Com prejuízos das tempestades, arrozeiros veem preços andarem de lado
(Por Cepea) Ainda contabilizando as perdas provocadas pelas tempestades da semana passada, os arrozeiros do Sul do Brasil estão vendo as cotações andarem de lado e até esboçarem pequenas reações em alguns rendimentos. As fortes chuvas ocorridas no Rio Grande do Sul na última semana deixaram todo o setor arrozeiro em alerta. Segundo o Cepea, em algumas regiões houve acamamento das plantas, o que pode acarretar em perdas de produtividade nesta fase final de ciclo. Além disso, estruturas de secadores e galpões ficaram comprometidas em determinadas localidades e alguns acessos rodoviários foram dificultados. Diante disso, o ritmo de negócios esteve lento nos últimos dias. Quanto aos preços, ainda que muitos compradores tenham pressionando as cotações do casca, em algumas regiões, os valores chegaram a esboçar reação para determinadas faixas de rendimentos.
Do lado produtor, são poucos os que necessitam “formar caixa” neste momento. Assim, a oferta esteve restrita, também conforme pesquisadores do Cepea. Ontem, terça-feira, 26 de março, a média do Indicador de Preços do Arroz em Casca no Rio Grande do Sul Cepea/Irga-RS (50kg, à vista) alcançou R$ 99,39, em leve recuperação de 0,1%. Em dólar, pela cotação do dia, o arroz bateu na faixa dos US$ 19,94. No Sul Catarinense, os preços médios estão na faixa dos R$ 100,00 por saca.
No mês, as cotações caíram 4,8%, principalmente pela “pressão psicológica” da colheita. Os danos nas lavouras, foram raras aquelas que saíram ilesas de algum problema com granizo, chuva ou acamamento de plantas prontas ou quase prontas para colher, embora pontuais, afetaram o comportamento dos preços. Em várias regiões há arroz que acamou iniciando processo de rebrota. Na Depressão Central, em lavouras que Planeta Arroz teve acesso, os maiores problemas estiveram concentrados nas variedades BRS Pampa e Memby Porá e, além da estrutura da planta, ao manejo de adubação e volume de sementes utilizado.
Mas, outras variedades também deitaram. As cultivares IRGA 424 e 431, também sofreram efeitos do clima, e em várias lavouras há “reboleiras” de arroz acamado. No entanto, são variedades que, segundo os produtores, não foram inteiramente “ao chão”. Vários rizicultores estão iniciando esta semana a tentativa de colher o arroz, mesmo deitado, alterando a posição dos molinetes das plataformas das colheitadeiras, mas as perdas nestes casos costumam ficar entre 30% e 75%. Mesmo com todo o cuidado, o arroz maduro e já afetado pelo “tombo” provocado por vento, chuva e, em alguns casos, granizo, acaba debulhando durante a operação.
O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) formou um Comitê de Crise, para dar o suporte necessário às comunicações de granizo, uma vez que ele garante a cobertura de seguro contra este evento climático. Diversas áreas, em especial a Zona Sul, apresentaram lavouras atingidas por chuva de “pedras” e o recebimento do seguro depende da agilidade na comunicação e nas vistorias dos técnicos. O objetivo do instituto é pagar os seguros do granizo o mais breve possível, ainda dentro do ano de 2024, pois há orçamento e, via CDO, o Governo do Estado tem suplementado o pagamento destes casos com o ressarcimento de pelo menos parte dos custos, no mesmo ano.
Quanto à comercialização, de um lado, o produtor atingido pelas intempéries analisa o prejuízo e estuda formas de amenizá-lo, então não tem nem cabeça para comercializar. De outro, quem tem arroz e poderia realizar alguma venda, fica em compasso de espera, esperando um “repique” de alta.
Mesmo com as chuvas e os danos a colheita prossegue.
O mercado andou lateralmente esta semana, com quase imperceptíveis movimentos de recuperação no geral, mas elevação mais importante em algumas regiões, variedades e rendimentos. A boa notícia é que os preços pararam de cair. Ao menos até a colheita “pegar pressão” novamente e superarmos os 50% a 60% da área colhida, quando a oferta pode se sobressair e gerar novo movimento de queda. É a tendência, é o risco.
Mas, o aspecto importante do atual cenário, e isso é um atenuante, é que em plena safra e com um terço da colheita concluído, seguimos com cotações próximas de R$ 100,00 por 50 quilos em boa parte das regiões, a tendência de que as cotações não retraiam muito e a projeção de uma boa recuperação no segundo semestre. Para isso, será importante que o Brasil aproveite a janela de exportação deste primeiro semestre. No momento, há tradings comprando arroz para atender demandas externas a partir de abril/maio.
O varejo, por sua vez, aceitou melhor as tabelas da indústria e não “chorou” tanto por queda de preços do fardo na semana atual, mais curta por conta do feriadão da Semana Santa. Boa parte dos agentes jogará as decisões de negócios para a próxima semana, quando começa novo mês e se terá um panorama mais claro sobre as perdas.