Brasil: sementes não certificadas avançam

Houve expansão no uso de sementes não certificadas de arroz, cuja participação passou de 36% para 59% em 2004/05 – influenciada sobretudo pela queda nos preços do cereal no mercado interno e pela quebra de safra na região Sul.

As vendas de sementes não certificadas – incluindo contrabandeadas, transgênicas e “salvas” (multiplicadas de forma caseira pelos produtores) – apresentou novo crescimento na safra 2004/05. Levantamento da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem) aponta que a utilização dessas sementes cresceu 29,9%, para 1,19 milhão de toneladas, o que equivale a uma receita de US$ 1,069 bilhão (R$ 2,604 bilhões), ante US$ 685 milhões (R$ 2 bilhões) apurados em 2003/04.

“O uso de sementes piratas e salvas avançou muito. O que era uma característica do Rio Grande do Sul se espalhou para outros Estados”, afirma Narciso Barison Neto, vice-presidente da Abrasem. Em terras gaúchas, 97% da soja plantada acontece com sementes ilegais. Conforme a entidade, das 600 mil sacas de sementes certificadas soja transgênica produzidas no Estado, 30% sobraram nos armazéns.

Neto observa que a autorização pelo governo federal para que agricultores pudessem utilizar sementes salvas da safra anterior impulsionou o uso dos grãos sem certificação não apenas no Rio Grande do Sul, mas também no Paraná, na Bahia e na região Centro-Oeste.

Conforme o levantamento da Abrasem, as indústrias deixaram de vender o equivalente a R$ 1,108 bilhão em sementes de soja, ou 196,08 mil toneladas. O montante é 9% superior às vendas de sementes não certificadas na safra 2003/04 .

No caso do trigo, o índice de uso de sementes ilegais ou salvas cresceu 11 pontos percentuais, para 27%, com a venda de 89,3 mil toneladas. Também houve expansão no uso de sementes não certificadas de arroz, cuja participação passou de 36% para 59% em 2004/05 – influenciada sobretudo pela queda nos preços do cereal no mercado interno e pela quebra de safra na região Sul.

No mercado de algodão, o uso de sementes não certificadas passou de 39% para 44% da área total, o que significa a comercialização irregular de 7,7 mil toneladas.

Conforme o levantamento, houve redução apenas no uso de sementes ilegais de milho, de 16% para 14% da área plantada no país, ou um volume equivalente a 34 mil toneladas. Em receita, houve queda de 18%, para R$ 272,135 milhões. O recuo também reflete o menor interesse dos agricultores na cultura, o que resultou em uma redução de 6% na área e queda de 17% na produção na safra 2004/05, de acordo com dados da Conab.

No ciclo 2005/06, a área plantada com sementes não certificadas deve crescer, mas a tendência é de estabilização em 2006/07, graças ao reforço da fiscalização pelo governo para coibir o comércio ilegal de sementes.

– As seguradoras estão se recusando a fazer seguro de áreas plantadas com sementes sem origem, o que também pode desestimular a venda de sementes piratas – acrescenta Barison Neto.

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