Como será 2006?

 Como será 2006?

Em meio à ressaca de 2005 o setor busca novo rumo.

O mercado de arroz brasileiro ainda vive a ressaca de uma supersafra de 13,22 milhões de toneladas, reforçada por estoque de 1,5 milhão de toneladas, e a internação de 706 mil toneladas do Mercosul devastou a comercialização em 2005. Em meio a esta difícil situação, a lavoura nacional junta os pedaços e começa a questionar quais as tendências para 2006. Segundo trabalho desenvolvido pelos técnicos da equipe de política setorial do Irga, Victor Hugo Kayser e Camilo Oliveira, as expectativas para a comercialização da safra 2005/2006 são melhores do que o quadro observado no final de 2005, porém ainda aquém das expectativas dos produtores. Mesmo com os mecanismos já anunciados.

Porém duas variáveis podem alterar esta tendência de recuperação de preços no segundo semestre de 2006 e ambas estão ligadas às decisões de governo. A primeira se refere à taxa de câmbio. Se o dólar permanecer nos patamares do final de fevereiro (R$ 2,20/US$), as importações tendem a ganhar força e as exportações perderem espaço. No caso do dólar obter valorização frente ao real, acima de R$ 2,40/US$, a tendência é de manutenção das exportações e importações, 400 mil toneladas e 750 mil toneladas respectivamente.

A outra variável diz respeito às negociações e aos instrumentos disponibilizados para os produtores na comercialização da safra. Se no início da colheita o Governo disponibilizar recursos para sustentar os preços em torno do preço mínimo (R$ 22,00 o saco de 50 quilos), aliviando a pressão de oferta, e se definir claramente o valor de liberação de seus estoques, a tendência é que o mercado progressivamente caminhe para valores próximos a paridade de importação de terceiros mercados (hoje ao redor de R$ 24,00 e R$ 25,00) e do preço de liberação dos estoques (PLE). O certo é que no decorrer do ano, câmbio – paridade de importação de terceiros mercados – e o estoque público de arroz nas mãos do Governo Federal (em ano eleitoral) serão fatores de pressão sobre o mercado interno.

 

Toda a expectativa para o segundo semestre

O analista da Consultoria Safras & Mercado, Tiago Sarmento Barata, afirma que apesar da redução da safra brasileira de arroz neste ano, todas as evidências indicam preços baixos ao menos até o início do segundo semestre. Claro, tudo ainda vai depender de alguns fatores, como a disponibilidade de mecanismos de comercialização de safra e sustentação de preços, relação cambial e, principalmente, da forma e momento em que o elevado volume de arroz estocado na mão do Governo Federal será colocado no mercado. “A expectativa é de que a partir do segundo semestre os preços do arroz no mercado doméstico sejam mais elevados, quando o mercado começar a sentir o impacto da redução desta safra”, frisou.

O também analista da Safras, Aldo Lobo, lembra que 2005 esteve entre os piores para o mercado do arroz, principalmente para os produtores que amargaram muitos prejuízos. Concorda, porém, que para 2006 as expectativas são um pouco melhores. A safra será menor e o Governo Federal assumiu o compromisso de segurar os estoques públicos. “No segundo semestre, passada a pressão da colheita, os preços tendem a se equilibrar pouco acima do mínimo. Nada que vá tirar o produtor do sufoco, mas trará tranqüilidade ao mercado”, acredita. Para Lobo, a reação dos preços ao consumidor em 2006 não será significativa ao ponto de chamar atenção ao Governo para o controle da inflação, ou seja, não haverá necessidade de realizar leilões de arroz dos estoques públicos para controlar os preços.

Para Aldo Lobo, os Estados Unidos continuarão definindo o preço de exportação das Américas, independentemente do que ocorra na Ásia. Como os EUA exportam em sua maioria arroz em casca, não chegaria a ser um grande concorrente do Brasil, que exporta quebrados. Mas o fato de o preço ser balizado pelos Estados Unidos pode complicar e dificultar as exportações do Brasil, principalmente por causa da cotação do dólar, atualmente em torno de R$ 2,25. O boletim Focus, divulgado pelo próprio Banco Central, estimou que o dólar esteja cotado a R$ 2,40 no fim de 2006, ou seja, o câmbio provavelmente vai continuar como empecilho para as exportações. “Os preços na Ásia continuam firmes, cada vez mais próximos dos praticados no ocidente. O problema é que isso praticamente não influencia por aqui, pois como disse, são os EUA que ditam o preço nas Américas. Então, como a tendência do dólar é de se manter em torno de R$ 2,20 e R$ 2,30, e como os preços internos devem reagir por causa da redução da oferta, é bem provável que as exportações brasileiras sejam bem menores em 2006”.

Questão básica
A Safras & Mercado estima uma produção de 11,583 milhões de toneladas na temporada 2005/2006, um volume 11,1% abaixo de 13,026 milhões de toneladas que apontou para a safra anterior.

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