Caravana Embrapa aborda eficiência de fertilizantes

 Caravana Embrapa aborda eficiência de fertilizantes

Foto: Francisco Lima

(Por Embrapa) Mais de 250 pessoas participaram da primeira edição da Caravana Embrapa no Rio Grande do Sul, na última semana. A atividade ocorreu no auditório do Centro de Ciências Rurais da Universidade Federal de Santa Maria (Ufsm), em Santa Maria/RS, e abordou tecnologias e conhecimentos para melhorar a eficiência no uso de fertilizantes em sistemas de produção em de terras baixas, com foco no arroz irrigado.

Após a apresentação de vídeos de patrocinadores e parceiros, o pesquisador da Secretaria de Inovação e Negócios (SIN) da Embrapa Lineu Domit fez uma apresentação do evento e moderou a condução das palestras. Ele falou sobre os mais de 40 pontos por onde a Caravana Embrapa está passando no país e introduziu os cinco módulos abordados.

Segundo ele, os conteúdos que integram a Caravana Embrapa devem, futuramente, estar disponíveis em curso on-line. “Num período de crise de fertilizantes, é importante vocês terem alternativas para sair dessa situação, para diminuir custos. A ideia não é terminar aqui esse evento”, disse.

Qual a dose?

Na sequência, o consultor técnico do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) Ibanor Anghinoni abordou o “Uso de fertilizantes no contexto da lavoura arrozeira”. Primeiramente, ele contextualizou a produção no Estado, que teve queda em termos de área, mas aumento de cerca de duas toneladas em produtividade nos últimos dez anos.

Após, detalhou a evolução da cultura, que passa de um sistema dominante de cultivo seguido por pousio/pecuária intensiva, que é bastante dependente de insumos, para um sistema mais diversificado, com integração do milho, soja, plantas de cobertura e pecuária. Em relação à soja, destacou que a atividade ocupa hoje quase 50% das áreas de arroz, com perspectiva de expansão.

Especificamente sobre os fertilizantes, descreveu os critérios que afetam a expectativa de resposta do arroz à adubação, como genética, manejo, condições de clima e solo e condições socioeconômicas do produtor. Também, detalhou a evolução dos preços dos produtos nos últimos dois anos e os impactos nos custos das lavouras.

Por fim, apresentou diversos subsídios para a definição da Dose da Máxima Eficiência Econômica (Dmee) de diferentes nutrientes frente a alta dos fertilizantes, destacando que o que define a dose é o custo do adubo. Segundo o consultor, o aumento nos custos dos adubos resulta em menores Dmee, sem grandes perdas em produtividade. “O lucro vai ser definido pelos outros custos e pelo preço do arroz”, explicou.

Outros critérios, como maior atenção à adubação nitrogenada, que confere maior resposta ao arroz, e à diversificação do sistema de produção, também são importantes para maior eficiência da adubação. Segundo o técnico, em sistemas integrados, é possível reduzir em até 44% a adubação. “O caminho é esse: diminuir a necessidade de adubo à medida que aumentamos a diversidade do sistema. Ele se auto-organiza, se torna mais resiliente e menos dependente de insumos”, finalizou.

Qual o tipo de solo?

A programação técnica da Caravana teve início com o módulo sobre “Ferramentas para o planejamento agrícola: onde e quando plantar?”. A palestra foi apresentada de forma remota pelo professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Rogério Oliveira de Sousa, com apoio do pesquisador da Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS) André Amaral.

Rogério abordou, principalmente, a localização, caracterização, manejo e dinâmica dos solos hidromórficos, ou seja, dos solos de drenagem deficiente, que são os solos utilizados para cultivo de arroz no Rio Grande do Sul. Segundo o professor, esses solos, típicos das chamadas terras baixas, estão situados na Metade Sul, no litoral, no interior – próximos às várzeas dos rios, na Campanha e na Depressão Central, onde fica o município de Santa Maria/RS.

Ao todo, cerca de 4,4 milhões, dos 28,7 milhões de hectares do Estado, são considerados de terras baixas. Mas, segundo Rogério, apesar de fazerem parte de um mesmo grande grupo, são bastante diversos, principalmente quanto ao material de origem e ao grau de hidromorfismo – o excesso de água. As diferenças têm relação com a posição do solo na paisagem, o que impacta em aspectos como a drenagem e pode vir a ser um desafio para culturas de sequeiro, como soja e milho, bem como pastagens de inverno e de verão.

