Brasil é um dos maiores fornecedores

 Brasil é um dos maiores fornecedores

País está entre os cinco grandes exportadores para a África.

O Brasil é um dos cinco maiores exportadores de arroz para a África e um dos 10 maiores fornecedores para o mercado mundial, mas essa realidade pode mudar. “Os asiáticos são atualmente mais competitivos. O Brasil, no entanto, tem como vantagem a localização geográfica, além de estar se especializando no mercado africano. Existem acordos de cooperação entre o governo brasileiro e os países da África, e ainda vale lembrar que a Embrapa também está naquele continente – com o arroz podendo tirar vantagem dessa cooperação. Além disso, as barreiras tarifárias não chegam a ser um problema”, avaliou o diretor-geral do Instituto Icone, André Nassar. 

Mas para que isso ocorra, Camilo Oliveira, da Cooplantio, explicou que o Brasil deve se igualar em qualidade aos concorrentes, que já têm tradição nas relações comerciais com os africanos. “É preciso estar atento às diferenças de produto. A qualidade do cereal brasileiro é muito boa, mas temos que fazer melhorias, como, por exemplo, em relação ao sistema de secagem. O grão não pode ter cheiro de fumaça. O consumidor africano tem essa sensibilidade em relação ao cheiro dos alimentos. Melhorando a secagem vai crescer o consumo”, estimou. 

Um fator importante para que o Brasil consolide e amplie suas exportações para a África foi levantado por Jair Almeida, vice-presidente da BBM/RS. Segundo ele, a quantidade a ser comercializada é relevante. “O país deve estar preparado para atender a demanda. A África é um importador massivo. A questão da qualidade é relativa, pois o produto brasileiro tem boa aceitação, mas temos que trabalhar mais a disponibilidade de volumes para fazer frente à demanda. E o governo tem papel importante neste aspecto, desonerando as vendas externas, entre outras ações, mas não está cumprindo sua função”, citou Almeida. Segundo ele, por razões como esta há dificuldade do Brasil manter a continuidade das exportações. “Não podemos ficar na base do entra-e- sai do mercado”, argumentou.

DIFICULDADES
Para Rubens Silveira, do Irga, o Brasil continuará exportando, com ou sem ajuda do governo, mas isso não basta. O ideal é comercializar 10% da produção do RS no mercado externo, principalmente arroz beneficiado – parboilizado ou branco -, enxugando a oferta brasileira. “Questões relevantes como infraestrutura interna e logística precisam ser resolvidas. Temos dificuldades de embarcar o produto em função da disponibilidade de navios e a África não tem infraestrutura portuária para receber a granel”, destacou. 

 

Perspectivas e desafios

Ao que tudo indica, na visão dos especialistas, a produção de arroz nos países africanos vai crescer, mas o consumo e as importações também. A expectativa é de que o volume importado pelo continente chegue a 8,5 milhões de toneladas em um futuro bem próximo. No período correspondente a 2008/09 este volume chegou a 6,4 milhões de toneladas, segundo levantamento do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Entre os maiores importadores estão a Nigéria, com 1,7 milhão de toneladas, Senegal, com 683 mil toneladas, e a África do Sul, com 580 mil toneladas. 

O analista Tiago Sarmento Barata, da AgroTendências Consultoria em Agronegócios, não tem dúvidas de que a África continuará sendo o grande mercado brasileiro por muito tempo. “É o único lugar do mundo em que o consumo per capita está crescendo”, afirma. Segundo Barata, atualmente há um déficit de 11 milhões de toneladas de arroz no continente africano e a projeção é de que em 2020 esse déficit atinja 21 milhões de toneladas (consumo – produção). 

A posição é ratificada pelo analista Élcio Bento, da Safras & Mercado. “O Brasil precisa encontrar meios de manter a exportação em volumes mais significativos para dar equilíbrio ao mercado interno, superofertado pelo excedente produtivo do Mercosul. E a África é o destino mais promissor, que, no caso dos quebrados, se manteve apesar do câmbio não favorecer tanto assim as exportações”, revela. 

O gestor da Unidade de Negócios Grãos – Arroz da Cooplantio, Camilo Oliveira, explica que o arroz é um produto de classe na África (o fubá é o mais popular). “Enquanto no Brasil o consumo do cereal registra queda em função do aumento da renda da população, que vai para a proteína, os africanos dão prioridade para o arroz. A África do Sul é um excelente mercado para o arroz elaborado porque tem melhor situação econômica. Nos outros países o quebrado ainda é o carro-chefe”, destaca. A Cooplantio realizou em setembro sua primeira exportação para a África do Sul, no caso arroz parboilizado empacotado, produzido pelos associados de Camaquã (RS).

Desoneração tributária é meta

Para o diretor comercial do Irga, Rubens Silveira, o continente africano representa uma alternativa para absorver a produção do Mercosul, cujo excedente pode chegar a 2,3 milhões de toneladas este ano. Segundo ele, depois da África, o Oriente Médio e os países europeus também são bons nichos de mercado. Mas para que o Brasil continue acessando estes grandes compradores internacionais, de acordo com Silveira, alguns desafios precisam ser vencidos. Além das questões relacionadas à logística e infraestrutura, incluindo os custos portuários, o país precisa desonerar a cadeia do arroz para se manter competitivo lá fora. 

Em termos de desoneração, a proposta mais adequada, conforme Silveira, é a compensação tributária em relação ao Mercosul. “A opção ideal seria adotar o reintegro, no caso, a devolução presumida de impostos pagos na cadeia de produção em igual volume ao importado. O desafio é equilibrar as exportações com as importações”, sugere o dirigente.

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter