Com mínima liquidez e retração nos negócios, arroz estabiliza preços no alto

 Com mínima liquidez e retração nos negócios, arroz estabiliza preços no alto

(Por Cleiton Evandro dos Santos, AgroDados/Planeta Arroz) Acima do que se esperava, abaixo do que o agricultor – e até a indústria – desejam, os preços do arroz estabilizaram nesta reta final do ano de 2022 em um patamar que pode ser considerado, no mínimo, satisfatório. O Indicador de preços do arroz em casca no Rio Grande do Sul Cepea/Irga marcou R$ 90,21 (US$ 17,32 pelo câmbio do dia) nesta terça-feira, dia 20, para a saca de 50 quilos (58×10), à vista. Até o dia 10 de janeiro, pelo menos, a tendência é de que o mercado se mantenha morno, com pouca movimentação. Férias coletivas e a baixa demanda da época interferem nas negociações. Tradings estão mais voltadas a buscar produto mais barato no Mercosul.

Na Campanha e na Região Central, o valor no mercado livre fica entre R$ 86,00 e R$ 88,00, na Fronteira Oeste entre R$ 90,00 e R$ 92,00, e na Zona Sul e nas Planícies, entre R$ 92,00 e R$ 95,00. No porto, entre R$ 96,00 e R$ 98,00, mas com negociações muito restritas. Há negócios reportados na Zona Sul, mas em especial no Litoral Norte, a R$ 100,00 por saca, para pagamento em janeiro e grãos de variedades nobres, acima de 64 de inteiros.

O movimento de alta que dominou o mercado brasileiro entre setembro e dezembro, com maior força em outubro e novembro, para o arroz em casca, foi impulsionado pelas exportações. Com câmbio favorável, preços mais competitivos do que os Estados Unidos – que teve uma safra menor – e qualidade de produto, o Brasil contou mais uma vez com o seu senso de oportunidade. A inflação global se elevou e os países da América Latina recorreram ao arroz brasileiro para se abastecerem. Destaque para o México, que importou quase 500 mil toneladas de arroz em casca do Brasil, isentas de tarifas de importação, em 2022. Esse mercado era dos Estados Unidos. O Mercosul também foi beneficiado pela abertura de mercados.

Essa alta competitividade, que garantiu embarques até o início de fevereiro para terceiros países, no entanto, foi se deteriorando e os valores internos estão alcançando o limite da viabilidade, em função da paridade com o mercado internacional. A balança comercial, com uma exportação forte, será superavitária e chegará a um recorde em 2022. Logo, o estoque de passagem será menor no Brasil e nos países vizinhos. E isso vem sendo precificado passo a passo. Ao mesmo tempo, sentindo a alta, o agricultor decidiu segurar a oferta em busca de maior valorização. E o mercado ficou sem liquidez.

A previsão de uma safra inferior a 7,1 milhão de toneladas de arroz no Rio Grande do Sul, as chuvas torrenciais que estão afetando a produção do Norte Catarinense, a estiagem que já afeta a Fronteira Oeste e a Argentina e a redução de área em todo o Brasil e o Mercosul, também impactam o interesse de venda do agricultor e a perspectiva de uma relação de oferta e demanda muito ajustada em 2023.

Os preços aos consumidores seguem sendo reajustados. A elevação começou em agosto e a média do pacote de 5 quilos de arroz branco, já ultrapassa os R$ 22,00. São quatro reais frente aos preços pós-colheita de 2022. Então, há margem para o varejo atender as planilhas de repasse de custos da indústria. Pior para os pequenos empresários que vão precisar rodar estoques e atender os clientes. Estes terão que recorrer aos fornecedores de matéria-prima pagando o que o agricultor cobrar.

Em geral, as grandes empresas estão abastecidas até março. E as primeiras colheitadeiras do Paraguai entram em campo ainda nesta semana. As primeiras cargas de arroz paraguaio devem chegar ao Brasil logo após a virada do ano.

Isso deve estabelecer novas referências de preços no Brasil Central.

De maneira geral, acredita-se que os preços, ao longo de 2023, devem ter médias mais elevadas e trarão condições mais sustentáveis, economicamente, aos produtores. Apesar da forte alta dos custos. Ao consumidor, porém, os preços tendem a sofrer uma leve queda no primeiro semestre, mas exceto se os EUA ampliarem em muito a sua área no inverno – a colheita lá é em agosto/setembro – a tendência é de que os preços no Brasil se mantenham altos. Mais uma vez, espera-se que o primeiro semestre seja importador e o segundo semestre – a depender da oferta norte-americana e do câmbio – mais exportador. O cenário internacional é altista, mas o mercado das Américas cada vez mais tem vida própria e impactos localizados.

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