Cenário adverso para o mercado de arroz
Produtores insistem em medidas de apoio do governo federal para enxugar oferta e recuperar preços.
O governo federal e a iniciativa privada já definiram ações para este início de colheita da safra 2004/05 de arroz, marcada por preços em queda e excesso de oferta. O governo pretende tirar do mercado 1 milhão de toneladas com leilões de opções privadas, e cooperativas gaúchas deverão reservar cerca de 500 mil toneladas da safra a ser colhida para alimentar as exportações. Essas e outras ações estavam na pauta ontem, na cerimônia de abertura da colheita, realizada em Dom Pedrito, no Rio Grande do Sul. O setor aguarda, ainda, o resultado do pedido de salvaguarda para o cereal importado.
Sílvio Farnese, coordenador-geral da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, disse que a Conab deve fazer, no curto prazo, leilões de opções privadas para 1 milhão de toneladas. O Ministério estuda retirar mais 1 milhão de toneladas por meio de contratos de opção ou aquisições do governo federal (AGF). “Essa ação depende de a Fazenda aprovar a suplementação orçamentária”, disse Farnese, referindo-se ao pedido do Ministério para elevar o orçamento das Operações Oficiais de Crédito em R$ 1,558 bilhão.
Paulo Morceli, analista de mercado da Conab, disse que para tirar esse volume do mercado via contratos de opção, serão necessários R$ 570 milhões. Dos R$ 526 milhões disponíveis para apoio à comercialização, R$ 60 milhões não foram aplicados. A expectativa é que Fazenda e Agricultura cheguem a um acordo até o dia 2.
Morceli afirmou, ainda, que a tendência atual é de preços mais baixos nesta safra, a menos que haja redução da oferta por meio de mecanismos de comercialização ou perdas na safra gaúcha em função da estiagem. A Conab prevê para esta safra estoque inicial de 1,6 milhão de toneladas e produção total de 12,6 milhões, 1,4% abaixo do ciclo passado. No Mato Grosso, onde a colheita atinge 25% da área, é estimado aumento de 4%, para 1,92 milhão de toneladas; em Santa Catarina, onde a colheita está no fim, é esperada safra 7,7% maior (1,07 milhão de toneladas).
Para o Rio Grande do Sul, é prevista queda de 7,1% no volume, para 5,85 milhões de toneladas. Rubens Silveira, diretor comercial e industrial do Instituto Riograndense do Arroz (Irga), disse que espera quebra entre 5% e 10% no Estado. Levantamento do Irga mostra que já houve perda de 30 mil hectares na fronteira oeste por conta da estiagem, e outros 29,9 mil hectares podem ser perdidos se não houver chuva abundante nos próximos dias. A Emater-RS estima perda menor, de 3,42% sobre a estimativa inicial, para 5,59 milhões de toneladas.
O produtor Mauro Garcia dos Santos, que planta 350 hectares em Dom Pedrito, observou que houve perdas na região, mas sem alteração nos preços. “Há pouco interesse das indústrias e o preço está na média histórica, de US$ 10 a saca. Se a cotação subir acima disso, abrimos fronteira para o arroz importado”, afirmou Santos. Ele observou que não há condições de o produtor gaúcho competir no exterior porque o custo de produção (R$ 28 por saca) está acima do preço internacional, hoje em R$ 25 por saca.
Em Dom Pedrito, onde a cultura cobre 45 mil hectares, é estimada quebra de área próxima a 5%, e produção 7,7% menor, de 270 mil toneladas, conforme Gilberto Raguzzoni, presidente da Associação dos Agricultores do município. Mesmo com a quebra, a entidade estima redução dos preços durante a safra para R$ 22 por saca, se não houver um enxugamento da oferta.
No setor privado, a alternativa encontrada para reduzir a oferta é reforçar a exportação. Valter Pötter, presidente da Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), disse que as cooperativas gaúchas fizeram acordo para reservar 10% da safra colhida às vendas externas. A meta é tirar do mercado 500 mil toneladas. Em 2004, os embarques do cereal beneficiado totalizaram 36,28 mil toneladas, segundo dados da Secex.
O setor privado também espera decisão do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior sobre o pedido de salvaguarda para as importações de arroz. O setor pede tarifa de 50% sobre o preço do arroz importado durante 200 dias e definição de cotas nos quatro anos seguintes. Está prevista reunião do governo nesta semana para decidir sobre o assunto.