Cepea cai forte confirmando influência dos fatores de baixa
(Por Cleiton Evandro dos Santos, AgroDados/Planeta Arroz) O indicador Cepea/Irga-RS de preços à vista do arroz em casca no Rio Grande do Sul (50kg/58×10) entrou em queda livre em novembro, com forte queda nesta terça-feira, depois de ter experimentado dois meses de estabilidade e cotações em elevação desde o último mês de março. A retração já vinha sendo prevista pela conjuntura externa e interna do mercado. As cotações baixaram a R$ 111,99 (US$ 19,42), acumulando baixa de 5,74% em novembro. Desde abril deste ano as cotações não retroagiam a este patamar, quase sete meses.
Segundo o Cepea/Esalq, o mercado de arroz em casca do Rio Grande do Sul continuou lento nesta terça-feira, 12. Entre os produtores, parte segue focada na semeadura, restringindo a oferta no spot, no intuito de evitar novas quedas de preços, que vêm sendo observadas desde a semana passada.
Embora outros agentes tenham disponibilizado um volume maior na tarde, a disparidade entre os valores de compra e venda variou de R$ 7 a R$ 10/sc, limitando ainda mais a comercialização. Além disso, com a redução na venda do fardo, indústrias não têm necessidade imediata de adquirir o cereal e acabam pressionando as cotações. Nesse cenário, o Indicador do arroz em casca CEPEA/IRGA-RS (58% grãos inteiros, com pagamento à vista) caiu 3,42% frente ao de ontem, fechando a R$ 111,99/sc de 50 kg.
A pressão baixista no exterior foi deflagrada em dois momentos, o primeiro na colheita de uma grande safra nos Estados Unidos, que retomou mercados como o do México, aonde Brasil, Uruguai e Paraguai haviam entrando com a negociação superior a 500 mil das 800 mil toneladas que os mexicanos adquiriram na temporada passada.
A situação foi amenizada pela baixa qualidade industrial da safra norte-americana, com um percentual de inteiros muito baixo e médias inferiores a 50%. Assim, a demanda interna da indústria estadunidense aumentou, bem como a sua produção de quebrados e derivados. A confirmação de uma venda de 44 mil toneladas de arroz branco para o Iraque, há muito esperada, também abrandou o ímpeto exportador norte-americano.
O segundo fator externo foi a volta da Índia às exportações, o que deve agregar pelo menos seis milhões de toneladas de arroz longo fino, mas de baixa qualidade, em especial a países marginais do mercado arrozeiro, em especial da África e da Ásia, mas que vinham buscando arroz da Tailândia e, principalmente, do Vietnã e Mianmar e Paquistão, que competiam também marginalmente com os EUA e, no caso do Thai 100B, branco, até com os EUA e o Mercosul.
A aproximação de uma grande colheita no Mercosul – Paraná, norte de Santa Catarina e Paraguai já iniciarão a colher em dezembro – também pressiona os valores. Há negócios reportados de arroz paraguaio branco na faixa de 550 dólares por tonelada FOB, para entrega em dezembro e abaixo dos US$ 500 ptm/FOB, para carregamento e quitação em fins de fevereiro, segundo agentes de mercado de empresas importadoras do Brasil Central.
Ainda que muitas empresas já tenham concluído as vendas da safra passada, ainda há oferta no país vizinho e as cotações do branco, acompanhadas pelo casca, recuaram pelo menos US$ 85,00 nos últimos 30 dias. A pressão é da chegada de uma nova e grande colheita a partir de 20 de dezembro, e o Paraguai não quer entrar o novo ano com estoques.
Ao mesmo tempo, boa parte da indústria brasileira está abastecida até o final de janeiro, mas há demanda para o arroz guarani nos primeiros meses do próximo ano. Isso porque a colheita gaúcha e catarinense deve tornar-se mais volumosa somente em março e o arroz precisa de 40 a 60 dias para maturar até o processo industrial. Esse vácuo será coberto pelo arroz paraguaio. Esta semana, agentes de mercado brasileiro falavam em referências abaixo dos R$ 95,00 na paridade com o arroz paraguaio para fevereiro, valor que preocupa frente aos altos custos de produção da lavoura. Viria o Paraguai para a faixa de preços de US$ 16,00 por saca, somando algo como US$ 320-325 na fronteira.
O câmbio, com o fortalecimento do dólar pós eleição de Donald Trump, tem compensado em parte, mas ainda não põe o Brasil de volta ao mercado exportador. Somos pouco competitivos frente aos Estados Unidos.
Na última semana, surgiu na line-up do Porto de Rio Grande um embarque de 20 mil toneladas de arroz branco para o México, porém, segundo agentes de mercado e operadores do setor, não se trata de uma “venda nova”, mas apenas o redirecionamento de um produto asiático que já havia sido internalizado por um “navio extra”, vindo da Tailândia. A operação seria uma triangulação para atender a um contrato com o México e, ao mesmo tempo, eliminar um produto que estava pouco cotado no Brasil.
MERCADO INTERNO
Outro fator que ajudou a travar o mercado interno, afora a expectativa de uma grande safra provocada pelo aumento da área semeada no Brasil e no Mercosul, é a retração no consumo nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. O consumidor reduz a demanda nas férias, comprovadamente, e as indústrias recuam nos volumes demandados já a partir de novembro. A verdade é que a indústria andou cortando na carne boa parte do ano, pois muitas delas não conseguiram remunerar a contento o arroz beneficiado sobre o valor de compra da matéria-prima. Estreitou as margens e, segundo consta, algumas até operaram no vermelho ou “comendo” os estoques neste fim de ano para fazer média, assegurar alguma competitividade e garantir suas posições no mercado. O produtor, por sua parte, foi fundamental para segurar, até agora, o patamar das cotações, reduzindo a oferta e conduzindo uma gestão eficaz nos negócios.
COTAÇÕES
O Indicador Cepea/Irga-RS de Preços do Arroz em Casca no Rio Grande do Sul, índica, 58×10, em sacas de 50 quilos, encerrou nesta terça-feira cotado a R$ 111,99, ou US$ 19,42. Acumula, em 12 dias, uma desvalorização de R$ 5,74%, ou R$ 6,43 ou, ainda, US$ 0,75. No ano a desvalorização é de 21,8%, baixando dos US$ 25,89 para US$ 20,24 pela média mensal (que em novembro é computada em 11 dias. Considerando a média mensal de R$ 116,49 de referência em novembro e R$ 127,24 em 1º de janeiro, há uma retração de 8,4% nos valores do arroz em reais, ou R$ 10,75 por saca.
Apenas nesta terça-feira, o preço médio do arroz no Rio Grande do Sul caiu 3,42%, ou R$ 4,97.
Na Depressão Central os preços médios, no mercado spot, estão entre R$ 108,00 e R$ 110,00, valores também praticados na Campanha. A Fronteira Oeste tem cotações médias de R$ 112,00/R$ 114,00 por saca, enquanto se vê R$ 118,00 em Pelotas e até R$ 119,00 em Camaquã. A tendência é de que os preços sigam enfraquecendo, a menos que surja uma notícia de impacto no horizonte, o que por enquanto não temos.