 19,67 = 50kg) que, pelo câmbio do dia (R$ 5,0604= US$ 1,00), seria equivalente a R$ 99,54.
Em 2023, espera-se preços mundiais firmes nos mercados de exportação, apesar da previsão de declínio do comércio mundial de 3% e de 2,4% da produção, o maior desde 2002. Até 2031, a expectativa é de que o consumo cresça 1,1%. A confirmar-se a esperada recuperação de área nos EUA – e declínio de preços –, além do real valorizado (US$ 1, x R$ 5, ou menos), o fim do ano pode dificultar as exportações do Brasil.