O professor ainda detalhou os efeitos do alagamento do solo, como promovido para o cultivo do arroz irrigado por inundação, a dinâmica dos nutrientes sob alagamento e as consequências no manejo e na aplicação de fertilizantes e corretivos de solo, especialmente o calcário. De modo geral, o alagamento tem impacto na concentração dos nutrientes, com aumento na disponibilidade de potássio, cálcio e magnésio; perda de nitrogênio; e aumento do pH do solo. Para o especialista, os produtores devem conhecer os solos de suas propriedades para definição de possibilidades e limitações.

Qual a prática correta?

A próxima palestra foi da pesquisadora da Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS) Walkyria Scivittaro sobre “Boas práticas para o uso eficiente de fertilizantes. De início, a pesquisadora logo reforçou a importância do diagnóstico, já que a seleção das boas práticas e a consequente qualidade da adubação dependem da análise de solo.

Na sequência, abordou os conceitos de adubação e do manejo “4 Cs”, ou seja, dos quatro acertos para eficiência no fornecimento de nutrientes: dose, fonte do nutriente, local de aplicação e época ou fase da cultura. Além disso, também falou sobre a importância da avaliação do custo-benefício para verificar se a prática compensaria.

Especificamente sobre o arroz irrigado, a pesquisadora reforçou a importância do planejamento para diminuição de riscos, levando em consideração, principalmente, os prognósticos climáticos de médio e longo prazos. Também destacou a adubação nitrogenada, bem como algumas avaliações importantes relacionadas a essa prática.

Por fim, abordou o manejo da adubação com outros nutrientes, como fósforo, potássio e enxofre, e as respectivas expectativas de resposta. E mostrou alguns dados médios sobre o aproveitamento da adubação pelas lavouras, que é considerado baixo. No caso do nitrogênio, apenas 50% da quantidade aplicada seria aproveitada pela cultura.

Para melhorar essa eficiência, destacou a importância de promover o aumento das raízes, manter o solo coberto, utilizar plantas de cobertura e realizar duas safras no mesmo ano. Por parte dos técnicos, reforçou a necessidade de monitoramento da fertilidade do solo – para identificar pontos críticos da área e fazer a correção – e do registro dessas práticas.

De modo geral, para Walkyria, a adubação de sistema, com foco na cultura mais exigente, ajuda na construção da fertilidade do solo. “Tem que melhorar essa engrenagem, ou seja, melhorar o solo. Reter mais os nutrientes, para que não sejam perdidos e sejam liberados ao longo do tempo”, finalizou.

Quais os novos fertilizantes?

No terceiro módulo, o pesquisador da Embrapa Suínos e Aves (Concórdia, SC) Juliano Corulli falou sobre “Novos Fertilizantes e Insumos: novas tecnologias para suprimento eficiente de nutrientes às plantas”. A fala levou em consideração o cenário atual de baixa disponibilidade de matérias-primas e de alta nos preços desses insumos e a possibilidade de utilização de novas tecnologias e matérias-primas disponíveis no país.

Entre os novos produtos, foram detalhados alguns exemplos de Fertilizantes de Eficiência Aumentada (EEF), que reduzem perdas e aumentam a absorção de nutrientes por meio do fornecimento gradual, conforme a demanda das plantas. Como exemplos, o pesquisador abordou produtos como coatings (fertilizantes revestidos) e fertilizantes compósitos (modificados internamente) e processos como modificação química da superfície e interação com agentes biológicos.

Corulli também abordou e diferenciou os fertilizantes orgânicos dos organominerais – que combinam, de forma balanceada, minerais e matéria orgânica. E destacou o potencial de uso de resíduos orgânicos agroindustriais para diminuição da dependência de insumos externos. Como exemplo, mencionou as camas de aves, que totalizam cerca de 11 milhões de toneladas no país.

Para o pesquisador, os organominerais, além de apresentarem a mesma eficiência dos minerais, trazem benefícios como redução de impactos ambientais com o aproveitamento de resíduos locais, elevação da fertilidade do solo, ativação da microbiota do solo e, assim, ganhos em produtividade. “Estamos falando aqui de reciclagem de nutrientes, de sustentabilidade”, afirma.

Quanto aos remineralizadores, explicou que existem inúmeros trabalhos que mostram ausência ou baixa resposta pelas plantas em comparação aos fertilizantes convencionais e que, portanto, não há resultados conclusivos para que possam ser recomendados. Por fim, abordou diversas soluções biológicas Embrapa e respectivas boas práticas para aumento da eficiência do uso de nutrientes, como os inoculantes, e destacou a importância de realização de um manejo integrado de nutrientes nas propriedades.

