Cenários do mercado de arroz nas safras 2015/16, 2016/17 e 2017/18
No Brasil, a safra 2015/16 foi significativamente influenciada pelo fenômeno El Niño, sendo o Rio Grande do Sul (RS), principal estado produtor, o mais afetado. O excesso de chuva danificou áreas e reduziu a produtividade média brasileira, que refletiu na produção de 10,6 milhões de toneladas base casca no país, 1,4 milhão abaixo do volume médio dos últimos 10 anos, de 12 milhões de toneladas. Em face da oferta restrita interna, os preços nacionais valorizaram e o volume importado, principalmente do Paraguai e do Uruguai, cresceu, com valores comercializados abaixo dos encontrados no mercado brasileiro. Somado a isso, o fortalecimento do real, a partir do segundo semestre de 2016, foi outro fator determinante na expansão das importações e retração das exportações brasileiras.
Na safra 2016/17 a produção foi dentro da normalidade e ficou em 12,3 milhões de toneladas. Em princípio, esta oferta não deveria ser fator de desestabilização de mercado, porém a concentração produtiva, a estrutura de financiamento dos produtores e o câmbio valorizado geraram, ao longo do período de comercialização, fortes desvalorizações nas cotações do grão ao produtor. Especificamente o real valorizado e os altos custos de produção nacional refletiram na perda de competitividade do arroz brasileiro e geraram um desequilíbrio na balança comercial do grão. Ressalta-se que nos últimos dois anos o Brasil vem apresentando resultado deficitário no comércio internacional do produto e para a safra 2016/17 projeta-se um déficit acumulado de 200 mil toneladas. Entre março e dezembro de 2017 o déficit do setor encontrava-se em 186,7 mil toneladas, faltando ainda os meses de janeiro e fevereiro de 2018 para encerrar a contabilização da balança do período.
Como resultado da expansão da oferta e da retração das demandas internas e externas pelo arroz nacional, o estoque final apresentou forte elevação e está estimado para 1.458,6 toneladas para o final da comercialização da safra 2016/17, quase em sua totalidade na posse do setor privado. Logo, no atual momento de ápice da entressafra do setor orizícola, a variável estoque de passagem é o principal fator de pressão baixista dos preços na entrada da safra 2017/18, que começa a ser colhida no Rio Grande do Sul ao final de fevereiro e se intensifica nos meses de março e abril.
Essa expectativa de preços reduzidos ocorre em meio a uma provável menor safra 2017/18, que deverá ficar em torno de 11,6 milhões de toneladas, abaixo da média histórica produtiva. Essa conjuntura é distinta do comportamento histórico do setor, no qual o volume produzido internamente é o fator principal na formação dos preços, como ilustrado no gráfico ao lado.
Sobre as projeções de consumo, para a safra 2016/17 estimava-se uma manutenção da demanda interna em 11,5 milhões de toneladas. Já para a safra 2017/18, a Conab trabalha com o retorno da normalidade do consumo do setor após os últimos três anos de forte instabilidade política e econômica. Logo, optou-se por utilizar a média dos últimos 10 anos como parâmetro de estimação e, com isso, projeta-se em 12 milhões o consumo brasileiro.
Ressalta-se que à primeira vista a variação de 500 mil toneladas de uma safra para outra pode parecer uma oscilação elevada, porém, ao analisar o histórico do quadro de suprimento do arroz observam-se diversos períodos nos quais a variação foi semelhante ou superior ao proposto para a próxima safra. Outra característica identificada é que as variações foram tanto de aumento como de retração do consumo. Ou seja, nos últimos 10 anos o consumo tem ficado em torno dos 12 milhões de toneladas e, em meio a um persistente crescimento populacional brasileiro, pode-se concluir que o consumo per capita do país tem retraído com o passar dos anos.
Destaca-se que a variável consumo é o único fator do quadro de suprimento para o qual não há uma mensuração oficial, ou seja, o montante estimado é resultado da equação [(produção + importações + estoque inicial = consumo + exportações + estoque final)]. Como as variáveis produção, balança comercial e estoques são números oficiais e confiáveis, o volume fixado de consumo, que fecha a equação, é, da mesma forma, fidedigno. É importante registrar a dificuldade de medição do consumo nacional separadamente haja vista a pulverização e tamanho da população brasileira.
Sobre o comércio internacional, para a safra 2017/18 a perspectiva é de equilíbrio entre a importação e a exportação do grão, com uma provável recuperação da competitividade do produto nacional devido aos menores valores comercializados internamente e à possível desvalorização cambial em ano eleitoral. Segundo o Boletim Focus, a expectativa, para a média de 2018, é de câmbio a R$ 3,30/US$ 1.
Em suma, em face de todo o exposto, o cenário indica uma redução do estoque final por volta de 400 mil toneladas para a safra 2017/18. Apesar disso, o efeito dessa retração será apenas sentido na comercialização da safra 2018/19, sendo a perspectiva para 2018 de menores cotações na entrada da safra, com possível atuação governamental por meio de seus mecanismos de apoio à comercialização.