Controle de larva-vermelha por meio do uso de insumos biológicos

Figura 1. Larva-vermelha (menor) próximo ao lado de um exemplar de uma minhoca comum; planta normal comparada a duas outras plantas com danos às raízes e sintoma clássico de tombamento das plantas sobre a lâmina de água por falta de sustentação.
O sistema de cultivo de arroz por inundação contínua favorece o desenvolvimento de diversos organismos aquáticos, incluindo insetos que interferem negativamente no desenvolvimento das plantas. Dentre eles, destacam-se larvas da família chironomidae, conhecidas como larvas-vermelhas, da espécie chironomus tepperi skuse. Essas larvas são comuns em ambientes com acúmulo de matéria orgânica e baixo oxigênio dissolvido — condições típicas das lavouras de arroz irrigado em seus estágios iniciais.
Embora os adultos (mosquitos) sejam inofensivos, as larvas podem alimentar-se das raízes, reduzindo o suporte das plantas, causando seu tombamento e apodrecimento, com consequente redução do estande (figura 1). Frequentemente, essas larvas são confundidas com minhocas comuns presentes na lavoura de arroz. Casos de prejuízos econômicos associados a chironomus spp. vêm aumentando, especialmente em áreas com cultivo intensivo, com curto intervalo entre safras e acúmulo de palha, o que favorece populações residuais.
Antes um problema exclusivo do sistema pré-germinado, a ocorrência de larvas-vermelhas tem se tornado frequente também no cultivo em linha. A lâmina de irrigação mais profunda é a principal condição que favorece os danos, pois provoca o estiolamento das plantas e o desenvolvimento excessivo da parte aérea em detrimento das raízes, dificultando a recuperação do sistema radicular.
No Brasil, ainda são escassos os estudos sobre chironomus tepperi, sua biologia em campo, níveis de dano e estratégias de manejo. Compreender sua ecologia e os impactos causados é essencial para a adoção de práticas de manejo integrado mais eficazes e sustentáveis. O avanço do mercado de insumos biológicos abre novas perspectivas para o controle de pragas no arroz irrigado, inclusive da larva-vermelha.
Agentes como fungos, bactérias e extratos naturais oferecem alternativas eficazes e menos agressivas ao ambiente, preservando os inimigos naturais e o equilíbrio do ecossistema aquático. Embora ainda iniciais, estudos indicam potencial promissor para seu uso em ambientes alagados.
Com base na hipótese de que produtos biológicos usados para o controle de nematoides poderiam ser eficazes também contra chironomus tepperi, devido aos seus mecanismos de ação amplos — como a produção de metabólitos tóxicos e enzimas hidrolíticas —, foi conduzido um experimento nas safras 2023/24 e 2024/25 na estação regional de pesquisa do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), em Cachoeira do Sul (RS), em área com histórico de infestação.
Os tratamentos foram aplicados via tratamento de sementes e incluíram: testemunha sem tratamento; bacillus subtilis + bacillus licheniformis; bacillus amyloliquefaciens (isolado 1301); consórcio de pseudomonas fluorescens, azospirillum brasilense, bacillus amyloliquefaciens, bacillus velezensis e bacillus thuringiensis; bacillus amyloliquefaciens (isolado 2356); e o padrão químico clorantraniliprole.
Sete dias após a entrada da água, foi realizada aplicação foliar complementar com o produto químico cipermetrina (400 mL/ha) ou com bacillus thuringiensis var. israelensis (VectoBac®). Em ambas as safras, todos os tratamentos apresentaram produtividade de grãos de arroz irrigado superior à testemunha. Os melhores resultados foram obtidos com bacillus amyloliquefaciens, isolado ou em associação, e com a combinação de bacillus subtilis + bacillus licheniformis (tabela 1). O tratamento com clorantraniliprole via sementes também apresentou desempenho satisfatório, porém em nível intermediário.
Em função dos resultados obtidos, recomenda-se o uso de inoculantes à base de bacillus amyloliquefaciens para o controle da larva-vermelha, visto que proporcionam incremento na produtividade do arroz irrigado. A estratégia biológica mostra-se eficaz, sustentável e comparável ao controle químico, podendo ser integrada ao manejo de pragas. Complementarmente, indica-se a aplicação foliar, química ou biológica, entre sete e dez dias após o início da irrigação, visando o controle inicial das larvas e mosquitos, o que contribui para o aumento da produtividade dos grãos.

Mara grohs
Pesquisadora do irga
Coordenadora da estação experimental do arroz na região central