Qual a solução digital?

O professor do Câmpus de Frederico Westphalen da Ufsm Antônio Luis Santi ministrou a palestra “Soluções digitais: precisão no onde, quando e como”. De modo geral, ele mencionou inúmeras tecnologias, ferramentas e práticas digitais. Mas, logo de início, já afirmou que o melhor sensor disponível na agricultura é a planta.

Ele também diferenciou a agricultura de precisão da agricultura digital, reforçando a necessidade de se pensar o sistema de produção como um todo, de maneira integrada, com foco na tomada de decisão. “Precisamos ter dados, mas os dados têm que virar informação. Temos que ter boa informação e decisão”, completou.

O professor também destacou o uso de drones para pulverizações localizadas e avaliações específicas; o uso de sensores óticos para análises de dados da planta e do solo; e ainda mencionou algumas soluções digitais disponibilizadas pela Embrapa para interpretação e recomendação em diversas áreas. Para encerrar, mostrou e comentou algumas interpretações com base em dados coletados por ferramentas digitais.

Qual o manejo?

Por fim, no módulo “Tecnologias sustentáveis de manejo agrícola: por que usar?”, falaram o chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Embrapa Trigo, José Denardin, e o professor do departamento de solos da Ufpel Filipe Selau Carlos. Denardin fez uma abordagem mais conceitual sobre manejo, de maneira a promover reflexão sobre geração e adoção de tecnologias na agricultura.

Ele ainda buscou apresentar as diferenças entre plantio direto e sistema de plantio direto, exemplificando a diferença entre adoção de tecnologia e manejo de conhecimento. E fez uma interpretação da fertilidade em sistemas conservacionistas de manejo de solo, detalhando aspectos importantes dentro de fatores como clima, planta e o próprio solo. Também definiu modelo de produção e explicou como diferentes estratégias de manejo têm impacto na expressão da fertilidade.

Para encerrar o evento, o professor da Ufpel Filipe Selau abordou práticas de manejo específicas ligadas às terras baixas, especialmente no caso do arroz. Durante a apresentação, ele mostrou diferentes tipos de solos nesse ambiente e os níveis de fertilidade natural de cada um deles, especificando também algumas necessidades específicas em termos de nutrientes.

Filipe ainda mostrou o índice de resposta do arroz irrigado a diferentes nutrientes, como fósforo, potássio e nitrogênio, e abordou alguns impactos, em termos de fertilidade e aproveitamento de fertilizantes, das épocas de semeadura e irrigação. A palestra teve fim com a avaliação do suprimento de nutrientes tendo em vista diferentes práticas, como combinação de nitrogênio e enxofre, nutrição mineral, rotação com soja e uso de plantas de cobertura, por exemplo.

Para a nutrição sustentável em terras baixas, segundo o professor, é necessário combinar o manejo da cultura, levando em conta a época de semeadura e irrigação; com o manejo da adubação, detalhando fontes, doses e momentos de aplicação; com o manejo do solo, considerando, principalmente, a rotação e integração de culturas. Após a fala de Filipi, o evento se encerrou com momento de perguntas para os palestrantes.

Sobre a Caravana Embrapa

A Caravana Embrapa é uma iniciativa que leva ao setor produtivo soluções para problemas que afetam a agropecuária nacional. A edição de 2022 tem foco no aumento da eficiência no uso de fertilizantes e de insumos para a nutrição de plantas, visando incremento de produtividade e uma economia potencial de até 20% na safra 2022/2023. Com início em maio, a iniciativa deve percorrer, ao longo do ano, 48 regiões agrícolas brasileiras.

A Caravana Embrapa conta com o patrocínio da Rede Ilpf, Bayer Climate Field View, Bioma, Fertisystem, Arko, Polli Fertilizantes; e tem apoio do Banco do Brasil, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Sistema OCB e Sinprifert.

No Rio Grande do Sul, a organização é da Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS) e da Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS) e conta com a correalização do Irga, Emater/RS-Ascar, Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado do Rio Grande do Sul (Crea-RS), Ufsm, Ufpel, Universidade de Passo Fundo (UPF), Sociedade Educacional Três de Maio (Setrem), Sociedade Sul-Brasileira de Arroz Irrigado (Sosbai), Ferticel, Leaf Biotecnologia, Josapar e AgroQuim.

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter