Com baixa liquidez na semana, mercado do arroz tem preços estáveis
(Por Cleiton Evandro, AgroDados/Planeta Arroz) Vencida a etapa das ameaças de leilões e importações governamentais, que forçaram uma queda de 5,29% no Indicador de Preços do Arroz em Casca Cepea/Irga-RS em junho, o setor arrozeiro gaúcho navega em relativa calma e estabilidade de cotações, com fundamentos de mercado prevalecendo no estabelecimento do padrão de preços. E este, entre outros fatores, favoreceu um movimento de recuperação gradual das cotações em julho, que já acumula apreciação de 2,29%, alcançando nesta quarta-feira, 24/7, o valor de R$ 115,90, ou US$ 20,49.
Em 24 de junho, um mês atrás, a cotação média era de R$ 112,81, ou US$ 20,72. Em dólar, os preços caíram 23 centavos, mas muito em função da variação cambial. Em reais, houve uma alta de R$ 3,07. Depois de uma semana mais aquecida, entre os dias 15 e 19, a demanda arrefeceu desde a última segunda-feira, fazendo com que a liquidez fosse reduzida e os preços andassem praticamente de lado. A demanda por exportação, que vinha dando sustentação aos negócios, também diminuiu, uma vez que as tradings já estão compradas para os barcos previstos para saírem em agosto e início de setembro.
Abastecido para a entrada de agosto e esperando o reflexo das férias escolares de inverno nas compras populares, o varejo comprou apenas o necessário. A indústria, com o varejo recuando esta semana e com “porto” também em movimentação letárgica, resolveu colocar o pé no freio e desde a quarta-feira muitas empresas estão fora de mercado para novas compras. O vendedor, por sua vez, segue pedindo R$ 1,00 aa mais por saca frente às cotações médias de tradings e indústrias. Apesar das perdas graves em parte dos agricultores, ainda há arrozeiros capitalizados e que acreditam numa valorização ainda maior para o arroz, ao menos no curto prazo.
Em médio prazo o cenário não é assim tão animador. A previsão de uma grande safra nos Estados Unidos e da volta da Índia ao mercado internacional devem refletir em redução nos preços globais e dificuldades de exportação para o Brasil, que hoje opera entre US$ 40,00 a R$ 50,00 acima, por tonelada, do que os norte-americanos, por exemplo. Além disso, o Brasil está importando mais e exportando menos nesta temporada, o que faz prever um estoque de passagem maior.
Outro fator que vai pesar sobre as cotações a partir de setembro é a projeção inicial das consultorias de um aumento substancial da área no país, em especial no Rio Grande do Sul, e no Mercosul. Os números do Irga e da Emater-RS só devem ser divulgados na Expointer, no final do mês de agosto, mas várias consultorias já trabalham com a expectativa de aumento de área acima de 6%, o que elevaria a área gaúcha para 955 mil hectares. Como as barragens estão cheias e a previsão é de La Niña, que costuma trazer grande luminosidade e calor, a produtividade média também deve aumentar.
Somando o estoque de passagem e a produção maior, dificuldades de exportar pela concorrência dos EUA e do próprio Mercosul, um teto de comercialização menor que o atual no mercado global pela volta da oferta indiana, temos um perfil de mercado desafiador para a cadeia produtiva. Por enquanto, o dólar está ajudando, mas se a oferta realmente aumentar nestes patamares, 2024/25 será uma temporada de alto risco. Ressalva-se um episódio mundial, tipo pandemia, que gere compras de pânico e efeito altista, ou uma intervenção governamental, que seria baixista. Apenas pelos fundamentos hoje presentes ao cenário, o desafio está posto já para o próximo semestre do ano safra. O câmbio e uma recuperação importante na área de soja cultivada em terras baixas, podem ajudar no sentido de evitar uma sobreoferta de arroz na próxima temporada, bem como uma eventual demanda internacional que atualmente não está no radar, ainda que improvável.
Nestas segunda e terça, o Irga e a UFSM vão ouvir lideranças, técnicos e produtores da Região Central, a mais atingida pelas inundações de abril/maio. As duas últimas semanas, com tempo mais firme graças à transição de El Niño para neutro, garantiu que produtores da Zona Sul, Campanha e Fronteira Oeste entrassem nas lavouras para prepararem o terreno para a nova semeadura. A “janela climática” permitirá que muitos agricultores consigam recuperar ao menos parte do tempo perdido que poderia acarretar atraso na semeadura.
Apesar deste cenário futuro, que não é definitivo, mas uma projeção com base nos dados atualmente disponíveis, o momento é bom para o arroz e os preços remuneradores.
2 Comentários
Muito boa a tua análise Claiton. Mas temo que um La Nina mais forte cause muitas perdas por falta de água. Apesar de as barragens e rios estarem cheios, em anos de seca a evaporação é muito alta! Lá em Itaqui na fronteira passamos pela mesma situação desse ano. As enchentes começaram em 1983 e cessaram em junho de 1984. No verão de 1985 vivenciamos uma das piores secas da história daquela região e as perdas foram imensas! Por isso recomendo pro produtor que abra bem os olhos antes de pensar em aumentar a área! Por outro lado, penso que o endividamento bancário é alto e muita gente vai sair da atividade nesse ano, além do fato de que os juros dos empréstimos seguem altíssimos! Outro fator que pesa e o produtor já sabe disso é que aumentando area cultivada os preços cairão para os R$ 80/90, o que torna a atividade não lucrativa. Ninguém quer mais ter que vender arroz prá Conab! Abraço.
É só falar em Lâ nina e associam a boa safra como se todos tivessem barragens e cheias, muitas arrombaram, e não sei se chega a 5 % aqueles q tenham barragens. Outra o El nino não encerrou o ciclo prático, evacuem áreas do Rio Paraguai a partir de setembro, sem falar do Jacuí tbm. Já aconteceu em a anos anteriores de El nino em fim de ciclo.