Cenários e tendências do mercado brasileiro do arroz
Atualmente, o mercado de arroz brasileiro opera em um cenário de menor disponibilidade de grão internamente em meio à significativa redução de área plantada ao longo dos últimos anos. Apenas na safra 2022/23, a retração de área identificada foi de -8,6%, resultando na menor safra brasileira dos últimos 33 anos. Na atual safra 2023/24, apesar do incremento de área, em meio a um cenário atrativo de preço e de rentabilidade no momento da semeadura, os problemas climáticos limitaram uma recuperação mais intensa da produção de arroz no país.
Cabe pontuar, entretanto, que, ao longo dos últimos 10 anos, o setor orizícola operou com uma rentabilidade baixa, principalmente na comparação com outros grãos que competem por área, com destaque para a soja, que, além da superior rentabilidade, possui uma melhor liquidez de mercado. Esse cenário mudou, atualmente, o arroz passou a ser mais rentável que a soja e o milho, embora mantenha menor liquidez.
Gráfico 1 – Evolução de área e produção nas Regiões brasileiras, exceto Região Sul. Fonte: 10a Levantamento de grãos da Conab
Gráfico 2 – Evolução de área e produção na Região Sul
Quadro 1 – Quadro de Suprimento de arroz em casca em mil toneladas
No Centro-Oeste, a retração de área foi de -62,9% desde a safra 2010/11 até a atual safra 2023/24, já no Nordeste, a retração foi de -77,5% no mesmo período, o que ilustra o movimento de concentração geográfica da produção de arroz no Brasil. Ademais, com o histórico de reduzida rentabilidade da cultura, nota-se uma tendência da concentração da produção do grão entre grandes produtores no RS.
Em meio ao cenário descrito, para a fevereiro de 2024, anteriormente às intempéries climáticas e inundações no Rio Grande do Sul (RS), principal estado produtor e responsável por cerca de 70% da produção nacional, a estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontava para um dos menores estoques de passagem (407,9 mil toneladas) da última década, entre esta safra e a próxima (2024/25), sendo esse volume de estoque suficiente para atender apenas 13 dias do consumo interno estimado para essa safra.
Esse dado mostra o quadro entre a oferta e demanda, extremamente ajustado, sendo necessária uma expansão das importações e uma retração das exportações até fevereiro de 2025.
Mais especificamente sobre os efeitos climáticos negativos sobre a safra gaúcha, os dados mais atuais indicam para uma retração de 311,1 mil toneladas na comparação entre o 10a Levantamento de Grãos da Conab e o 6a Levantamento de Grãos da Conab (período anterior às inundações do RS). É importante destacar que, anteriormente à conjuntura descrita de perdas da safra de arroz, o mercado nacional já operava com viés de alta, mesmo em meio à intensificação da colheita no Sul do país. Essa situação é reflexo do quadro ajustado de oferta e demanda, como pode ser observado no gráfico 3, o qual apresenta uma inflexão no preço na 11a semana de 2024.
Gráfico 3- Evolução semanal dos preços de arroz em casca ao produtor no RS (R$/50kg)
Para o segundo semestre de 2024, a perspectiva é que os preços se mantenham em patamares elevados, o que seguramente refletirá em uma expansão de área de arroz para a safra 2024/25, sendo que uma reversão mais significativa dos preços tenderá a ocorrer apenas na intensificação da nova colheita, em março de 2025.
Ademais, nota-se um mercado internacional também com cotações elevadas, em virtude dos seguidos déficits produtivos mundiais e da restrição das exportações indiana pelo governo local, sendo a Índia atualmente o principal exportador mundial, responsável por cerca de 1/3 de todo o fluxo comercial entre os países no mundo.
Com isso, somada à recente desvalorização do real, as paridades de importação e de exportação também têm sido importantes parâmetros de sustentação dos preços no Brasil.
Para a safra mundial de arroz 2024/25, a projeção do Departamento de Agricultura Norte-Americano (Usda) é de incremento da produção mundial em cerca de oito milhões de toneladas, o que poderá refletir em redução das cotações internacionais e corroborar o movimento esperado de arrefecimento dos preços nacionais para a safra 2024/25. Cabe pontuar, por último, que, apesar da projeção de menores preços para a próxima safra, os valores comercializados internamente deverão garantir boa rentabilidade ao produtor, o que assegurará a saúde financeira do setor.
Sérgio Roberto Gomes dos Santos Júnior
Analista Conab
Gerente da Diretoria de
Fibras e Alimentos Básicos