Cenários e tendências para a próxima safra

 Cenários e tendências para a próxima safra

Autoria: Marco Aurélio Tavares.

O setor arrozeiro aguarda desdobramentos da ação administrativa contra as importações, o mercado internacional segue firme e poderá impulsionar as exportações brasileiras, que bateram recorde em 2004, mas os números da atual safra são indefinidos, principalmente devido à estiagem no RS.

MERCOSUL

De março a dezembro de 2004, as importações brasileiras totais alcançaram 971.166 toneladas, base casca. O volume importado do Mercosul alcançou 808 mil toneladas, com as importações do Uruguai e da Argentina, atingindo, respectivamente, volumes de 509.800 toneladas e de 298.223 toneladas. No mês de dezembro, as importações do Mercosul apresentaram redução de quase 30% em relação à média dos últimos meses, alcançando apenas 72.281 toneladas. 

A expectativa em relação ao total das importações, mantendo-se a tendência do mês de dezembro, indica um total de importações do Mercosul de no máximo um milhão de toneladas e as importações totais, 1,15 milhão de toneladas, abaixo das previsões mais pessimistas que chegaram a prever importações superiores a 1,5 milhão de toneladas. 

Os arrozeiros do Rio Grande do Sul, através das suas entidades, entraram com um processo administrativo com o intuito de obter salvaguardas contra as importações de arroz, inclusive do Mercosul, e que terá papel decisivo para os preços da próxima safra, pois os excedentes exportáveis do Uruguai e da Argentina deverão superar 1,5 milhão de toneladas, pois a previsão de safra deverá ser próxima ao alcançado na safra passada.

 

MERCADO INTERNACIONAL

O mercado internacional tem apresentado preços firmes e crescentes. Os preços do arroz tailandês, em torno de 295 dólares a tonelada/FOB, com possibilidades de no curto prazo ultrapassar a barreira dos 300 dólares alcançados antes da crise asiática, em 1997, apresentou um aumento superior a 45% em relação ao mesmo período do ano anterior, com preço de paridade interna superior a R$ 33,00, tornando-se gravoso para as importações. 

O recente maremoto que varreu o sudeste asiático, em países potencialmente produtores, deverá causar perdas na estrutura da lavoura de arroz para a próxima safra, com projeções mais pessimistas superiores a 14 milhões de toneladas. Também o desastre deverá determinar um aumento pela demanda do cereal, em razão da ajuda alimentar necessária para atender a população atingida pelo sinistro, estimada em mais de dois milhões de pessoas. O arroz americano, oscilando entre 330 e 340 dólares/FOB para o beneficiado e 180 dólares para o casca, mostra que mesmo com excedentes exportáveis, superiores ao ano passado, em razão do aumento da produção em 15%, tem adotado uma política de comercialização menos agressiva, ainda na safra, e com aumento gradual nos preços de exportação.

 

PRODUÇÃO E MECANISMOS DE COMERCIALIZAÇÃO

A estiagem no Rio Grande do Sul está chegando ao limite para a lavoura de arroz. A falta de chuvas em fevereiro foi definitiva para o início da contabilização dos prejuízos nas lavouras, em várias regiões produtoras. 

A produção de arroz no Mato Grosso apresenta uma quebra ainda não contabilizada, segundo a APA, por causa de ataques de brusone às lavouras. Também a ocorrência de fortes chuvas e ventos está provocando acamamento e causando perdas na qualidade do grão colhido. Tudo indica que na safra 2004/2005, principalmente no Rio Grande do Sul, haverá perdas. É provável a existência de problemas de qualidade do grão. O melhor produto seguirá, portanto, tendo procura, como ocorreu em janeiro a ponto de provocar um aumento das cotações de mercado. 

As projeções iniciais da Conab indicam um pequeno aumento na área plantada no Brasil e volume de produção acima de 12,6 milhões de toneladas. Caso se concretize a perda no RS e no MT, é provável que a produção brasileira em 2005 fique em torno de 12 milhões de toneladas. 

 

ESTOQUE X CONSUMO

Com relação a estoque x consumo, a margem ficará próxima a 10%, desde que seja administrado o fluxo de importações do Mercosul. Isso garantiria um mercado neutro e preços mais equilibrados, ao contrário da situação paradoxal vivida em 2004, com bons preços na safra e queda expressiva na entressafra. 

O apoio governamental à comercialização da produção se faz necessário. A utilização de tais mecanismos protege o produtor/cooperativa contra os riscos de queda nos preços de seu produto; cria um instrumento de seguro de preços e também contribui para acelerar o desenvolvimento dos mercados a termo e de futuros de commodities agrícolas. Assim, estará modernizando os instrumentos de política agrícola adotados pelo Brasil, ao contrário do que está acontecendo, principalmente no setor orizícola brasileiro, que sem amparo governamental, tem navegado exclusivamente ao sabor das ondas (leis) do mercado…

 

EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE ARROZ

As exportações brasileiras de arroz bateram recorde histórico em 2004, entre março e dezembro, segundo dados do Ministério de Desen-volvimento, Indústria e Comércio (MDIC). 

O total das exportações alcançou 36.283,8 toneladas, correspondendo, base casca, a 53.233 toneladas, um crescimento de 126,38% em relação ao ano anterior. A projeção para o encerramento dos 12 meses indica valores próximos a 100  mil tone-ladas (meta prevista), aumentando o crescimento nas exportações em notáveis 325%, incluindo o Brasil na condição de participante do seleto grupo de exportadores mundiais e criando grandes perspectivas para o futuro, consolidando e ampliando um novo mercado para o setor arrozeiro. 

Marco Aurélio Tavares é consultor, assessor especial do Irga, diretor do site Arrozpec.com e diretor da Federarroz

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